VIII

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Alexandre

Era pura física, química e biologia as sensações que eu tinha ao lado de Giovanna. Falava isso enquanto observava a feição do meu melhor amigo se contorcer. É, eu sabia que estava fodido, mas ter essa reação do maior cachorro do Rio de Janeiro me deixava ansioso. Rodrigo era a única pessoa que me conhecia do jeito que eu deixava transparecer. Falhas, desvio de caráter e tudo mais.

— Você se escuta quando fala? — ele me perguntou surpreso. — Você está completamente apaixonado pela Giovanna.

— Calma, não é pra tanto. — tentei me justificar, virando o resto de cerveja do meu copo.

— Alexandre, você nunca falou assim da Mariana. Isso aí. — ele apontou para meu peito. — Isso é amor. A Mariana era lógica, e caralho, eu fico tão feliz de ver que você percebeu isso antes de colocar um anel no dedo dela.

— Calma, eu ainda vou casar.

A minha voz transparecia um medo que não era meu. Não era meu pois eu nunca estive na posição de perder algo tão seguro e estável, nunca estive na cara de uma daquelas paixões de filme. E eu estava bem assim, eu estava feliz.

Eu não precisava da física, química e biologia.

Eu tinha o concreto me esperando no apartamento da Barra. Mariana era o concreto para mim, o encanto, a surpresa com Giovanna, só poderia ser explicada por hormônios, jeito, compatibilidade de gênios ou até mesmo crise de meia idade. Eu não conseguia compreender como ela poderia mexer tanto comigo.

Ouvir Rodrigo falar na palavra amor me deixava apavorado.

Desejo? Curiosidade? Talvez.

— Como você pode casar com uma mulher enquanto ama outra? Você acha mesmo que a Mariana não está percebendo esse seu jeito?

— Que jeito?

— A sua cara mudou. Você está mudado, é o mesmo, mas está diferente.

— Rodrigo, eu...

— Você precisa terminar essa noivado.

— Não posso.

— Ela não sente o mesmo?

— Não sei. Acho que não, não sei. Tenho medo de descobrir. Medo de ver.

Senti Rodrigo tocar meu ombro, chamando minha atenção. Em todos esses anos eu sempre fui o homem sábio a dar os conselhos, a falar que Rodrigo deveria se declarar, seguir em frente de alguma decepção, ou parar de ser um galinha. Nunca pensei que a essa altura da minha vida, com os pés no altar, estaria ouvindo dele conselhos sensatos.

— A Mariana não merece isso. — ele falou sério. — E nem a Giovanna, se por acaso passou pela sua cabeça que ela poderia ser sua amante.

— A Mariana é o certo. A Giovanna é...

— É a vida acontecendo e que você percebe que não pode controlar.

Eu fui para casa naquela noite com o estomago embrulhado me perguntando em que momento em me perdi de mim mesmo. Se eu ao menos sabia quem eu era ainda, pois tudo aquilo que Rodrigo havia me apontado aconteceu sem que eu pudesse evitar.

E eu nunca perdi o controle desse jeito.

É óbvio que eu sempre imaginei minha vida com Mariana, mas eu via e me despertavam coisas com Giovanna que eu não tinha visto ainda, que eu nunca quis mexer.

Me sentia completamente perdido.

E precisava me achar de novo.

Entro no apartamento, encontro as luzes apagadas, mas um som baixo vem da direção da área de TV. Estava tarde, e eu sabia que Mariana estaria dormindo, mas percebi que ela havia dormido no sofá. Encolhida dentro de uma manta quente, o ar condicionado lhe permitia esse conforto. Aquela era a minha noiva, era nela que eu deveria me manter firme, por ela honrar esse compromisso.

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