Capítulo 4

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Clair Hale

Existe algo sobre se ter irmãos que poucas pessoas lhe contam: eles nos conhecem profunda e verdadeiramente. Nunca fui fã dessas teorias malucas do universo sobre irmandade, conexões de outra vida, pois tudo isso para mim não passa de uma grande bobagem. No entanto, preciso reconhecer o quanto Caleb é bom para comigo, o quanto ele me conhece, me entende e me respeita.

Apesar de toda a sua preocupação e da sua vontade de fazer justiça com as próprias mãos a todo mundo que me fez mal neste colégio maldito, Caleb se sentou ao meu lado, se calou e me deixou contar toda a história desde o início. Ele sabia que este é um assunto muito difícil para mim e que revelar meus sentimentos, dores e cicatrizes seria ainda mais complicado se fosse interrompida o tempo todo, então ele apenas segurou minha mão e prestou atenção em todas as minhas palavras.

Conseguir contar, finalmente, ao meu irmão tudo que eu passei foi como se um enorme peso fosse retirado dos meus ombros.

O bullying começou desde muito cedo, grande parte pela minha timidez e por não ter uma mãe viva. Não posso dizer que isso não me machucava, mas eu me acostumei, achei aquilo normal, e vendo o rumo que as coisas tomaram até hoje sei que esse foi o menor de todos os meus problemas. Aqui na escola de Saint Louis as coisas se tornaram mais pesadas, talvez por já sermos um pouco mais velhos e não meras crianças. Já fiquei presa no banheiro de propósito, meus livros tinham o poder de voar sem querer das minhas mãos quase todas as semanas, vez ou outra algum bilhetinho maldoso surgia em meu armário com palavreados que nunca estiveram em meu vocabulário, fora todas as ofensas e ameaças implícitas e explícitas.

Toda essa junção de acontecimentos ao longo dos anos em grande parte vinha de Rachel, vez ou outra algum outro aluno implicava comigo também, mas eu sei que é ela quem manda nas coisas. E como os súditos sempre obedecem a abelha rainha, eu me ferrei.

Reviver e recordar de todos esses acontecimentos me fez chorar como nunca antes, porque dessa vez havia alguém para secar as minhas lágrimas e que entendia a dor que eu estava sentindo. O meu irmão e melhor amigo me deu um abraço tão forte no final de tudo, que eu sabia que a partir desse momento minha vida tomaria um novo rumo. Uma nova Claire surgiria, e não mais sozinha.

— Ei, olhe aqui para mim. — Cal apanha meu rosto por entre as mãos e me faz olhar em seus olhos azuis como os meus. — Isso nunca mais vai acontecer, eu te prometo! Você é a pessoa mais especial da minha vida e nunca mais vou deixar você sofrer sozinha e passar por algo desse tipo novamente, minha florzinha. E eu também te prometo que aquela víbora não vai sair impune dessa escola!

Suas palavras, ditas com tanta segurança e verdade, me fazem chorar ainda mais e eu apenas sou capaz de concordar balançando a cabeça. Caleb me abraça mais uma vez e afaga meu cabelo enquanto choro, deixando de lado a compressa de gelo que a enfermeira trouxe alguns minutos atrás antes de nos dar um pouco de privacidade para conversarmos.

Após um tempo me afasto dele e seco o meu rosto, cansada de chorar e sentindo bem menos dor que antes devido ao remédio que tomei e que já está fazendo efeito.

— Noah e Melanie ainda devem estar parados ali do lado de fora esperando. — Comento fazendo meu irmão erguer os olhos para mim.

— Eu nunca vi essa menina na minha vida. E sobre Noah, ele é um garoto bom e realmente deve estar ali fora até agora.

— Melanie é aluna nova na minha turma, ela me defendeu daquela víbora duas vezes e é bem legal. — Caleb dá um meio sorriso.

— Espero que vocês possam ser grandes amigas. Você merece isso, irmã.

— Eu também espero. Ah, ela me chamou para dar uma volta hoje de tarde, acha que eu devo ir?

— Depois dessa manhã agitada, acho que é o melhor que você poderá fazer. — O loiro se aproxima e deposita um beijo em minha testa. — Eu te amo mais que tudo nessa vida, florzinha.

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