Capitulo 1

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~~Alyssa~~
  Já se passaram 4 anos e a cidade continua a mesma, não mudou basicamente quase nada. Não venho aqui desde quando fui diagnosticada com depressão e meus pais resolveram mudar de cidade para que o processo de cura fosse mais efetivo. Em outras palavras, ficar nessa cidade era a mesma coisa que todos os dias está vendo eu e meu ex por essas ruas, tudo me lembrava a ele, ainda hoje lembro de tudo, só que antes eu lembrava com amor, hoje lembro com ódio. Talvez não tenha sido a melhor escolha que eu pudesse ter feito, a escolha de odiar ele, mas foi a única que me fez seguir em frente. Se eu tivesse escolhido os sentimentos bons provavelmente hoje eu não estaria mais viva para contar a história. Às vezes me pergunto como que alguém que um dia você amou, contava as horas para estar com aquela pessoa, hoje você pode odiar tanto e não querer ver nem pintado de ouro.
  A escola que vim fazer a prova foi a mesma que estudei no meu ensino fundamental, aqui é muito aconchegante, sempre tive muita vontade de dá aulas aqui, espero que eu consiga passar nesse concurso, estudei bastante. Porém, não vou ficar com tantas expectativas, visto que em todas as vezes que alimentei elas me decepcionei muito. Prefiro ficar na suposição daquela famosa frase "O que tiver de ser, será". O meu namorado Felipe me acompanhou até a sala, ele é um amor de pessoa, estamos namorando a 2 anos. Eu achava que nunca fosse conseguir entrar para um relacionamento novamente depois do meu último, achava que nunca mais fosse encontrar alguém que me tratasse bem, mas parece que o Felipe está me provando que eu estava errada, que ainda existe amores que podem ser vividos e que sempre existem novas pessoas, novos momentos, novas experiências, enfim que sempre existe coisas novas a serem vividas.
   Assim que entrei na sala lembrei que foi a que eu estudei meu 9º ano e também foi a sala que eu dei meu primeiro beijo com o Vicente. Tá vendo só o motivo de eu ter tido que mudar de cidade? Porque em todos os lugares a gente estava juntos, tudo era lembranças e eu não poderia deixar meu coração se curar, cicatrizar se continuasse nessa cidade. Hoje não dói tanto mais, mas na época era como se fosse uma facada no meu coração. Na sala tinha cerca de 20 pessoas, alguns eu ainda lembrava, reconhecia, porém não mantinha mais amizade. Na época que me mudei para a outra cidade cortei o contato totalmente com todas as pessoas daqui, só mantive mesmo com 2 amigas minha que não faziam parte do mesmo ciclo de amizade dele, nosso ciclo de amizades também era basicamente o mesmo, cidade pequena onde todo mundo conhece todo mundo, por isso foi melhor para mim cortar o contato com boa parte. Me permiti conhecer pessoas novas na minha cidade atual e confesso que isso me fez bem. Às vezes é necessário encerrar ciclos para começar ciclos novos, acontece que eu não entendia isso muito bem na época, encerrar ciclos pra mim naquele tempo era como se a vida acabasse também, porque eu não gostava de mudanças.
    A prova teve duração de 5 horas, são nessas provas de concursos que eu lembro das vezes que eu fazia o Enem. Eu sempre gostei de observa muito as situações, as coisas ao meu redor e hoje pude observar que a 6 anos atrás a Alyssa era apenas uma aluna dessa sala e hoje está fazendo uma prova para dá aula nessa escola, a Alyssa de 4 atrás estava prestando vestibular para conseguir uma vaga na faculdade e hoje está formada em um curso que ainda não é o que ela tanto queria, mas que também gosta bastante. A vida realmente é uma escadinha com vários degraus que quando você chega em um dos mais altos pode ver o tanto que já subiu e ver também aquele que você mais teve dificuldade em subir, mas que conseguiu.
  Quando sai da sala já fui logo no banheiro passar um pouco de água no rosto. Tava com uma cara de quem não dormia a uma semana, pois era essa a minha realidade, esses dias estão sendo uma correria, estou trabalhando em uma escola da minha cidade atual que por sinal está exigindo muito do meu tempo. Ao me olhar no espelho pude ver o quanto mudei, quando tinha meus 19 anos era bem magrinha, usava aparelho e óculos, cabelo na cor preta e passava uma imagem de uma garotinha tímida. Hoje me vejo uma mulher mais madura, com postura que passa mais confiança as pessoas, de alguém determinada, ainda uso óculos, porém mais para ler e da aulas, não sou mais tão magra como antes, criei mais massa por conta da academia. Eu gostava da Alyssa de 4 anos atrás, mas hoje eu gosto muito mais da Alyssa atual. É muito satisfatório você olhar para seu passado e ver o quanto você evoluiu, não só fisicamente, mas mentalmente também.
    Antes de sair do banheiro mandei uma mensagem para o Felipe vim me pegar na escola avisando que eu já tinha terminado minha prova. Inclusive, acho que fui bem. Logo de ter mandado a mensagem fui para o pátio e fiquei lá aguardando ele vim me pegar. Nesse tempinho aqui encontrei uma amiga que fazia tempo que a gente não se falava, mas a amizade pelo visto continuava a mesma.
     -Alyssa, que surpresa encontrar você aqui. Como você tá?
     -Oie, Sandra! Quanto tempo, não é mesmo? Estou ótima. E você?
     -Estou ótima! Nossa, menina quase não te reconheci, você mudou muito. -Comenta Sandra.
     -Que nada, mulher! Você que tá bem mais bonita, um mulherão. Senti saudades!-Comento.
     -Eita, você achou?
A Sandra não tinha mudado nadinha em comparação a personalidade, na época que a gente estudava juntas ela amava um elogio, ficava toda se achando. Eu adorava esse jeito dela, sempre teve a autoestima bem alta, já eu tinha a minha lá no fundo do poço.
     -Claro! Ainda te considero amiga, viu- A gente caiu na gargalhada.
      -Eu achei que você não me considerasse mais, já que cortou completamente o contato comigo sem nem me dá explicações. Eu queria poder ter te ajudado naquele momento difícil que você passou, mas você só queria ver todo mundo longe de você.
      -Sandra, eu acho que a gente precisa combinar de tomar um café para colocar o papo em dias e esclarecer muitas coisas do passado. Mas, respondendo a sua pergunta, eu nunca esqueci da nossa amizade, muito menos de você, não me afastei só de você, mas sim de todo mundo aqui da cidade que eu tinha contato e você sabe o motivo. Não me afastei por querer, mas sim por uma necessidade, entende?
        -Eu acho que entendo. Mas, vamos sim marcar de tomar esse café, vai ser muito bom. Mas, me conta, como está indo sua vida?
        -Amiga, eu ainda moro com meus pais em Floriano, você sabe que sou muito apegada a eles, né? Terminei a faculdade de letras recentemente e pretendo começar a de psicologia, você sabe também que sempre quis esse curso, né?
       -Sim, você sempre foi muito apegada com seus pais. Aliás, como está a tia mais o tio? Sinto tanta saudades dos nossos passeios com eles, até mesmo do chato do seu irmão, ele já casou? Nossa, eu achei que você tivesse seguido logo no curso de psicologia, mas você deve ter amado esse de letras também, né?
       -Eles estão ótimos! A mamãe sempre fala em você, já o papai você sabe como que ele é na dele, não fala muito. O Mathias quer só pegação, amiga. Dizendo ele que não pensa em namorar sério. Foi uma experiência maravilhosa cursar letras.
          -Mas, chega em falar só de mim, vamos falar de você também. Me conta os babados.
          -Alyssa, eu nem te conto, eu já sou mamãe. -comenta Sandra caindo na gargalhada.
          -Eu nem me surpreendo mais, Sandra. De todas as minhas amigas eu sou a única que ainda não sou nem titia-Comento sorrindo.
          -Pois, não se preocupa que agora você já vai ser titia da minha menina. -A gente caiu na gargalhada.
          -Mas, você casou, né Sandra?
          -Sim, você lembra do Pedro?
          -Claro, lembro. Ele vivia enchendo nosso saco. Agora eu entendo o porque.
          -Nossa, era mesmo. Ele mudou muito, Alyssa. A gente se dá muito bem, apesar da família dele não gostar muito de mim.
          -Apesar dele viver atentando a gente eu lembro do quanto ele era humilde também, não podia ver uma pessoa precisando de ajuda que já tava lá ajudando. Eu fico feliz por você, amiga. A família dele continua sendo chata, né? Eu lembro que quando ele namorava com a Kamila a família dele não gostava só porque a menina não tinha uma situação financeira tão boa quanto eles.
       -Sim, amiga. E eles não gostam de mim justamente por esse motivo. Mas, procuro não me importar muito, se o Pedro me ama, tá comigo e não dá ouvidos a eles é isso que importa. Mas, é claro que eu fico me sentindo excluída.
        -Deve ser bem chato mesmo. É isso aí, procura não se importar muito. Agora vocês tem a neném pode ser que a situação entre você e a família dele possa melhorar mais. Aliás, qual o nome da neném?
        -Sim, eles até gostam da neném. Coloquei o nome dela de Anne, inspirada naquele série que eu e você sempre assistíamos.
        -Eu não acredito! Que nome mais lindo, a gente amava mesmo aquela série e os livros. Até hoje eu não consegui ler a continuação da série, acredita?
        -Nossa, eu lembro que você devolveu pro Vicente aquela continuação da série que ele lhe deu de presente, né?
         -Foi!
         -Aí, amiga. Desculpas, eu não deveria ter tocado nesse assunto.
        -Não tem problema. Aliás, meu namorado já está chegando pra gente já ir embora.
    Ainda bem que o Felipe chegou em uma boa hora, sempre me salvando, esse homem é um anjo mesmo. Sei que a Sandra não comentou por maldade, mas é sempre assim, esse foi um dos motivos para eu me afastar de todos por aqui também.                                  
    -Felipe, essa é aquela minha amiga Sandra que já comentei com você. Sandra esse é meu namorado Felipe.                                                                                        -Olá, tudo bem? -Felipe cumprimenta Sandra.
  -Tudo ótimo. E com você?
  -Tudo muito bem. Obrigada!
  -Sandra, amiga foi um prazer lhe rever novamente.   Me passa seu contato pra gente ir se falando.
Assim que a Sandra passou o contato dela a gente se despediu e eu fui mostrar melhor a escola pro Felipe.
   -Aqui é bem grande, hein. -Comenta o Felipe me abraçando.
   -Como foi a prova, amor? -Pergunta.
   -Foi até de boa, não foi tão difícil como eu imaginei.
   -Tenho certeza que você vai conseguir ser aprovada. A sua amiga também veio fazer a prova?
   -Obrigada por sempre me apoiar tanto, Liphe. -Dou um abraço bem forte nele.
    -Nossa, a gente ficou tão animada vendo uma a outra e conversando sobre outras coisas que eu nem perguntei se ela veio fazer a prova também. Mas, provavelmente sim, já que quando eu ainda morava aqui ela conseguiu passar na faculdade pra matemática.
     -Você merece, minha linda! Eita, muitas fofocas, né bonitinha. Eu tô adorando conhecer sua escola e a cidade.
    -Só você mesmo, viu. -A gente ficou sorrindo.
  O Felipe nunca tinha visitado aqui a cidade e aproveitou essa oportunidade pra vim comigo. Eu também não costumo falar muito daqui. A gente deu uma volta pela escola e chegando no estacionamento eu paralisei, não era possível, mesmo com tanto tempo meu coração ainda acelerava. Lá estava o meu ex.

Maldito ex Onde histórias criam vida. Descubra agora