IV

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Alexandre

Acho que essa foi uma das transas mais sem graça que já tive com Mariana.

Devia soar bem canalha da minha parte pensar assim depois dela ter me chupado como uma deusa no banheiro, de ter empinado a bunda pra mim e ter pedido para eu bater nela com força. Em geral só o pensamento me deixaria de pau duro, mas algo de mim estava desconectado. Ela estava dando tudo de si, é claro, aproveitando também. Mulher minha não saia insatisfeita. Mas foi tudo tão mecânico que eu não sabia explicar o sentimento de desespero que deu em mim. Em certo momento quis gozar logo então só pensei em outros momentos que tive com ela.

Colocava a camisa azul marinho, me arrumava de maneira mais despojada, final a festa era na casa de minha mãe. A noite estava mais quente, agradável para o evento. Mariana saiu do banheiro usando um vestido vermelho, olhei para ela com certa confusão, ela gostava tanto de combinar roupa comigo, um jeito de marcar o território.

— Azul marinho? Você não me disse que já de azul marinho... disse que ia de vermelho!

— Acho que eu esqueci. — falei simplesmente. — Mas você está linda, vá assim mesmo.

Mariana sorriu contrariada e voltou a se arrumar. O sorriso dela não fez cócegas em mim. Em algum momento já tinha feito? O que estava acontecendo? Devia ser só estresse, nervoso, trabalho, como sempre meus problemas de vida.

Giovanna

— Voce vai na merda dessa festa, Giovanna! — ouvi a voz de Yuri do meu pequeno closet.

Eu segurava uma taça de rose e não via a hora do meu melhor amigo parar de insistir em algo que eu já tinha falado que não ia rolar. Ele estava louco? Aparecer sem mais nem menos em uma festa de família para comemorar a formatura de uma garota que eu tinha visto uma vez só.

— Yuri, não vou, sossega.

— Giovanna, você vai! — a voz dele pareceu de uma mãe, bem estridente e nervosa.

Parei na entrada do meu quarto de hóspedes onde deixava todas as minhas roupas. Sempre foi meu sonho ter um closet, mas o quarto de hóspedes ao lado do meu dava para o gasto. Via meu amigo revirando meu armário.

— Caralho, você não tem uma merda de vestido aqui? — o sotaque carioca puxado de quando ele ficava irritado me fez rir.

— Eu tenho muito vestidos, mas não adianta, Yuri, eu não vou.

Meu amigo se aproximou de mim com um olhar piedoso, como se eu fosse uma coitada que não estava entendendo que não tinha escolha. Ele segurou meu rosto entre as mãos, apertando minhas bochechas, formando um biquinho.

— Escuta, meu amor, foca aqui no tio, você vai nessa merda dessa festa, porque um multimilionário de braços enormes e perfume caro foi até a sua salinha de pobre e te convidou, você tá pegando? Tá acompanhando aqui?

Gargalhei com a insistência, mas voltei para meu vinho.

— Você só esqueceu que esse chefe de braços enormes é noivo, e ela vai estar lá.

— Isso é detalhe, Giovanna! Você está se apegando a detalhe!

Ele falou exasperado, e eu o olhei para tentar entender o que ele estava enxergando que eu não via.

— Em anos que eu trabalho ali, nunca vi Alexandre se preocupando com ninguém. Se você não tivesse insistido em saber o que ele tinha ido fazer na sua sala, estaria até agora ouvindo ele tentar te convencer a ir para casa. Me admira ele não ter que levado a força.

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