GiovannaExistia um calor dentro de mim, uma vontade de fazer algo incrível na vida, um projeto único, algo imbatível, maior que eu mesma. A oportunidade estava ali nas minhas mãos, sendo oferecida não ironicamente pelo homem que eu amava. As vezes as pessoas que amamos não vai retribuir nosso amor como gostaríamos, mas vão nos devolver o sentimento de alguma forma. Alexandre já disse que meu trabalho era incrível, que eu era a maior, mas isso aqui, esse grau de confiança era além de tudo que eu poderia imaginar.
Ele me queria nesse projeto. Me queria perto.
— Eu vou fazer o melhor marketing que você já viu. — falei entusiasmada, com agitação de uma criança com o brinquedo favorito.
— Tenho certeza que vai.
Peguei a pasta e a agarrei com mais força no corpo. Me afastei para a porta quando ouvi sua voz me chamando.
— Sua cor favorita é verde. — ele falou sem olhar para mim, como se aquilo fosse banal.
— Como?
— Verde, você gosta de verde, mas se sente mais confiante em um verde militar, sempre que está usando algo nessa cor anda como se dominasse o ambiente.
Estava parada com a mão na maçaneta, minha feição devia evidenciar minha surpresa, pois quando me olhou, sorriu gentilmente.
— Eu disse que te conheço, vou provar isso.
Podia ter sido sorte de principiante e eu poderia muito bem dizer que era mentira para vê-lo sendo pego no pulo, mas a verdade ficou estampada em minha surpresa. Era algo tão básico, mas ele me leu perfeitamente.
Odiei estar tão aberta a ele. Tão exposta.
Ele via tudo?
Via que eu já estava rendida a ele há anos?
Por que ele nunca fez nada antes? Se ele era tão bom, devia ter feito, não é?
Com o mesmo entusiasmo mental, sai um pouco mais triste de coração. Alexandre era do tipo que parecia mentir muito bem. Parecia verdade. Nunca tinha entendido a música favorita da minha mãe como agora. Zezé Di Camargo cantava para mim quando dizia que parecia verdade aquela mentira toda, e eu vou acreditando. Acreditando na ilusão que era ele.
Todo ele.
Disposta a não pensar mais nisso, em seguir minha vida longe das palavras de Alexandre, começo a me dedicar no projeto.
Canadá era um país multicultural, que tinha inclusive leis de imigração bem flexíveis, estimulando a vinda de novas culturas para o país. Por um lado visando o aumento da mão de obra, por outro por de fato ser um país bem aberto e gentil. Automaticamente me interessei por aquilo tudo.
Não me imaginava saindo do Rio de Janeiro de vez, principalmente pela minha mãe, mas uma temporada fazendo algum curso fora parecia interessante.
Alexandre
Que Giovanna era um gênio, disso eu já sabia. Mas ela conseguia ser melhor do que isso. Quando eu disse que poderíamos trabalhar juntos nisso, achei que ia demorar mais para ela me chamar pra ver o que tinha feito até agora, até porque pesquisas demoram, principalmente a de público e consumo. A quantidade de copos vazios de café superfaturados na mesa dela me diziam que ela estava ligada no 220v mais do que nunca. Ela falava tão animada tudo que tinha descoberto, que por mais que eu tentasse prestar atenção porque isso era importante para nós, não conseguia desviar a atenção do seu sorriso.
Eu estava perdido bem aqui.
— E então? O que acha das ideias? — ela perguntou, parando finalmente ao lado do projetor de sua sala, uma mão na cintura e a outra do pescoço.