٠ Capítulo sete ٠

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"Nosso mundo uma vez estéril agora transborda de vida.
 Eu acho espaço e o tempo tomam coisas violentas, coisas enfurecidas, e as tornam gentis."
 
 ~*~
 
 Já não havia sobras de unhas para roer, ele sentia calafrios subindo entre as costelas. Não era comum reagir de tal modo quando uma palestra lhe era oferecida. Ele se dava muito bem em eventos similares, por isso sempre seria a primeira indicação do diretor.
 
 Já era verão. Quase um mês dele se foi e seus calafrios não faziam jus à temperatura agradável que pintava a paisagem lá fora. Mas ele não sabia como faria aquilo funcionar. Seriam dez dias.
 
 Dez dias fora. Só isso.
 
 Talvez se ele não tivesse desistido de surgir na própria casa pelas últimas semanas e não dormindo na mesma cama que Noah por duas semanas.
 
 As crianças já estavam familiarizadas com a sua presença, isso era mais que óbvio, Mabelle tirava cochilos em seus braços todos os dias. As férias foi o que eles usaram de desculpa para tê-lo por perto o tempo todo.
 
 E seria difícil desgrudar por algum tempo. Josh tornara-se um grande e grudento chiclete.
 
 ⸺  Uma ligação de negócios? - o francês tocou a lateral de seu corpo quando ele voltou da varanda e se inclinou sobre a bancada da cozinha. Aquilo não o pegou desprevenido, mas fez alguma coisa com o seu coração. Eles tinham feito muito daquilo ultimamente.
 
 ⸺ Meio que isso.
 
 ⸺ O que aconteceu?
 
 ⸺ Nick me ligou.
 
 Ele também se inclinou com a bochecha no mármore, olhando para o seu rosto pelo mesmo ângulo. Era bonito até assim.
 
 ⸺ E tudo bem com você?
 
 ⸺ É, eu acho que sim. - seu nariz enrugou pela omissão. Noah abriu a palma em seu quadril. Ele quase desmanchou. Se ele estivesse correto, o homem desferia uma certa carícia no ato. ⸺ Ele me convidou para esse evento de literatura. Parece ser divertido, eu já fui em alguns.
 
 ⸺ Você deveria ir.
 
 ⸺ Por alguns dias, sim.
 
 O francês ergueu o rosto, menos suave do que quando o deitou. Josh fez o mesmo com presteza para o momento em que Noah se afastou e deu a volta no mármore frio.
 
 ⸺ Vamos tomar um café.
 
 ⸺ Claro. - Josh murmurou, apoiando o queixo nas mãos. ⸺ A casa fica vazia sem todo mundo. Quando Lin volta?
 
 ⸺ Às sete, talvez. - eles ficaram em silêncio pelo que pareciam ser horas. ⸺ Você tem que prometer que vai se divertir lá, onde você estiver.
 
 ⸺ Eu vou tentar. - um sorriso cavou sua covinha. ⸺ Só são dez dias, você nem vai notar.
 
 ⸺ Dez dias? - ele viu Josh assentir, mordendo o interior da boca. ⸺ Quer dizer. Pardon. Dez dias é comum, não é? Dix. Eu só quis dizer que vou notar, sim. Eu notaria se fosse um só dia, não seja bobo.
 
 Os olhos de Josh ampliaram-se.
 
 ⸺ Par Dieu, o quê foi? É como se não soubesse. - ele rolou os olhos e, ainda sim, parecia carinhoso.
 
 Não, não sabia que ele podia ser assim tão doce. Exceto as crianças, ele só era flertivo e provocador.
 
 ⸺ Eu estarei de volta antes do verão acabar. - explicou, puxando seu lábio inferior entre os dedos. ⸺ E eu espero que você não preencha o meu lado da cama, Urrea.
 
 ⸺ Eu vou tentar.
 
 ⸺ Henri me diria.
 
 ⸺ Genevieve adesivou o seu abajur. Ela tentaria morder qualquer pessoa que tentasse dormir ali.
 
 ~*~
 
 ⸺ Vamos conversar. - Josh chamou quando a luz do quarto ainda estava acesa. Henri sentou na cama de Mabelle e ela se encolheu nos braços de Genevieve. Ele não sabia como começar. ⸺ Eu sei que nós temos passado todo esse tempo-
 
 ⸺ Josh, eu quero dormir. - Genevieve interrompeu, bocejando.
 
 ⸺ É rápido, eu prometo. - Eu não quero ir sem dizer nada, Josh pensou. Ela bocejou mais uma vez antes de dá-lo a devida atenção. ⸺ Eu tenho esse trabalho e-
 
 ⸺ Estamos nas férias. - Henri parecia confuso. ⸺ Você também.
 
 ⸺ Não totalmente um trabalho, querido. Foi mais como uma oferta, um convite. Preciso ficar fora da cidade por alguns dias, mas não muitos. - disse de uma vez, sentindo o afagar reconfortante em seus ombros. Noah. ⸺ Então, posso ganhar um abraço antes de ir?
 
 Henri abraçou os joelhos.
 
 Ninguém disse coisa alguma.
 
 ⸺ Por favor? - tentou, vendo que Genevieve não parecia mais tão sonolenta. Só triste. Mabelle foi a primeira a descer da cama e correr para abraçá-lo. Ah, não. Como era possível não definhar de saudades?
 
 Henri também veio, eventualmente.
 
 Ele estava fungando um pouco e não foi nada leve quando murmurara um "você vai voltar mesmo, não vai?". Não foi. Ele preferia enfiar a cabeça num tanque de água fervida do que ouvi-lo dizer aquilo. Não estava certo se ele ainda lembrava de Bea, mas foi como um soco no estômago.
 
 ⸺ Olhe para mim. - pediu quando o menino parecia nunca escassear de lágrimas. Ele ajoelhou e fitou seu rosto, sério. ⸺ Vamos esclarecer uma coisa aqui, sim? Acredita em mim?
 
 Ele assentiu, balançando a cabeça.
 
 ⸺ Eu vou voltar sempre, okay? Você não precisa se preocupar com isso, eu sinto sua falta tanto quanto sente a minha. - secou as lágrimas de suas bochechas. ⸺ Entendeu, doce?
 
 Ele fez o mesmo, mas Josh nem sabia que estava chorando até ele fazer. ⸺ Entendi. Não chore.
 
 ⸺ Ugh. Você me fez chorar.
 
 O menino riu.
 
 Não foi humanamente possível deixá-los sem um beijo de boa noite antes de sair do quarto. E, embora Gene se recusasse a abraçá-lo, ela guinchou para que ele tambéma desse um beijo. Ele sorriu. ⸺ Desculpe, eu achava que também não queria o beijo. Eu vou sentir sua falta.
 
 ⸺ Não demore. - se agarrou em seus ombros num abraço apertado.
 
 ⸺ Eu também quero um abraço. - O francês pediu, mas ele já abraçara todos eles. Exceto Josh. ⸺ De até mais. Um abraço de até mais.
 
 ⸺ Depois. - murmurou com o canto dos lábios, um sorriso divertido despontando. Já saindo do cômodo, ele deixou a porta meio fechada e meio aberta. ⸺ Vamos para o quarto.
 
 ~*~
 
 ⸺ Deveria ter entrado. - Noah saiu do banho, o roupão ao redor de seu corpo e o rosto gotejando. Ah, não. Por que ele não tinha um tantinho de piedade? Josh olhou para longe, qualquer lugar que não fosse aquele. ⸺ No banho. Sabe? Comigo.
 
 ⸺ Ahá. - Engoliu seco, até suas orelhas esquentando. ⸺ Claro.
 
 Ele deve ter notado. Pegou as roupas separadas na cabeceira e voltou para o banheiro. Josh levou as unhas para a boca e nem percebeu que ficaram lá até ele sair do banheiro novamente.
 
 ⸺ Desolé, eu não queria deixar você desconfortável. Foi meio indelicado.
 
 Ele queria bater no próprio rosto porque não queria que Noah se limitasse. Ele queria as implicâncias, os toques, os flertes e tudo.
 
 ⸺ Vem deitar.
 
 ⸺ Seja paciente, mon petit.
 
⸺ Eu deveria te chamar assim. Venha deitar, mon petit.
 
 ⸺ Ah, me dê um tempo.
 
 Josh apagou o seu abajur, mas ainda conseguia vê-lo franzir as sobrancelhas nitidamente.
 
 ⸺ Eu entendi que você precisa de mim. - Ele sussurrou enquanto ocupava seu lugar na cama. Josh sentia um fisgar no interior de suas coxas. ⸺ Porque estará fora pelos próximos dias, eu sei. Você quer uma massagem? Um abraço?
 
 ⸺ Os dois, por favor. - ele arfou quando os dedos alheios esbarraram em sua barriga e foi a coisa mais constrangedora que já fez na vida.
 
 Noah estreitou os olhos.
 
 ⸺ Sensível. - acusou.
 
 ⸺ Eu não - tentou se defender, mas ele fez questão apertar seu quadril e então só massagear a pele. Merda, ele não sabia que precisava tanto daquilo até aquele instante. Os dedos de seus pés dobraram-se. ⸺ Okay, um pouco.
 
 O outro riu e o puxou para perto.
 
 Bem perto.
 
 Do tipo eu-poderia-beijar-você perto ou até mais. Josh abraçou o corpo do menor, os narizes se tocarem um pouco. Ou muito. ⸺ Salut, Roma.
 
 Ele entrelaçou suas pernas nas do francês, quase vomitando seu coração. Era possível fazer isso?
 
⸺ Você é inacreditável.
 
 ⸺ Seus olhos também são. - eleelogiou com a voz enrouquecida e Josh os fechou, quase no mesmo segundo. O fazia ficar inebriado.
 
 ⸺ É assim que fisga garotas?
 
 ⸺ E garotos.
 
 ⸺ Uma boa maneira.
 
 ⸺ É assim que fisgo você, mon crème brûlée. - brincou, mergulhando uma mão em seus cabelos. Ele deixou uma risada fraca escapar, pois era ridículo que seu coração ainda estivesse preso na caixa torácica. Não depois de tudo isso. ⸺ Confortável?
 
 Eles nunca ficaram tão próximos. Josh daria créditos àquela viagem, o homem parecia mesmo afetado.
 
 ⸺ Certamente.
 
 ⸺ Com sono?
 
 ⸺ Um pouco. - bocejou.
 
 Era um pouco estranho. Os lábios de Josh formigavam, mas não era como se fossem se beijar. Ele estava preso no quase. Contemplando o e se, mas nunca avançando para o topo.
 
 ⸺ Nós podemos - dormir assim? Ele quase pediu, mas desistiu no meio do caminho. Noah o liberou do aperto e se afastou um pouco. Claro, eles não dormiriam daquela forma. Era íntimo demais. ⸺ ter um jantar-
 
 Ele parou novamente quando percebeu. Estava no meio do caminho para dizer jantar em família e quase sufocou com isso. Provavelmente seria afastado daquele lugar, aquilo era no mínimo bizarro. Não era sua família, ele era um visitante. Um amigo, um quase tio legal. Só que Josh diria aquilo da forma mais natural que alguém poderia dizer.
 
 ⸺ Oui, formidable. Um jantar de boas vindas quando chegar aqui. É uma boa ideia. - ele o ajudou. Ainda parecia imóvel e reflexivo. ⸺ Josh?
 
 ⸺ Eu apaguei por um segundo. - se desculpou, retornando aos poucos.
 
 ⸺ Tudo bem?
 
 ⸺ Estava pensando sobre o hotel que vou ficar. Não fiz reserva. É algo que posso resolver amanhã, tudo bem.
 
 ⸺ Durma um pouco. Precisa descansar, amanhã é um longo dia.
 
 Urrea apagou a luz do seu abajur e Josh não grudou os olhos pelos próximos dez minutos. Ou mais, era difícil saber. Tudo vinha rápido demais na sua cabeça, talvez ele estivesse indo longe. Talvez até longe demais para voltar atrás, mas ele não iria desejar isso se pudesse. Pensou em como e quando chegou ali.
 
 Em algum lugar daquele breu, dentro e fora, Noah segurou sua mão. Não foi apenas um esbarrar, ele envolveu seu pulso e então tateou até que os dedos se entrelaçassem.
 
 ⸺ Croissant?
 
 E na pior das hipóteses, Josh acharia que o tom dele foi suave, meigo, demais e choraria para esvaziar o caos que se formou em sua cabeça.
 
 Mas, longe disso, ele riu.
 
 ⸺ Croissant?
 
 ⸺ Eu só queria dizer que estou aqui.





Desculpe qualquer erro.

Roma & Julio || N.BOnde histórias criam vida. Descubra agora