Capítulo 1

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Clair Hale

Quando somos crianças temos a tendência de almejar muitas coisas mesmo sem saber seus verdadeiros significados, desde as mais simples, como um doce do mercadinho da esquina, até as mais complicadas, aquelas que via outras crianças da sua idade ter e você não, como amigos verdadeiros ou um pai presente.

Sempre observei a facilidade com que os meus colegas de classe faziam amizades com outras pessoas, seja da mesma turma que a nossa ou de outra, mas comigo isso nunca funcionou. Parecia existir uma barreira entre mim e as pessoas, um bloqueio constrangedor que me fazia perder até mesmo a fala e passar vergonha diante tantas pessoas. Me tornei a esquisita calada da turma que ninguém queria se aproximar, quem dirá numa tentativa de amizade.

No entanto, eu não compreendia o que tinha de errado comigo, porque eu só queria ser uma pessoa normal que tinha amiguinhos para brincar na escola. E foi por volta dos meus doze anos de idade que encontrei uma pesquisa em um dos livros da biblioteca daqui da escola sobre a timidez. Nele dizia que a timidez é uma emoção que afeta a forma como as pessoas sentem e se comportam face aos outros. Pode significar que a pessoa se sente desconfortável, envergonhada, nervosa ou insegura. Às vezes, a timidez pode fazer as pessoas ficarem vermelhas feito um tomate, tirar as palavras de sua boca mesmo tendo muito o que falar ou tremer em situações sociais. E esta foi a primeira vez que eu entendi porque sempre fora tão difícil para eu interagir com outras pessoas, principalmente as desconhecidas, e compreender o motivo pelo qual nunca consegui fazer amizades na escola e pelo qual os meus esforços nunca deram resultados positivos. O meu erro, na época, foi pensar que isso era culpa minha e que a timidez era como uma doença irreversível.

Olhando agora, alguns anos depois, compreendo essa situação com uma outra perspectiva, em que tudo que eu enfrentei e ainda enfrento sozinha talvez teria sido menos constrangedora e traumática se eu tivesse conversado sobre com o meu irmão, dito à ele o que eu estava passando e quais eram as minhas dificuldades, bloqueios e barreiras.

Caleb é o meu irmão mais velho e sempre foi o meu melhor amigo, aquele pelo qual eu procuro para desabafar, o ombro que me consola sempre quando estou triste, o sorriso que aquece meu coração todos os dias e a melhor pessoa que já entrou em minha vida. Ele é muito esperto, inteligente e ao contrário de mim, extremamente comunicativo e sociável! Nunca encontrei alguém que não gostasse do meu irmão, porque a sua companhia é muito boa e todos desejam tê-lo por perto! Tenho certeza que Caleb teria me dado bons conselhos sobre a timidez e tirado muitas paranoias da minha cabeça se eu tivesse compartilhado com ele meus verdadeiros sentimentos sobre este assunto. No entanto, agora, eu compreendo tudo de uma forma melhor e o fato de não ter amigos já não é um problema para mim mais. Como já diziam os velhos ditados populares: antes só do que mal acompanhada.

Eu e Caleb temos pouco mais de um ano de diferença de idade, nós fomos criados por Santana, nossa antiga empregada, até ele completar doze anos, e então nosso pai decidiu que tínhamos que nos virar sozinhos e demitiu a mulher que nos criou desde que eu nasci. Bobby, nosso pai, é um advogado renomado aqui em Londres e não é muito presente em nossas vidas, ele mal vem em casa depois do seu trabalho no escritório para nos ver e quando está em casa não conversa muito comigo e Caleb, e o odiamos por isso.

Às vezes, tudo o que nós gostaríamos de ter é um pai presente, que se importe de verdade com nossos sentimentos, alguém para nos dar um pouco de atenção, nos amparar e ser nossa fortaleza... Mas pelo menos temos um ao outro, e em um mundo onde Bobby ignora a existência de seus filhos, Caleb e eu somos a melhor dupla que esse mundo já viu, somos a fortaleza e a base um do outro.

No auge dos meus quinze anos, o que para muitas meninas é uma idade de muitas expectativas e novas experiências, para mim é somente mais um ano sem ela. As vezes me pergunto como seriam as coisas se ela ainda estivesse aqui conosco, se me amaria e cuidaria de mim, se seria minha melhor amiga, me daria conselhos sobre coisas de meninas que precisei aprender sozinha e, principalmente, se ela teria notado o quanto eu sempre odiei a escola por me sentir absurdamente sozinha lá mesmo estando cercada de pessoas e por ter que conviver com pessoas que são infelizes e cruéis. Infelizmente, são questionamentos sem fundamentos e que nunca terão uma resposta.

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