Simples

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O céu estava escuro, já eram quase dez da noite, o frio era típico da estação do ano que estava por vir assim como a meteorologia havia previsto.

Nada disso importava na verdade, nada mesmo.

As mãos estavam geladas e o celular de Doyoung estava desligado evitando as ligações de pessoas que provavelmente estavam preocupadas, não era por mal, ele só queria se sentir sozinho, apenas conseguia olhar a estrada e dirigir ouvindo qualquer música que tocasse em seu rádio, quase que em modo automático se sentindo letárgico.

Ainda pensava em Taeyong esse tempo todo, era impossível evitar, não conseguia parar nem por um minuto, como uma obsessão.

Ficar remoendo fatos fazia parte de sua natureza então pensava se devia mesmo ter agido daquela forma, Doyoung nunca foi assim, ele não tinha esse tipo de reação, se sentia até culpado por tudo.

Depois de tanto tempo as evitando, as lágrimas começaram a embaçar sua visão e ele culpava a música melódica e triste que tocava baixo quebrando o silêncio da viagem. Tentou focar a visão na estrada e ignorar a dor que de repente o rasgava o peito, que acabava com sua mente. Esfregou o nariz enquanto segurava um soluço alto que escapou de sua garganta, sempre soube que era um grande bebê chorão, mas nunca, nem mesmo em outros relacionamentos, havia chorado dessa forma por um término.

Doyoung se odiava nesse momento.

— Que droga! — Doyoung disse apertando o volante do carro e pensando se valia a pena acelerar.

Um soluço atrás do outro, lágrimas já se acumulavam até nas lentes do óculos e provavelmente seu rosto já estava vermelho, não podia chegar assim em casa, sua mãe o perguntaria coisas que ele não queria responder nada.

Doyoung olhou para sua mochila no banco do passageiro, lugar onde Taeyong devia estar, rindo, falando coisas sem sentido, ou então apenas dormindo pacificamente, se ele estivesse ali Doyoung seguraria sua mão e diria o quanto ele era especial em sua vida.

Uma buzina alta o assustou que por reflexo olhou para a estrada a tempo de ver uma luz forte do que parecia ser um caminhão vindo em sua direção. Sentiu um choque repentino pelo susto e com um movimento rápido pela adrenalina da sobrevivência ele virou o volante e saiu do caminho do outro veículo.

Seu coração estava a mil, a mente turva faziam ele se sentir tonto, sua respiração descompassada apenas piorava, era melhor se acalmar ou o pior aconteceria.

Doyoung parou o carro no acostamento e desligou o rádio, então deitou o rosto sobre os braços debruçados no volante e enfim deixou tudo se soltar, não existia mais ódio, nem egoísmo ou orgulho.

Não sabia quanto tempo ficou daquele jeito, apenas chorando e sentindo o pior do término, tudo o que não pode demonstrar antes, tudo o que escondeu. Mas de repente, como um estalo de quem finalmente sai do sentimento inerte de incapacidade, ele apenas queria ver Taeyong, queria saber se estava tudo bem, sem Taeyong ele já não se sentia o mesmo, era como se faltasse algo, o que era irônico visto que há alguns meses ele acreditava que o outro era uma peça solta em sua vida. Agora ele entendia que não devia ter tentado empurrar Taeyong para longe de sua vida.

Ou será que estava se tornando dependente demais?

O fato é que ele havia experimentado como era estar e conviver com Taeyong de verdade e havia ficado viciado, então a separação foi brusca demais.

Faziam dias desde que Taeyong havia voltado para sua cidade natal, e toda noite sem vê-lo era estranho, não era como quando ele apenas ia ficar no dormitório de Taeil, porque agora Doyoung sabia que era permanente mesmo que seu cheiro floral ainda estivesse naquele quarto e causasse coceira em seu nariz, as suas roupas, ursos de pelúcia e todas as outras coisas não estavam mais, nem mesmo as tintas espalhadas pela casa, então era questão de tempo até qualquer vestígio de sua presença desaparecer por completo, era esquisito.

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