Capítulo 3

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Observo minha imagem pelo espelho do banheiro e não contenho uma careta ao ver o uniforme do colégio. A blusa social branca de botões combina com o blazer azul escuro de tecido grosso, a saia da mesma cor do blazer cobre somente metade das minhas coxas e visto também a meia ¾ branca por cima de uma meia calça térmica da cor da minha pele acompanhada de um par tênis na cor branca. Me sinto meio desconfortável nessa roupa, mas é obrigatório usar esse uniforme mesmo que por cima das roupas térmicas por causa do inverno. Os fios do meu cabelo loiro caem soltos pelas minhas costas após serem devidamente penteados e não passo maquiagem alguma em meu rosto. Pego minha mochila ao sair do banheiro e vou direto para a cozinha tomar o café da manhã.

— Você ficou maravilhosa nesse uniforme como sempre, florzinha. — Caleb diz rindo e eu o ignoro, pois ele sabe que odeio essa roupa. Não vejo sinal do meu pai por aqui, então nós apenas tomamos nosso café da manhã com certa pressa, pois estamos um pouquinho atrasados, como sempre, terminamos de nos arrumar com os agasalhos de neve e saímos de casa.

O uniforme dos meninos é um pouco mais simples que o das meninas, somente uma blusa social branca com gravata por baixo do blazer azul escuro de tecido caro, que vez ou outra os garotos do time de basquete trocam pela jaqueta deles, uma calça do mesmo tecido e tênis.

Sinceramente, eu acho uma grande baboseira essa coisa toda de uniformes para todos os alunos, principalmente pelo fato que eu odeio expor o meu corpo dessa maneira, mesmo que seja a mesma vestimenta para todas as garotas, eu não gosto dessa saia e da blusa branca. No ano passado, quando os garotos do time de basquete foram para a cidade vizinha para um jogo, incluindo meu irmão, Rachel acabou derrubando "acidentalmente" um copo de água em mim, deixando minha blusa transparente, marcando o meu corpo. E como qualquer outra escola, muitos garotos idiotas e babacas de Saint Louis fizeram comentários maldosos sobre mim durante um bom tempo, atormentando ainda mais a minha vida. Eu gostaria de ter feito algo para impedi-los de ver a minha intimidade, mesmo que meus seios estivessem cobertos parcialmente pelo sutiã, nada é capaz de controlar adolescentes escrotos com os hormônios à flor da pele.

Quando chegamos no colégio, eu faço de tudo para afastar as lembranças malditas que guardo só para mim da minha mente, principalmente ao ver alguns daqueles alunos babacas andando de um lado para o outro com os uniformes iguais e a pose de donos do mundo.

Caleb me acompanha até a minha sala de aula, se despede e depois vai encontrar seus amigos, como sempre faz todos os dias. Adentro a classe sentindo o meu estômago se revirar, com medo do que me espera hoje, e já sem ânimo de ter que lidar com todo o bullying mais um dia, mas não deixo de me surpreender levemente ao ver que a garota que me defendeu ontem está sentada novamente no mesmo lugar, na carteira à frente da minha. Ela é muito bonita, não posso negar que sua beleza natural chama atenção por onde passa e tenho certeza que irá fazer sucesso aqui em Saint Louis, com a sua pele negra, os cabelos cacheados volumosos e o corpo esguio. Evito lhe encarar ao passar por ela e me sentar na minha carteira de sempre, e torço mentalmente para que Rachel não venha hoje ou que pelo menos a professora chegue logo.

Estremeço quando ela atravessa a porta de entrada com seu nariz empinado, seus olhos logo me capitam sentada no fundo da sala e ela começa a caminhar em minha direção com a maldade flutuando em suas íris castanhas, mas graças a todos os seres superiores e a mãozinha invisível da minha mãe, antes mesmo que Rachel consiga chegar até a minha carteira, a professora adentra a sala de aula e ela retorna irritada ao seu lugar me deixando em paz por hora.

As coisas seguem mais tranquilas quanto poderiam até a nossa terceira aula do dia. Uma vontade enorme de ir ao banheiro me atinge e por mais que eu tente segurar para poder ir apenas no intervalo no banheiro da biblioteca, infelizmente tomei muita água essa manhã e dessa vez não será mais possível. Peço permissão à professora para ir ao banheiro discretamente e ela permite, saio da sala de aula enquanto os outros alunos fazem uma lista de exercícios que eu já finalizei e estou caminhando rumo ao banheiro quando um costumeiro frio na espinha me atinge e sei que estou sendo seguida. Olho brevemente para trás apenas para ter a garantia que é Rachel que está me seguindo e sigo direto o corredor sem rumo em vez de entrar no banheiro, onde ela poderá fazer o que quiser comigo e ninguém verá. Não tenho noção de quão perto ela está até senti-la agarrando meu cabelo, freando meus passos e puxando-me para trás.

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