"espere um minuto, porque eu acredito que podemos consertar isso ao longo do tempo, e toda imperfeição é uma mentira, ou pelo menos uma interrupção; agora aguarde, deixe-me terminar, eu não estou dizendo que o perfeito existe nesta vida, mas nós só saberemos com certeza se tentarmos"
~*~
Os dez dias não foram fartos, mas ao fim do dia ele sempre deitava naquele travesseiro de hotel e era saturador não ter ninguém. Ele teve algum tempo para refletir sobre algumas decisões, - claro - mas o fato de que as crianças ligavam antes de dormir para o beijo de boa noite incomodava como um alfinete em seu sapato e ele sempre acabava de olhos ardidos.
E tinha Noah.
Ninguém, nunca, fez algo similar com seus pobres sentidos. Quando o francês o tocava, ele vulneravelmente amolecia por mais. Precisava tanto de alguma coisa, às vezes, quando o homem ia longe e massageava suas pernas ou cochichava rente à pele.
Era vergonhoso que ele estivesse tão atraído, mas tão inevitável quanto.
Àquela altura ele tentaria aceitar que sua afeição não devia-se a amizade bagunçada. Urrea tinha uma maneira cruel de pisar em seu coração. Ele fazia aquilo sem saber que estava fazendo, era preocupante.
Na quinta noite, o dia de sua palestra, ele secretamente aguardou a ligação, enroupado no moletom cheiroso (ele não lavou) do homem, como se apenas fizesse parte de seu dia.
"Quando você volta?" Henri perguntou. O menino estava marcando os dias num calendário digital e, honestamente, Josh gostava de se sentir amado.
⸺ Em cinco dias. Você tem um recital em seis, eu estarei aí.
"Espera, Genev!" ele ouviu uma pausa e então o resmungo da menina. "Ela disse que papa viu um garota bem parecida com você no mercado."
⸺ No mercado?
"Ela é sua irmã. Taylor é sua irmã, não é? Ela nos convidou para o almoço amanhã, com sua mãe."
Josh só conseguia imaginar sua mãe mostrando todos os seus álbuns de infância para cada um deles.
"Eu posso falar com ele?" ouviu a voz do francês do outro lado da linha, distante, e ainda sim foi o bastante para tê-lo ansioso. "Salut, bébé. Mabelle dormiu agora, ela falou de você o dia todo."
Bébé.
⸺ Eu sinto falta dela.
"Acredite, ela também."
⸺ De todos vocês.
"Nós também." Pôde ouvir o sorriso em sua voz. "Eu também, Roma."
E agora ele estava lá, onde o gramíneo parecia bem mais reluzente e que, por um motivo maior que ele, precisou passar antes de aparecer em casa e desfazer sua mala. Ele não se incomodou de apertar a campainha, apenas abriu a porta porque era seu desejo surpreendê-los. Foi meio decepcionante quando não ouviu nada, um carro atravessando a rua.
A casa parecia vazia.
Josh arremessou sua bolsa no canto da sala e fechou a porta. Talvez eles estivessem dormindo, ele pensou.
⸺ Lins, é você? - ele ouviu a voz mesclando com o ambiente, o eco trazendo um suspiro nervoso para os seus lábios. Noah. ⸺ Já chegou?
Na cozinha. Certeza que estava na cozinha, sozinho. Ao contrário do que martelava em seu peito, seus passos não eram acelerados. Apenas caminhou até lá, afastando seus cachos dos olhos e cavando o lábio com seus dentes. O cheiro do francês se fez presente mais rápido que ele.
⸺ Ei, Urrea - a voz escapou em entrecortes porque ele estava ansioso. Muito. Os olhos verdes ampliaram-se quando o viu lá.
⸺ Ei, Beauchamp. - forçou casualidade.
Josh escorou-se na coluna branca, o assistindo pairando num dos bancos altos. Ele não correu e sua respiração estava longe de ser regulada.
⸺ Você viu minhas crianças?
⸺ Suas crianças? - o moreno riu, virando a xícara de café entre os lábios apetitosos. O cacheado odiou, bem de seu âmago, que ele fosse tão irresistível. ⸺ Você passa todo esse tempo fora e então volta como se pudesse apagar tudo, putain?
⸺ Bem. - soprou a mecha insistente que fazia seu rosto pinicar. ⸺ Sim.
⸺ Estão com a tia. - apertou os olhos e deixou a xícara de canto. Ele parecia determinado. ⸺ Venha aqui.
⸺ Por que?
⸺ Porque você quer vir aqui.
Girou os olhos, mas foi. Ele não estava errado. Esperava ficar em algum lugar entre a bancada e a cadeira ao lado, mas foi posto entre as pernas do homem. Naturalmente.
Sem duvidas, ele seria mais bonito de tão perto. Sua barba ainda estava por fazer, ele não tocou nela desde que Josh saíra da cidade. Estava mais quente, muito próximo. Quase o suficiente, não é? Qual seria a sensação se ela arranhasse seu rosto ou o interior de suas coxas?
⸺ Você disse que chegaria às - o homem começou, o hipnotizando por pouco tempo até que Josh suspirou e tocou a gola alta de sua blusa vinho. O trouxe para mais perto. ⸺ sete. Ainda é manhã, eu planejava buscá-lo, sabia? Estragou meus planos.
⸺ Eu não ligo.
⸺ Okay, o que há com você? Não há fuso e você não cheira a álcool, mas algo não parece certo. - falou e então Josh soltou a gola de sua blusa, constrangido. Ele estava prestes a dar um longo passo para trás quando o francês o segurou pelos ombros e grudou os lábios em seu pescoço. ⸺ Oh, eu não quis dizer assim, mon petit. Você esteve fora por muito tempo, não espere que eu te deixe escapar tão fácil.
Josh tentou segurar os olhos abertos, os joelhos traindo sua sustância. Ele sentiu os dedos dos pés se apertarem quando o francês entreabriu os lábios e sugou próximo a sua nuca.
⸺ Esse perfume é seu? - não conseguiu pensar direito quando os lábios vibraram em seu pescoço. Que perfume? Esqueça o perfume, por favor. ⸺ Não é seu. Você trocou?
⸺ Eu não acho que- Não sei, eu - tentou responder. - Abracei algumas pessoas antes de voltar para casa.
Noah parou.
⸺ Na rua? - franziu as sobrancelhas clarinhas. ⸺ Por que, crème brûlé?
⸺ Não. - quase choramingou e seus dedos percorreram os braços cobertos do menor. Droga, ele queria mais. ⸺ No hotel, antes de vir. Me despedi de algumas pessoas, deve ter sido isso.
Ouviu o trinco da porta e pulou para trás. Um, dois, três e...
⸺ Josh chegou! – Linsey gritou.
~*~
⸺ Oh, bebê. Não acredito que você perdeu outro dente e eu não estava aqui. - Josh lamentou, vendo o sorriso carente de dentes de Mabelle. Era adorável, ele precisou tirar uma foto e colocaria como seu plano de fundo mais tarde. Ela segurou seu cabelo, deitando em seu ombro com um bico nos lábios. ⸺ Eu também me sinto assim, querida. Eu sei.
Os primeiros minutos foram inteiramente de Henri e Genevieve, mas então ela chorou e os irmãos entenderam. Não tanto, mas a deixaram ir para o seu colo.
Noah não largou o celular desde que tocou há uma hora. Um pouco mais que uma hora, ele só não contou.
⸺ Eu fico feliz que agora vocês tenham o Josh e não precisam mais de mim. - Linsey exagerou. As crianças olharam de relance, mas não alimentaram a dramatização. Josh riu. ⸺ Eu vou só desistir disso.
⸺ Eu amo você. - Henri acabou dizendo, então Genevieve disse atrás dele. ⸺ Nós amamos você também.
Também. Ele meio que queria chorar quando Linsey o fitou com o queixo caído. Ela levou a mão até o peito e ele faria o mesmo se Mabel não estivesse tão confortável ali.
⸺ Você ouviu isso? - ela cobriu os lábios para que a mensagem fosse restrita à ele. Ele riu, lacrimejando um pouco. ⸺ Eles amam você.
⸺ Eu não os culpo. - brincou. Eu também faço isso. Um pouco.
⸺ Tommy só ouviu de você a semana inteira. - ela contou. ⸺ Ele quer um autógrafo e um abraço.
⸺ Acho que receberemos uma visita. - Noah interrompeu, o celular ainda na mão quando o fez. ⸺ Mais tarde.
⸺ Quem? – Linsey deu voz à pergunta cutucando sua mente.
⸺ Zoe. - ele lançou o telefone no mesmo sofá que sentou ao seu lado. ⸺ Ela veio esses dias.
Veio esses dias. Certo. Significava que ela estava na cidade por esses dias ou que ela veio esses dias?
⸺ Sua ex-namorada? - a mulher indagou e uma pontada de ciúmes resvalou o peito de Josh. Ele sabia que era, por isso enrugou o nariz em desgosto. ⸺ Ela quer vê-lo?
⸺ Por que? - Genevieve fitou o pai, confusa. ⸺ Quem é ela?
⸺ Uma amiga. - respondeu ele.
⸺ Ela disse namorada. - a menina insistiu. ⸺ É sua namorada?
Josh engoliu seco.
⸺ Josh é seu amigo. - Henri apontou. Noah ficou em silêncio.
⸺ Eu tenho mais amigos, amour. - o francês explicou. ⸺ Tommy, Amy, amigos antigos.
⸺ Então, - ele ignorou o quão seca sua garganta estava. Ele nem deveria sentir coisas assim. Eles são apenas amigos, afinal. ⸺ eu devo ir?
⸺ Non, você pode ficar. - Noah balançou a mão como se não importasse, mas não o olhou nos olhos. Nem perto. ⸺ Lin também.
⸺ Tem certeza?
⸺ Oui. - ele ainda não o olhou, despreocupado. ⸺ Claro, Beauchamp.
Josh fechou a cara como o céu tempestuoso. Incerto, sombrio e pesado. Urrea disse que seria uma boa ideia um jantar de retorno, mas sob àquelas circunstâncias?Desculpe qualquer erro.
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Roma & Julio || N.B
FanfictionADAPTAÇÃO AUTORIZADA AUTORA @ hsmpreg [Concluída] Tudo está okay na vida de Josh. Ele é um professor de inglês pacato do ensino fundamental, até que Noah, o novo professor francês de artes cénicas, entre em cena. Adaptação autorizada!!