2013

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19 de dezembro

Sakusa Kiyoomi

Porra, como ele fica lindo dormindo.
Parece que alguém enfiou areia na minha garganta, e acho que Oikawa pode ter
quebrado meu nariz quando se jogou na cama ontem à noite, mas, neste momento, posso perdoar qualquer coisa, porque seu cabelo castanho está espalhado sobre o travesseiro, ao redor de seus ombros, quase como se estivesse boiando na água. Ele parece a Pequena Sereia. Apesar de eu saber que pensar isso me faz parecer um pervertido.

Saio da cama e visto o que está mais perto: o short de Toruu. Ele tem estampa de abacaxis, mas não faço ideia de onde estão minhas roupas e preciso tomar alguma coisa para dor de cabeça. Considerando o estado dos convidados de ontem, não me surpreenderia encontrar alguém jogado no chão da sala, e imagino que os abacaxis seriam menos ofensivos que minha bunda de fora. Merda, mas este short é bem curto. Vou rapidinho.

— Água — geme Oikawa, balançando uma mão na minha direção enquanto contorno a cama.

— Eu sei — murmuro.

Seus olhos continuam fechados quando levanto seu braço e cuidadosamente o coloco sob a coberta, e ele emite um som que pode significar Obrigada ou Pelo amor de Deus, me ajude. Dou um beijo em sua testa.

— Já volto — sussurro, mas ele já apagou de novo.

Não o culpo. Pretendo voltar para a cama e fazer o mesmo em cinco minutos. Lançando um último olhar demorado em sua direção, saio em silêncio do quarto e fecho a porta.

— Se está atrás de paracetamol, tem no armário da esquerda.

Paro por um instante, engolindo em seco enquanto abro a porta do armário e
vasculho o interior até encontrar a cartela.

— Você leu minha mente — digo, virando para Atsumu.

Eu me forço a sorrir, porque a verdade é que estou desconfortável para caralho. Já nos vimos antes — antes de ontem à noite, quero dizer. Foi só uma vez, rápido, ao vivo, mas, desde então, houve outros momentos na minha cabeça: sonhos lúcidos aleatórios e inquietantes no começo da manhã que me faziam acordar com um pulo, excitado e frustrado. Não sei se ele se lembra de mim. Meu Deus, espero que não. Especialmente agora, parado na sua frente, usando um short curto ridículo com estampa de abacaxis que só cobre até meu saco.

Hoje, seu cabelo loiro está bagunçado, e ele parece precisar tanto de remédios quanto eu, então lhe ofereço a caixa.

Oikawa falou tanto sobre o melhor amigo que eu já tinha criado um Atsumu imaginário na cabeça, mas estava completamente errado.

Por Oikawa ser tão maravilhoso, eu, preguiçoso, chegara à conclusão de que seu amigo seria tão exuberante quanto ele, como se fossem uma dupla de papagaios exóticos empoleirados aqui em cima, numa gaiola. Atsumu não é um papagaio. Está mais para um... sei lá, um tordo, talvez. Há uma paz interior nele,um senso tranquilo e discreto de se sentir bem consigo mesmo que torna sua presença agradável.

— Obrigado.

Atsumu pega os comprimidos, colocando dois na mão. Encho um copo de água para ele, que o ergue na minha direção em um
"brinde" deprimente enquanto engole os remédios.

— Aqui — diz ele, contando quantos comprimidos restam na cartela antes de
me devolver. — Oikawa gosta de...

— Três — interrompo, e Atsumu concorda com a cabeça.

— Três.

Sinto um pouco como se estivéssemos competindo para ver quem conhece
Oikawa melhor. Ele venceria, é claro. Faz só um mês, mais ou menos, que eu e Toruu estamos juntos, mas, nossa, as coisas estão bem intensas. Tenho que me esforçar para acompanhá-lo. Nós nos conhecemos no elevador do trabalho; ele parou só com nós dois dentro, e, quando voltou a funcionar, quinze minutos depois, eu sabia de três coisas. A primeira era que Oikawa podia até ser jogador substituto na liga local por enquanto, mas acabaria dominando o mundo um dia. A segunda era que eu o levaria para almoçar assim que consertassem o elevador, porque ele me disse para levá-lo. Eu iria convidá-lo de qualquer forma,aliás. E, por último, tenho quase certeza de que ele parou o elevador de propósito e só o soltou quando conseguiu o que queria. Fiquei atraído por essa determinação.

Um dia em dezembro ; Sakuatsu Onde histórias criam vida. Descubra agora