Já tinha uma semana que ele havia ido embora, mas tudo continuava voltando para ele. Tudo parecia girar em sua órbita. O rei Ronald não morria por nada no mundo; talvez o amor e a vontade de ver o filho fossem o que ainda o mantinham de pé. Era incrível o quanto de amor ele transmitia enquanto falava de Leo. Às vezes, eu descia até as masmorras para ouvi-lo contar algumas histórias de quando Leo era mais novo, as brincadeiras e, principalmente, as coisas que ele aprontava.
Durante esse tempo com Ronald, eu não conseguia ver o pai rude e insensível que Leo sempre reclamava quando ia para o reino das bruxas, lugar esse do qual eu, particularmente, já estava morrendo de saudades.
River e Luci ainda ficavam comigo no meu quarto, discutindo e se batendo sempre que tinham um tempo livre. Mas era uma boa distração para mim. Fazia-me questionar por que amar machuca tanto.
— Tessa, você está me escutando? — Luci estava do meu lado na mesa de jantar, parecia estar discutindo sobre o que faríamos na manhã seguinte na cidade.
— É claro que estou... — respondi, colocando um sorriso meigo no rosto. — Estou morrendo de vontade de comer um daqueles pães da padaria que fica ali, perto da praça. Sabe?
— A dona morreu — gritou River do outro lado da mesa com um pedaço de frango na mão. — A mulher se rebelou e uma das bruxas amaldiçoou ela. Foi uma loucura, a cabeça explodiu rapidinho. Você tinha que ver.
— Vocês têm tanto sangue frio para matar... — disse eu, passando as mãos pelos meus braços. — Chego até a ficar arrepiada.
— Se você quer realizar os desejos de sua mãe e fazer tanto seu povo quanto a si mesma feliz, é bom aprender a ter sangue frio, como a gente — Luci falava como um animal às vezes. Parecia instintivo matar as pessoas: sobrevivência ou morte. Qual a lógica de matar quando o inimigo nem tenta revidar?
— Com licença — disse, me levantando e colocando a cadeira de volta no lugar. — Vou dar uma volta.
— Quer que eu vá com você? — perguntou minha tia na ponta da mesa, lugar onde geralmente minha mãe sentaria, se estivesse presente. Mas, como sempre, desde que chegamos aqui, ela estava ausente.
— Agradeço a oferta, minha tia — respondi com um sorriso no rosto. — Você sabe de minha mãe?
— Eu a vi saindo do castelo há algumas horas — respondeu Luci. Ela estava com uma taça de vinho na mão e deu um longo gole.
— Que pena, queria conversar com ela — menti descaradamente. O que eu mais queria era que ela ficasse fora o bastante para eu ver como Ronald estava.
Me virei e saí da sala.
No caminho para o calabouço, acabei encontrando várias bruxas de guarda, mas nada que me atrapalhasse. Qualquer coisa, eu poderia apenas dizer que era uma ordem de minha mãe ou qualquer outra desculpa que conseguisse pensar no momento.
O calabouço era tão frio e parecia até ser em outro lugar do mundo.
— Como você está, Ronald? — perguntei ao entrar na sua cela. Ele estava cada dia mais acabado, seus machucados cicatrizavam e se abriam novamente por causa dos castigos de minha mãe. Eu queria poder fazer alguma coisa, mas se eu interferisse ali, seria capaz dela até matá-lo como retaliação.
— Minha querida Tessa — ele abriu um sorriso assim que me viu, sua voz rouca devido à sede. Mas a hora de dar água para ele ainda não havia chegado, e se percebessem que ele tinha bebido, seria um problema para ele e talvez para mim. — O que traz você aqui mais um dia?
— Estava me sentindo deslocada lá em cima, as coisas ficaram tão estranhas de repente — respondi com sinceridade. — Queria ficar aqui e conversar um pouco com você enquanto der.
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Sombras do Passado - Livro 1
FantasyPara pôr fim a uma guerra de anos, um tratado foi selado, Leonard e Tessa foram prometidos em casamento para o bem e a paz entre os reinos. Tessa era a princesa das bruxas, a filha da rainha mais amarga e perversa que já existira naquele reino enqu...