DOZE

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Ruel

Raiva e desconfiança cresciam dentro de mim toda vez que eu pensava na possibilidade. Lore escondia algo e eu desconfiava disso desde que voltamos da minha casa há três dias. Ela sempre segurava o celular e ficava de olho nele quando eu não estava por perto, mas eu sempre via.

Ela mente muito bem para os outros, mas nunca foi uma boa mentirosa comigo.

Eu não sei quando ela começou a não confiar em mim.

Algo estava assombrando-a? Ou aquele hacker a ameaçou?

Cerrei os dentes e golei o bourbon puro. A luz fraca da sacada do quarto da Lore iluminava boa parte.

A mentira pode destruir tudo que você acredita. Cada gota do álcool que entrava no meu corpo arranhava meu peito, mas eu não me importava. Eu não sentia irritação, na verdade. Eu gostava até. Isso não me fazia esquecer da situação em que estou.

Mas para que caralhos minha garota foi?

Lore saiu sem aviso. Eu só consegui ver um dos carros passarem loucamente pelo portão.

Ela deve ter um bom motivo para esconder o que estava acontecendo. Com um passar dos anos, ficamos ainda mais fortes juntos que me recuso a acreditar que ela não tinha uma razão.

— Porra. — virei o copo.

Eu estava irritado. Queria socar algo para tirar a tensão dos meus ombros, e a raiva.

Joguei a cabeça para trás e encarei o céu estrelado. Minha boca seca e mente fodida precisava de um cigarro, mas depois do acontecido naquele dia na minha casa, estourei todas as minhas carteiras e da Lore.

"Pare de fumar, querido. Você tem uma vida linda pela frente."

A voz da minha mãe surgiu em minha mente. Ela odiava me ver com a porra de um cigarro na boca, e sempre dava palestras sobre como essa droga vagabunda e deliciosa fode com o meu pulmão e o meu corpo.

O mundo onde habito pode me matar mais rápido do que a porra da nicotina. Posso tomar um tiro na cabeça a qualquer momento. Essa vida na máfia tirou um pouco da minha alma e da minha humanidade. Os pingos que ainda restavam permanecem por causa dela, da minha garota.

Eu estava irritado pra caralho, mas se seus lábios se abrissem, revelando seus dentes e um sorriso lindo que me faz fraquejar, eu a perdoaria no mesmo segundo.

Ela sempre me fazia ser mais humano. Lore colou meus pedaços em anos atrás com suas mãos doces. Ela me consertou da melhor forma que conseguiu. Meu coração é todo dela, assim como o mínimo da sanidade que ainda me restavam.

F orcei minhas pernas a se mexerem e me levantei da cadeira. Joguei o cigarro no ar, fazendo-o cair da sacada, e entrei no quarto. Não demorei para atravessar o cômodo e passar pela porta. Entrei no corredor e antes que eu pudesse chegar no fim dele, parei no quarto onde Wilson se alojava.

A porta estava encostada. A imagem da Chloe de braço cruzados enquanto Thomas a encarava com os olhos cerrados. Ele estava irritado e impaciente enquanto ela o desafiava a fazer algo. Eu não conseguia ouvir muito bem. Seus sussurros eram baixos demais para qualquer um que não estivesse perto deles entender. Minutos depois, Cooper deu um sorriso melancólico e se afastou. Chloe molhou os lábios e respirou fundo.

Golei o restante do líquido do copo e virei para sair.

— Ah, querido Thomas... — a voz da Chloe era raivosa. — A Lore já saiu?

Meus pés giraram automaticamente até a porta novamente. Apertei os dentes e estreitei os olhos, esperando que ela falasse mais.

— Como sabe disso? — ele perguntou.

O RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora