Capítulo 14

2 0 0
                                    


 — Não se preocupe, tenho certeza que serão só alguns dias — me consolava Valir, dando pequenas batidinhas nas minhas costas enquanto se despedia de mim

— Pouco me interessa o tempo, eu só não entendo o motivo de irmos para tão longe só para treinar — Gael tomou a bolsa das minhas mãos e jogou por um daqueles feixes de luz que ele conseguia invocar eu não fazia ideia de como. Não havíamos trocado nenhuma palavras desde mais cedo

— A floresta crescente é onde tem mais fluxo de água por aqui, como seu poder é basicamente ligado a ela por pior que possa parecer é a melhor solução — começou a explicar Valir enquanto ajeitava os óculos que eu nunca o vira usando até agora — Você vai poder treinar do seu jeito e nesse meio tempo e ainda vai poder ajudar Gael?

— Uau — disse revirando os olhos — Vai ser incrível

— Não faça essa cara — disse Bea dando um bom tapa na minha nuca que estava exposta graças ao coque que tinha feito no meu cabelo a minutos atrás — Pensa pelo lado positivo, você pelo menos não vai mais queimar a cara de ninguém?

Ela sorriu e eu senti apenas vontade de sumir por um momento

— Pare com isso Bea — pediu Philipe com Marcus em seus ombros — Ele já pediu desculpas, sei que não foi a intenção dele e que ele se arrependeu, então não tem mais motivo para criarmos desavenças

A sala já estava ficando pequena para tantas pessoa se juntando ali, ainda mais com aquele armário chamado Gael que nos encarava com a cara entediada e preguiçosa escorado na porta

— Até mais Leo — se despediu Marcus com o rosto triste, nos conhecemos a uns poucos dias mas ele parecia já estar bastante apegado a mim, diferente de Bea que aparentava estar me odiando por conta do que fiz à Philipe e se divertindo bastante com toda aquela situação

— Até mais pequeno — passei as mãos por seus cabelos macios e ele fechou os olhos como um cachorro ao receber carinho — Vou sentir sua falta

— Está na hora de ir — resmungou Gael se desencostando da porta e saindo para o lado de fora, nem me dei ao trabalho de contradizê-lo, apenas o segui

No lado de fora Gael esticou suas asas e saiu primeiro. Antes de ir eu olhei uma ultima vez para a casa e Bea bateu a porta na minha cara

— Sem educação — gritei para ela

— Some daqui logo imbecil — respondeu ela do lado de dentro

Olhei para cima e vi Gael me esperando a alguns metros acima, ainda sem paciência, parecia que a qualquer momento ele iria me esmurrar até a morte. O vento batia no seu rosto e fazia seu cabelo ondular, a lua refletia o brilho em seus olhos que me observavam atentamente, seria até uma visão linda se ele não estivesse com aquela cara fechada e preguiçosa de sempre

Voei até ele e seguimos em direção ao norte, para a Corte Solar, onde eu tinha lutado contra um dragão. O caminho estava relativamente tranquilo, havia comboios e mais comboios na estrada carregando os alimentos de uma cidade para outra. Por algum motivo eles preferiam transportar as coisas em caminhões do que pelo ar, o que eu acho que seria muito mais rápido, porém nunca tive oportunidade de perguntar a ninguém o motivo.

Ao longe a Corte Lunar sumia mais e mais a cada bater de asas, suas luzes se apagavam e por algum motivo eu me sentia cada vez mais sozinho, apesar de eu não sentir que pertenço à esse lugar, eu me afeiçoei a viver com Valir e aos outros, passar noites em claro com Philipe na biblioteca o ajudando nas pesquisas, ajudar Marco com os estudos e conversar sobre a vida no continente com Bea. Era bom ficar mesmo que por pouco tempo sem ter o peso de me preocupar em treinar para poder voltar a minha antiga vida, se é que eu ainda tinha uma vida para voltar, se o que meu pai disse for realmente verdade o reino do meu pai se fora a dias e eu não pude fazer nada para evitar, não sabia se ele ainda estava vivo, se Lucian tinha sobrevivido, o que eu acho que sim mesmo ele sendo um idiota na maior parte do tempo.

Sombras do Passado - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora