VINTE

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Lore

Dois meses depois...

Joguei a cabeça para trás enquanto meus polegares batiam nos meus joelhos, fazendo o barulho da batida se tornar repentina e chata, mas ainda assim, não parei. Continuei repetindo a mesma ação. Meus olhos ainda estavam no loiro deitado, observando seu peito subir e descer lentamente. Ele estava bem. As marcas dos socos já haviam sumido no começo do mês passado. Seus ferimentos também já se fecharam. Vincent estava curado, porém, ainda não acordava, e isso me assombrava.

E se demorasse mais meses?

Ou... anos?

Aumentei um pouco o volume da música e ri ao imaginar que ele estava ouvindo. Decidi colocar sua banda favorita, na esperança de fazê-lo acordar. No entanto, Vincent dormia tranquilamente. Seu cabelo havia crescido um pouco, assim como a sua barba que já havia dado as caras.

Grunhi frustrada e desviei meus olhos para sacada do meu quarto. O sol se escondia atrás de umas das nuvens brancas. Não consegui dormi na noite passada. Fiquei deitada ao lado do Ruel enquanto sentia e ouvia sua respiração calma. Quando começou a amanhecer, sentei e apoiei a cabeça na cabeceira da cama.

Fechei os olhos e prendi meu lábio inferior com os dentes. Agarrei a mão do loiro e suspirei, esperançosa.

— Aperte, lindo. — sussurrei. — Só uma vez, por favor...

Nada.

Ele não respondia.

— Eu falei para você não demorar. — reclamei e abri os olhos, olhando para ele outra vez.

Vincent nem sequer moveu seu rosto ou uma das sobrancelhas.

A licença da minha família acaba hoje, e isso significa que estou mais em perigo do que nunca. Agora que todos sabem que ocupei o lugar da Carla, os inimigos viriam com tudo, alegando que eu seria fraca.

Porém, quem dará o primeiro golpe sou eu, impressionando a todos para exigir respeito e temor.

Levantei da cama e estalei o pescoço. Estiquei o corpo com movimentos preguiçosos, e entrei no banheiro, ligando o chuveiro. Entrei na água quente e suspirei, sentindo minha pele relaxar e a tensão sumir por alguns segundos. Ela provavelmente voltaria mais tarde. Esfreguei a espuma no meu corpo molhado e macio, lavando e tentando tirar o cansaço.

Minutos depois, saí do banheiro enrolada no roupão. Entrei no closet a procura do traje que irei usar hoje. Cruzei os braços e tombei a cabeça para o lado enquanto procurava, mas sorri ao lembrar que Vincent sempre gostou de me ver usando preto.

Olhei para o quarto, encarando o loiro na cama.

— Sempre comigo, não é? — murmurei.

Escolhi uma calça jeans escura, a qual ficava justa nas minhas pernas, mas confortável. Uma camisa da mesma cor, de gola alta e mangas longas que cobriam até o pulso. Um sobretudo branco que batia nos meus pés, mas a bota alta fazia o tecido grosso não ser tão grande. Meu cabelo preto estava solto e caído nos meus ombros, deixando-me ainda mais adulta.

— Voltarei em breve, lindo.

Peguei o par de luvas e me aproximei do corpo do Vincent. Beijei sua boca e sorri. Esfreguei sua bochecha com o polegar e me afastei, abrindo a porta e saindo. O barulho do salto da bota ecoava pelo corredor, atraindo atenção dos seguranças que caminhavam em minha direção para se posicionar na frente do quarto. Um deles juntou as sobrancelhas quando analisou como eu estava essa manhã, mas coçou a garganta e acenou.

O RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora