Capítulo 14

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 Antes de sairmos, Bea pegou um mapa, o abriu sobre a mesa da sala e começou a repassar o plano, pontuando os pontos estratégicos no mapa — pontos esses onde provavelmente seríamos abordados. Havia três clareiras próximas à cidade, o que dificultava os sequestradores de nos pegarem, então, com toda certeza, seríamos abordados antes de passarmos por elas.

Gael ouvia o plano encostado no batente da porta, enquanto rodopiava uma pequena adaga por entre os dedos. Philipe estava sentado ao meu lado, com o cabelo preso em um coque e uma roupa justa que facilitava o movimento, muito parecida com a que ele me entregou um pouco mais cedo. Sentado ao lado dele, eu conseguia sentir o seu cheiro de recém-saído do banho.

— Você está pronto, Leo? — perguntou Bea, me tirando dos meus pensamentos. — É sua primeira missão oficial.

— Eu treinei por muitos anos enquanto estava estudando com meu primo — expliquei. — Estou acostumado a participar de missões, mesmo que as que eu tenha participado fossem mais treinamento do que ações de vida ou morte.

— Não tem problema ficar nervoso — falou Gael da porta. — Nossas vidas estão em jogo, muita coisa está em jogo, na verdade. Só não deixe que isso tire o seu foco do objetivo, que é salvar os cativos.

— Fique perto de Gael — instruiu Bea. — No pior dos casos, ele pode te proteger.

— Não sou tão indefeso assim, vocês sabem — insisti.

— Você pode saber como lutar contra um humano ou alguns, mas tudo muda quando há a possibilidade de você lutar contra um guerreiro de centenas de anos — avisou Philipe, se levantando e indo em direção à porta. Do lado de fora, o sol já estava quase posto, sinalizando nossa hora de partir. — Lute e dê tudo de si como se a sua vida dependesse disso, porque no fim ela realmente depende.

Gael abriu um feixe de luz e jogou a faca por ele, fazendo-a desaparecer. Eu me levantei e fui em direção à parte exterior. Estava na hora de sairmos. Quando saí, fui atingido por uma brisa calma com cheiro de eucalipto. Por um momento, fechei os olhos e me concentrei ao redor. Sentia o poder borbulhando dentro de mim, como se eu tivesse um buraco na barriga e ele ansiasse por algo, explodir. Esperava que, no momento certo, esse poder não me deixasse na mão.

— Vamos — disse Bea, me dando um tapinha nos ombros e voando em direção ao céu noturno, já coberto de estrelas.

Arqueei as asas e, com um leve bater delas, alcei voo. Gael e Philipe já estavam lá em cima à nossa espera.

Voamos em silêncio por alguns minutos, com Gael guiando o caminho, seguido por mim e Bea, enquanto Philipe cuidava da nossa retaguarda.

— O que está acontecendo na Crepuscular para terem tantos anjos se revoltando? — perguntei a Bea, ao meu lado.

— Não são tantos assim, pelo que sei, mas o motivo principal é que a Crepuscular, há alguns anos, estava endividada após a morte do seu líder. As duas famílias mais poderosas estavam lutando pela sucessão do comando, e tudo começou a desandar quando o filho mais novo da família Ward foi raptado e dado como morto. — Ela deu um longo suspiro. — A população se revoltou e acusou, mesmo sem provas, o regente da família Sallow, então a população se dividiu.

"Para apaziguar a situação, Anansi e Valir tiveram que intervir, e depois de muitas reuniões e conversas, propostas e discussões, o regente da família Sallow foi nomeado o novo líder da corte. Os apoiadores, não contentes, da família Ward planejaram motins e assassinaram pessoas inocentes. Então, como forma de conter a guerra civil que parecia se formar, George Sallow, o líder, caçou os apoiadores da família Ward, prendeu alguns, outros reagiram e foram mortos, e muitos deles fugiram para cidades mais afastadas, colônias escondidas e sitiaram cidades menores, como aconteceu com essa à qual estamos a caminho."

Sombras do Passado - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora