Cotidiano.Eu gostava disso. Gostava da sensação de estar no controle de tudo, de saber o que eu iria comer, qual roupa iria vestir, quais seriam meus compromissos. Eu era bom em administrar minha vida, eu era ótimo, na verdade. Aprendi com meus pais a sempre estar um passo à frente de mim mesmo, no que posso lembrar, minha mãe sempre foi muito adiantada, e meu pai sempre já estava lá.
Naquela manhã, tudo seria exatamente como planejado. Acordei cedo, sai para correr – dentro do prédio, na academia, com vista para o mar. Meu banho foi na temperatura de 33º regulado diariamente no aquecedor. Arrumei meu cabelo do jeito que sempre fazia, coloquei a camisa branca bem passada, a gravata em tom vinho, os sapatos pretos brilhantes. Perfume nas zonas quentes, apenas uma borrifada.
Meu café preto estaria esperando junto com o jornal. Fátima deixava tudo perfeitamente arrumado, era meu verdadeiro anjo salvador.
— Bom dia, querido. — ouvi aquela voz quase maternal e sorri para a mulher.
— Bom dia, Dona Fátima, chegou cedo?
— Hoje era dia de receber as coisas do mercado.
— Veio tudo certo? — eu perguntei enquanto tomava um gole grande do café.
— Claro, se não Hugo ia se ver comigo. Tudo certo e fresquinho, do jeito que eu gosto. Vem almoçar em casa?
Pensei no cardápio, que defini 15 dias antes e sorri ao lembrar o que tinha escolhido. Concordei com a cabeça. Fátima se afastou e me deixou sozinho na ampla sala de jantar do apartamento. Peguei o celular e cheguei os últimos e-mails. Reunião, acordo, definir prazos e metas.
Giovanna Antonelli.
O nome dela estava no topo de minhas últimas mensagens, era um e-mail direcionado a equipe de produção de material, comigo marcado junto para acompanhar o processo.
Eu não estava brincando quando disse para Mariana que Giovanna era a melhor. Na verdade, eu acompanhava o trabalho daquela mulher ao menos dois anos antes dela entrar na empresa. Eu gosto de ter apenas os melhores ao meu redor, e Giovanna vinha se destacando no perfil de marketing da empresa que trabalhava antes. Eu queria o melhor, e queria Giovanna trabalhando para mim. Mandei uma proposta irrecusável, e cá estava ela.
Derrubando café em minha camisa italiana logo no primeiro dia.
Eu estava a caminho de sua sala naquele primeiro dia, queria dar as boas vindas, mas ela me pegou primeiro. Elegante e estabanada, e eu me perguntava até hoje se isso era parte de sua personalidade ou apenas uma coincidência infeliz. Não me colocaria em risco, por isso me mantive bem longe de seu andar, acompanhando tudo a distância. Ela era boa mesmo.
Meus devaneios são interrompidos pela ligação de Mariana, provavelmente acordava agora para sua aula de pilates. A foto dela na tela do meu celular era quase um lembrete do porque ela deveria continuar investindo em seu físico. Mariana tinha um corpo lindo, cabelo loiro em um tom único.
Uma personalidade... forte.
Se alguém me perguntar porquê a amo, não sei dizer. Só sei que amo, e o nosso casamento parece um acerto. Era lógico, era planejado desde que éramos jovens namorados, mesmo com idas e vindas a gente sabia bem onde iríamos parar. E a segurança de Mariana era boa para meu coração.
— Bom dia, meu amor. — ela falou logo que atendi.
Sorri, ela era sempre bem humorada.