Distante

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Doyoung encarava o teto branco de seu quarto fixamente mesmo com a dificuldade pela falta de luz e sua visão ruim, havia apenas uma fresta da cortina que havia sido esquecida aberta que deixava a luz da cidade invadir o cômodo. Era quase uma da manhã, estava tão frio que ele podia sentir que seus pés estavam congelados, e se não fosse ruim o suficiente, ele teria de levantar bem cedo no dia seguinte já que tinha aulas e depois seu novo trabalho, pelo menos os feriados estavam se aproximando.

Às vezes as coisas eram demais, eram repetitivas e faziam os sentimentos borbulharem quando as memórias se misturavam às emoções que surgiam em sua mente, Doyoung nunca passou por tanto conflito emocional e em alguns momentos esteve quase sempre prestes a jogar tudo pro ar, já que nunca foi alguém com paciência de qualquer forma.

De repente, mais uma vez ele ouviu uma risada alta, esquisita e completamente aleatória e como reação, em fúria se sentou na cama.

— Da pra você parar de rir disso de novo? Já faz um mês desde que isso aconteceu!

Taeyong escondeu o rosto embaixo da coberta deixando de fora apenas os enormes olhos que agora brilhavam mais do que nunca, ele estava escondendo o sorriso, irritar Doyoung sempre foi algo crucial em sua relação e algo que ele jamais perderia.

— Eu sempre lembro de você pegando a passagem de avião, amassando, fazendo uma bolinha e jogando na minha cabeça antes de começar a gritar comigo, um completo doido e eu um coitado abalado emocionalmente, Doyoung você é muito mau comigo — Taeyong repetiu a história do reencontro dramatizando assim como fazia em momentos repentinos e Doyoung ameaçou o chutar para fora da cama, apenas arrancando mais risos de Taeyong que se divertia com a expressão indignada do namorado — você achou que eu ia mesmo embora, nem percebeu que estávamos numa estação de trem, e olha que você geralmente é bem esperto.

— Eu percebi, mas achei que... Ah, quer saber? Para de rir disso, não tem graça, eu estava sofrendo.

Doyoung disse zangado se deitando novamente, o assunto ainda era sensível já que não estava acostumado a seu próprio lado sentimental aflorado, cada dia mais tinha medo de ter criado uma espécie de dependência emocional, mas preferia pensar que não.

— Eu estava indo atrás de você, já falei mil vezes — Taeyong falou pela décima vez desde que voltou usando novamente seu tom de voz mais doce e manhoso que podia, apenas para ver Doyoung derreter aos poucos.

— Eu sei — Doyoung disse suspirando e não contendo um sorriso.

— Desculpa, vez e outra eu relembro pra dar uma risadinha.

— Nunca mais te chamo pra dormir aqui — Doyoung ameaçou, Taeyong e enfim se virou pra ele.

— Você só me chamou porque está com frio seu idiota, você mesmo disse — Taeyong falou indignado.

Mesmo vivendo sob mesmo teto, o casal sabia que precisavam ter um espaço pessoal para que as coisas não se tornassem sufocantes, pelo menos por enquanto. Era importante ter privacidade e Doyoung sabia que Taeyong odiava que o vissem chorar, e ele fazia isso frequentemente nos últimos tempos, e Taeyong sabia que às vezes Doyoung gostava de se isolar e organizar seus pensamentos e principalmente, amava o silêncio.

— Óbvio, qual outra utilidade você teria? — Doyoung provocou e levou um beliscão no braço — ai!

— É pra você aprender a ficar de boca fechada — Taeyong disse abraçando Doyoung apertado e em seguida fechando os olhos apreciando o silêncio e o conforto de sua nova vida — quando vamos ver sua mãe de novo?

Depois daquele fatídico encontro mal planejado na estação, Taeyong explicou que havia literalmente fugido dos planos do pai, que queria que ele fosse estudar em outro país, e havia deixado tudo para trás, que estava apenas seguindo o que ele queria de verdade, que nesse caso era especificamente encontrar Doyoung naquele momento em que se sentia perdido, por isso ele estava ali tentando encontrar o caminho para a casa da família Kim.

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