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   Mesmo com o escuro carpete cobrindo grande parte do chão, ela conseguia ouvir os saltos da bota batendo no piso. Um incomodo diferente pinicava seu corpo. Não era anormal ela sentir, muitos outros oficiais e recrutam dizem sentir, toda vez que são obrigados a subirem a esse andar. Provavelmente o percebiam, porque o corredor está completamente vazio e as placas claras e polidas do chão refletiam sombras que não existiam de verdade. Ou talvez seja, a vigília constante dos olhos mortuários que os bustos lançavam até ela quando passava. Os antigos governadores, imortalizados no mármore e no cobre, deveriam saber o quanto a velha soldado não queria estar ali. Sentiam o medo dela quando passava por uma das inúmeras portas trancadas que apareciam do nada.

O coração dela batia nos ouvidos, cobertos por um quepe cinzento que gostava de manter limpo. Mas além de seu coração ansioso, ela conseguia ouvir as máquinas funcionando por trás das paredes foscas e lisas. Uma grande quantidade de energia era separada para aquela setor do prédio, mesmo assim, elas reclamavam. Uma fome que nunca era saciada, não importa quanto geradores eles tivessem que trocar.

A porta 020 enfim aparece. A última e como as outras, uma luz vacilante nas frestas mostrava que estava sendo usada, cheirava a tinta fresca e óleo, só que os dígitos da tranca estavam gastos demais. O frio machuca sua mão, quando ela retira a luva e deixa o painel ler suas digitais e apertar os números da senha. Seu rosto aparece na tela. Ela estava velha demais naquela foto, o que não fazia sentido já que não chegou aos cinquenta anos. Era a cicatriz sobre seu lábio que a envelhecia. Era sua alma cansada.

A porta é leve nos seus braços fortes. Ela era forte, não tinha motivo para ficar com medo de seu centurião. Apesar de não se considerarem amigos, lutaram diversas vezes juntos contra os rebeldes ignorantes, uns que mal sabiam segurar um blaster. Salvou vidas daqueles que ela considerava serem seus amigos.

O bafo quente do aquecedor são suas boas-vindas.Quando ela entrou na sala funda e escura, uma gota fina de suor desce por suas costas .

Julian estava sentado numa poltrona alta, vestido com seu uniforme de batalha, deslizando os dedos pela tela que cobria metade da mesa, feita de uma aço tão escuro que parecia sugar toda a vida do lugar. Ele deixou o brilho laranja da tela por um segundo, para olhar intensamente na sua direção, com os olhos cor de metal envelhecido.

-Mandou me chamar, senh...

-Minha senhora, governadora, ela chegou. -diz por cima dela, levantando-se rápido e tocando seu braço. Ela não tinha percebida a figura alta em pé na parte mais funda da sala, num lugar escondido pela porta.

A governadora era uma figura de uma majestade silenciosa. Deveria ser quinze centímetros maior do que ela, ou mais e o vestido sangrava em um vermelho espesso como piche, preso de qualquer jeito sobre o ombro. Parecia que deslizaria até o chão em qualquer segundo. Ela emanava poder para todos os lados, de uma forma quase sufocante. As gotas de ouro que decoravam os cachos espessos em cascata, era sua nobreza incalculável ao lado deles.

Um servo encolhido no canto, segurava a cauda de renda. Na sua bochecha, a marca digitalizada a quem pertencia. Ao Estado.

-Há quantos tempo, centurião? -sua voz era desprovida de emoção. Hipnótica. Parecia não ter interesse na presença da oficial. Pontos de uma curiosidade indecisa. Rhea estava voltada para o vidro que separava a sala que estavam com uma secundária. A luz branca que vinha dela iluminava o ébano do rosto cheio e as estrelas tatuadas em volta dos olhos.

-Senhora?! Eu não entendi.

Julian, nitidamente nervoso. O cara quente. Sem saber o que fazer com os braços agarrou um dos ombros da oficial. E apertou. Ela suspira.

Áve Cesar.Onde histórias criam vida. Descubra agora