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Ele nunca soube muito bem o que pensar sobre o dia de hoje.

Quando todos juntos saíam cedo de casa e o pai lhes pergunta como estavam naquela manhã, como ele fazia em todas as outras, era difícil desfazer a cara amarrada e esconder a vontade de continuar na cama, como só a Móneta podia. Ela arrumava suas bolsas de lona com lanches rápidos e muito líquido, repetia os avisos de juízo e então ficava para trás.

Então nessas horas e fácil Átila dizer que odiava esse dia.

Drusos gostava de fingir que detestava ir a arena, mas quando o Sol começava a esquentar as paredes da frente e Ceú dançava pelos corredores ao som das músicas abafadas do lado de fora, e pintava os rostos dos filhos, ele sorria com uma luz quase infantil. Os amigos dele parados do lado de fora da casa, com os mesmos tons de cores nas caras queimadas, sacudiam bandeiras improvidas com latão e tecidos que eram pintados de uma cor diferente a cada semana.

O zumbido dos pequenos drones sem consciência, era sempre alto, eles carregavam os retângulos pintados à mão ou jogavam confete nas crianças mais novas, sempre planando sobre seus donos ciumentos ou dando rasantes e loopings sobre ou outros mais quietos.

Uma hora ou outra uma motor zumbia pelas beiradas do cânion.

Os palanques lotados de pessoas de várias idades diferentes, Átila não ficaria surpreso se alguém despencasse daqui e caísse pelo vale até o rio silencioso que corria la em baixo. As meninas substituíam o jeans, a malha e o couro gastos de trabalho por vestidos estampados com tudo que podia ser visto no lado deles de Marte. Cassandra sempre usava um vestido escuro com respingos irregulares de branco, amarelo e roxo, imitando os céus mais bonitos. Com o braço bem preso na cintura dela, Drusos tentava desviar os olhos dela dos outros caras com sua camiseta apertada e calças bufantes com detalhes extravagantes.

O caçula sempre ficava feliz quando se vestia das calças e camiseta mais largas, que soltavam um cheiro forte de sabão. Eram cor de creme e possuíam machas irregulares de tinta, deixadas pela fumaça e o pó colorido que os foliões soltavam quando ganhavam suas apostas.

Mas para qualquer um que perguntasse, ele as tinha feito.

A cada cinco minutos um rojão estoura, depois fumaça, serpentina e algumas meninas mais novas gritando. Ele nunca conseguia segurar o riso quando Cassandra e saltava assustada.

Tinha música pra todos os lados, saindo de caixas de som de todos os tamanhos diferentes, que se misturavam com todos os apitos e cornetas que existiam no mundo. O próprio trio tinha os seus e ao se apertarem sem preocupação nenhuma no trem, sentados no chão, seguia os ritmos com os pés e a palma das mãos, até que um dos dois ficasse doloridos. As pulseiras cor neon dançavam no escuro toda vez que passavam próximos a alguma rocha e quando atravessávamos o grande portão.

Quando uma das favoritas do moreno explodia nas caixas de som e as gargantas dos amigos e vizinhos, os seguia sem hesitar:

"Eu disse, ooh, as luzes me cegaram
Não, eu não consigo dormir até sentir seu toque
Eu disse, ooh, estou me afogando na noite
Oh, quando eu estou assim, você é a única em quem confio

Só estou ligando de volta pra te avisar (de volta pra te avisar)
Eu nunca consigo dizer isso por telefone (dizer isso por telefone)
Eu não te deixarei partir desta vez (ooh)"

Por causa disso, depois de tantas gargalhadas que já soltou é sempre uma certeza admitir. Não odiava ir a arena.

Mas agora, de pé no cascalho do pátio que rodeava a arena, debaixo do sol do meio dia, Átila se questionava novamente. Mesmo que a sempre saíssem cedo de casa, nunca teve um dia que não ficaram em pé nas longas filas esperando para entrar. Talvez porque todos tiveram a mesma ideia.

Áve Cesar.Onde histórias criam vida. Descubra agora