Sombras do Passado - Livro 1

Capítulo 18

Uma semana se passou desde que descobri tudo sobre o meu passado e a minha família. Desde então, vivo confinada na minha torre, dentro da biblioteca, passando a maior parte do tempo com Lucien, procurando mais informações sobre meus poderes — provavelmente tudo o que eu precisasse saber sobre magia negra.

Pelo que descobri, a magia negra era a magia das primeiras: sete bruxas e bruxos originais que fundaram nosso país. Seu poder transcendia tudo o que era conhecido, era puro mal e destruição. Essa magia criava monstros a partir de pessoas vivas e conseguia controlar indivíduos como fantoches. Nas mãos erradas, esse poder poderia facilmente aniquilar todo o continente. Graças aos deuses, minha mãe não o possuía, porque, se o tivesse, nem quero imaginar o que faria com este lugar.

Não éramos incomodados em momento algum. Ninguém entrava ou saía do meu quarto, exceto uma criada que me trazia as refeições sempre no mesmo horário. Nessas ocasiões, Lucien se escondia entre as estantes da biblioteca para evitar ser visto. O estranho era que ele sempre conseguia entrar no quarto todos os dias, sem ser notado, mesmo com todas as portas trancadas. Depois do que aconteceu com o rei, minha mãe simplesmente surtou e me prendeu na torre por tempo indeterminado.

Alguns dias atrás, pedi a Lucien que verificasse se Ronald ainda estava vivo, embora eu acreditasse que morrer teria sido melhor para ele naquela situação.

Lucien, humildemente, atendeu ao meu pedido e foi vê-lo. Pelo que me contou, o rei estava em uma condição tão deplorável que ele até cogitou matá-lo ali mesmo. Sem olhos, mãos e língua, Ronald havia sido mutilado. Algumas bruxas cicatrizaram seus ferimentos para impedir que ele sangrasse até a morte e o alimentavam diariamente para mantê-lo vivo. Por algum motivo, Vexa o queria vivo. Ela precisava dele para algo que ainda não sabíamos ao certo, mas, com certeza, não era coisa boa.

— Estou morrendo de fome — reclamou Lucien do outro lado da mesa, deitando a cabeça sobre o livro que lia e me encarando. Pelos deuses, sua semelhança com River era tão grande que até me assustava.

— Daqui a alguns minutos, a criada deve chegar. Espere só mais um pouco — pedi educadamente.

— E por que deveríamos esperar? — disse ele, levantando a cabeça e puxando meu livro das minhas mãos. — Você tem magia negra, a coisa mais forte deste continente até agora. Deveria arrebentar este castelo e tudo o que há nele. Seria um favor que você faria e, além disso, pouparia muitas vidas em uma futura guerra.

— Você está louco, Lucien? Destruir o castelo? — o encarei, sem acreditar no que ele estava propondo. Era inimaginável fazer algo assim. — Primeiro, eu nem sequer sei controlar isso direito. É por isso que estou indo com você encontrar as Banidas. E veja quantas pessoas inocentes estão neste castelo! Criados que nem sabem das coisas que podem acontecer nos próximos meses. Você acha mesmo que isso é o certo?

— Se é certo ou errado, não me interessa. Isso mudaria todo o continente e, acima de tudo, traria paz mais rápido do que podemos sequer imaginar. — Ele estava determinado a me convencer. Seus punhos cerrados sobre a mesa mostravam sua frustração, como se estivesse brigando com alguém.

— Não quero criar uma nova realidade para nós à custa do sangue de inocentes e de pessoas que morreriam sem nem poder escolher de que lado estariam — respondi, deixando clara minha opinião. Realmente, seria mais fácil e rápido fazer como ele sugeria, mas eu não queria me banhar no sangue de inocentes. Isso, jamais.

— E você acha que, em uma guerra, vai saber como distinguir quem é inocente? Muitos serão obrigados a lutar. Muitos morrerão de qualquer jeito — ele rebateu, levantando-se e segurando minha mão sobre a mesa, praticamente implorando com a voz fraca. — Pelos deuses, Tessa, vamos resolver isso aqui. Eu já disse isso há dias, mas você ainda insiste em não fazer. É tão mais rápido e seguro.