ousadia

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Como toda semana em que todos precisavam animar as coisas, Rio de Janeiro daria uma festa em sua casa na sexta-feira. Essa semana, o carioca sabia que especialmente alguns deles precisavam de um tempo para se desligar dos pensamentos, então ele anunciou logo no começo do expediente de sexta que haveria festa. Rio de Janeiro disse que todos deveriam levar as bebidas específicas que desejariam tomar, mas que as mais "gerais" ele providenciaria.

Obviamente, todos ficaram animados com isso, as festas do Rio de Janeiro sempre eram um evento de descontração do trabalho. A notícia contagiou a energia do lugar, fazendo com que o serviço se tornasse menos cansativo com a expectativa de uma farra posterior. Sendo assim, no final da tarde, todos já tinham terminado o necessário, despedindo-se para logo mais se verem.

Paraná não foi diferente, ele mostrou um vídeo de Tuga comendo uma folha enquanto estava em cima de Nana, arrancando vários "anwww's" dos espectadores entusiastas de pets. Despediu-se dos colegas e voltou para casa em uma caminhada tranquila. Ele não morava muito longe da empresa, nem da casa de Rio de Janeiro, então ele geralmente andava quando precisava a ir a qualquer um desses lugares. Diferente de, por exemplo, o gaúcho irritante, que morava muito mais longe e precisava exibir sua caminhonete sempre que vinha trabalhar.

- Será que ele vai ir pra festa de carro? - Paraná murmurou para si mesmo, observando o movimento das ruas e calçadas. Ele sentiu uma brisa gelada passando pelo corpo e mordeu o lábio inferior, pensando, de novo, no que deveria esquecer.

No conforto que sentiu em um dia frio.

- Não importa... - sussurrou e balançou a cabeça, caminhando mais rápido para seu apartamento.

E não demorou muito para abrir a porta e ver Nana dormindo em seu cantinho no sofá, parecendo o ser mais pacato de todos, como se nenhum problema mundano pudesse lhe atingir. A capivara sequer abriu os olhos com o som das chaves, tudo o que ela fez foi levantar a cabeça. Paraná riu baixinho e passou os dedos entre as orelhinhas dela.

- Desculpa se te acordei, Nana - ele falou e caminhou até o aquário de Tuga. A tartaruga ao ver seu dono, colocou uma patinha no vidro e o rapaz sorriu, colocando o dedo onde a tartaruga tocava. - Oi, Tuga - cumprimentou-a e olhou ao redor.

Estava tudo arrumado, tirando alguns brinquedos, potinhos e a caminha de Nana, nada estava fora do lugar. Seu apartamento era pequeno, mas Paraná sentia-se aconchegado no local, ele nunca gostou de muito espaço, é vazio demais. A decoração era pouca, havia somente dois quadros na parede perto da televisão. Um tinha uma foto sua com São Paulo e Minas, já o outro era uma selfie que ele tirara com todos da empresa. Em seu quarto havia mais quadros, outro com seus melhores amigos, um com os estados do Sul e outro somente dele e de Rio Grande do Sul - uma foto que ele tirou praticamente escondida do gaúcho.

Mostrava meio rosto do Paraná enquanto fazia um joinha e, ao fundo, estava Rio Grande do Sul olhando para longe. Era sua imagem de perfil, banhada pelo sol, evidenciando uma expressão serena. Rio Grande do Sul parecia estar pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, mas ainda sim parecia relaxado e feliz. Paraná gostava muito dessa foto, mas não conseguia lembrar exatamente do dia em que a tirou, porque foi um dia muito comum. Ele tinha saído para caminhar com Santa Catarina e Rio Grande do Sul depois do trabalho, pois a mulher disse que faria bom para os três espairecer.

Essa foto foi colocada há pouco tempo, ocupando o espaço de outra que o paranaense não queria nunca mais ver em sua frente.

Vendo ela agora, Paraná sabia que tinha feito a escolha certa em emoldurar essa foto, apesar de tudo. Ele deu um sorriso fraco, porém sincero, então começou a procurar alguma roupa para vestir. Não precisava ser nada muito bonito, ele na verdade nem sabia se tinha algo bonito de verdade para usar. Mas ele queria ser um pouco mais ousado nessa festa, pelo menos.

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