٠ Capítulo dezoito ٠

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  "nós podemos chamar esse lugar de nossa casa, a terra em que nossas raízes podem crescer. mesmo que a tempestade nos puxe e empurre, nós iremos chamar esse lugar de nossa casa."
 ~*~
 
 - Não precisava ter - prensou os lábios, observando como Noah se virava para conseguir um pouco de café puro. Por mais que os dois tivessem na mesma cama por uma noite inteira, não achava que ele tivesse grudado os olhos em algum momento. - Noah, eles estavam ali por você. Eles acordaram e fizeram todo o café da manhã pensando em você. Mabelle estava contando os minutos, embrulhando seu pre-
 
 - Josh. - Noah cortou, um pouco tenso, levando dois dos dedos para massagear as têmporas. Apenas o olhou, deixando a xícara sobre a mesa. - Não me sinto bem agora.
 
 - Mas você - tentou dizer, seu corpo inquieto na tentativa de formular o que queria e como queria. Ele não precisou pensar muito para chegar lá, no ponto, porque de repente tudo era sobre isso e ele se sentia enjoado. - Olha, se isso é sobre Bea... – Noah engole o líquido escuro e quente da xícara. Um gole, dois goles; seu corpo não está mais posicionado como antes. Os braços se enrolam nas costelas, encosta no balcão, pernas cruzadas. - É. É, sim, sobre ela, não é? Por isso você parece...
 
 - Non, não é.
 
 - ...tão estressado. - Josh o fitou, os ombros caindo colado ao suspiro que deslizou pelos lábios. - Nô.
 
 - Eu - o francês fez seu caminho para fora da cozinha, passando a centímetros do ombro de Josh. - só não quero falar sobre isso. Não agora, okay? Depois. Depois nós podemos - e ele já estava fora.
 
 ~*~
 
 Beatrice ligou mais vezes num intervalo de horas. Em todas elas, Noah parecia um pouco pior.
 
 Josh conseguiu entender.
 
 ~*~
 
 O natal acaba não sendo o que Josh imaginou que seria, e ele não tem certeza do que imaginou, - um pouco de paz, sorrisos preguiçosos de seus pequenos pela manhã em que abririam presentes e também um pouco de bagunça na cozinha, quem sabe - mas certamente não pensou em Beatrice. Beatrice de volta, Beatrice ligando a cada duas horas, Beatrice, Beatrice. Ele não podia deixar de ouvir esse nome em sua mente durante esse tempo.
 
 No momento, estava preparando uma torta de maçã para o forno e Henri decidiu que seria uma boa ideia dar assistência, porque Mab ainda dormia e Genevieve acabou sendo escalada por Wendy para esvaziar a garagem entupida com caixas de roupas para doação.
 
 Então, por ora, era só ele e Henri.
 
 Eles trabalhavam até bem juntos, porque Henri era cuidadoso com as coisas que tocava e Josh não podia pedir por um assistente melhor que ele. Ele até deu dicas boas de como o mel poderia ficar bom e o obrigou a usar um gorro natalino bem mais extravagante que a árvore de natal.
 
 - Josh -, chamou o menino. Havia farinha de trigo na ponta do nariz e nos fios da franja, quando Josh lhe deu uma atenção imediata. - Eu estava pensando. - a voz era mais baixa, quase tímida. Um pouco de tempo se passou até que ele voltasse a falar, mas Josh apenas não o pressionou. - Eu... - Havia algo de diferente sobre sua expressão, mas ele não entendia totalmente. Era meio doloroso.
 
 - Aconteceu alguma coisa? - cuidou em não parecer alarmado para, então, não assusta-lo. Henri piscou forte, quietamente, e umas das mãos estavam na barra do suéter amarelo berrante que sua mãe conseguiu achar no meio de suas roupas de quando ainda era uma criança. - Talvez-
 
 - Às vezes eu - ele corta.
 
 Josh assente, mesmo que ele nem esteja olhando propriamente com toda aquela hesitação e, sabe, a única coisa que Josh espera é que ele se sinta confortável dizendo o que quer que ele tenha a dizer.
 
 - ...sinto falta da vovó - ele disse e, de repente, o coração de Josh foi amassado. Não haviam palavras boas o bastante para a maneira que a voz do menino quebrou no meio da frase, não mesmo. Mas ele não acabou. - E eu gosto daqui. Nós temos uma casa legal e eu gosto da escola agora, sabe? Da tia Taylor, do teatro, da academia. Só que, mama, às vezes eu realmente queria que ela ainda estivesse aqui.
 
 Àquela altura, Josh já estava o segurando pelos ombros menores, o rosto do menino pressionado contra seu abdômen inchado. Henri não estava chorando, mas sua voz fraca e confissão fizeram ele lacrimejar.
 
 - Ela iria gostar de você -, ele disse docemente, então Josh precisou secar os olhos. - Genevieve não gosta de falar sobre isso. Ela parece mais forte que eu, o tempo todo.
 
 - Talvez - ele bagunçou os cabelos castanhos, espalhando farinha por todo lugar. Não importava. - Amor, eu não acho que você seja menos forte por se sentir assim. Talvez Vie não goste de falar porque sente o mesmo que você. Talvez ela tenha vergonha e o sentimento não faça ela se sentir bem, entende? - Henri nem pisca, assentindo. - Mas, olha, sentir, qualquer coisa, não te faz fraco. Não sinta culpa por sentir falta de alguém tão importante pra você. E também não guarde isso, ok? Você pode falar comigo.
 
 - Ok.
 
 - Sempre que quiser.
 
 Henri pisca, balançando a cabeça.
 
 - E com o seu papa, tudo bem? Eu tenho certeza que ele não se importaria de conversar com você sobre o que está passando aqui dentro. - Josh aponta no meio de seu peito. - Ele ama você, se importa com você e quer ouvi-lo sempre que tem alguma coisa a dizer. Sempre. E eu também.
 
 - Eu sei.
 
 Henri despejou beijos sobre o tecido de sua roupa, onde sua barriga estava, mas agora seus cílios pareciam úmidos e Josh usou os polegares para secar abaixo dos olhos redondos e flácidos. Vê-lo assim era ruim, muito ruim.
 
 Não se foi nem três segundos até que o menino encolhesse seu rosto na lateral de Josh e chorasse de verdade, com soluços e um pouco de tosse, como uma criança real.
 
 - A torta, mama. - acabou murmurando em meio ao choro, bagunçado e beirando o incompreensível. Josh deixou um beijo em sua bochecha gélida e molhada. - Vamos fazer.
 
 ~*~
 
 - Olá, oi. Residência provisória de Beauchamp-Urrea. No que eu posso ajudar? - Genevieve correu na frente para atender o telefone no gancho antes que Noah pudesse fazê-lo. Era próximo a lareira acesa, do lado oposto à televisão ligada em uma fita antiga de Tom e Jerry. Mabelle tinha acordado há menos de uma hora e ainda usava os pijamas, segurando uma mamadeira de suco de frutas vermelhas que Wendy fez. Ela nem usava mais mamadeiras, mas a mulher aparentemente tinha tudo preparado e adorava mimar todos eles. - Quem está falando?
 
 - Babe, me dê isso. - Noah tenta alcançá-la, mas ela se move de acordo com o que tenta segurar o aparelho. - Vie, c'est peut-être sérieux. Me dê, oui? Princesse.
 
 - Okay, Bee? Bee, sim? - ela riu, pouco atenta a voz que estava falando do outro lado da linha. Noah só...ele sentiu como se um peso de cinquenta ou mais quilos descendo pelo diagrama. Gene ainda tinha um sorriso amplo enfeitando os lábios, sequer notando isso. A mudança na atmosfera, agora densa. - Você gostaria de deixar um recado?
 
 - Me dê. Agora. - firmemente, segurou o aparelho entre os dedos e a filha largou, saindo das pontas, com os pés pousando no assoalho. Noah assumiu outra postura, seus pulmões filtrando partículas mais quentes de ar; no inverno. Ah, mas ele jurava que - Você? De novo?!
 
 - Eu preciso
 
 - Inferno, eu não quero ouvir o que você precisa. Eu não preciso ouvir, você pode guardar isso com você. - talvez o uso do francês e a maneira que ele travou a mandíbula tenha feito Genevieve recuar, mas ele não notou de imediato. Não notou. - Mas sabe o que eu quero? Eu quero tanto que você deixe a minha família em paz. Só por esses dias, eu peço, não ligue, não mande mensagens, não me faça procurar a porra de um advogado porque você não tem respeito.
 
 Houve uma pausa tão longa de silêncio que Noah acha que ela desligou. Genevieve paralisou e Mabelle tinha olhos gigantescos na direção dele e o telefone rente à bochecha. Não há mais ninguém na sala de estar e a lareira parece mais quieta depois que ele explodiu.
 
 Mas só era...impossível não?
 
 - Eu sinto muito. - e ela estava chorando, soluçando de chorar. Noah não disse nada. - Eu só- Eu sinto tanta falta de todos vocês. E-
 
 - Não faça isso. Não vá aí, eu estou de saco cheio de você dizendo isso toda vez que liga. Toda vez. Isso não é- Não é divertido, não é. Não é uma peça. Eles não fazem parte de nenhuma mentira. Eu conheço você um pouco mais do que você me conhece. Não vamos atuar aqui. - ele tomou um tempo para suspirar quando lhe faltou ar. - Não ligue, entendeu?
 
 - E quem é ele? - ela indagou. Isso o fez franzir o cenho. - Quem é o cara? Não é você que está com alguém agora? Quem é ele?
 
 Noah empurrou o telefone tão forte no lugar que o ouviu quebrar contra a parede. Descansou as mãos na parede, respirando descompassado.
 
 Que porra.
 
 - Papa, quem era? - Genevieve sussurrou, indagando. E ele pensou que era improvável ela ainda não saber, porque era esperta demais e agora Noah tinha dado toda a informação que a menina precisava para ligar os pontos. Mas ele coçou o queixo e se forçou a parecer mais calmo. Não queria deixar que as crianças soubessem disso.
 
 Não agora.
 
 - Ninguém. Não era ninguém.
 
 ~*~
 




Desculpe qualquer erro.

Roma & Julio || N.BOnde histórias criam vida. Descubra agora