desejos e lágrimas

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Era início de semana novamente, com um novo dia de trabalho se iniciando, e Paraná queria simplesmente desaparecer da face da terra. Assim que o paranaense chegou na empresa, os Estados presentes puderam notar que havia envolta de si uma aura pesada de cansaço. Abaixo de seus olhos havia olheiras relativamente escuras e seus ombros pareciam pesados, curvados para baixo. Seus passos eram quase arrastados enquanto ele se dirigia até sua mesa e sentava na cadeira.

Assim que se acomodou, um suspiro alto deixou seus lábios.

São Paulo e Minas Gerais se entreolharam de longe, ao mesmo tempo em que Santa Catarina andou até Paraná, colocando uma mão em seu ombro. — Oi, Paraná, tu parece meio… Cansado — a mulher disse, dando um sorrisinho tímido para o rapaz.

— Catarina, oi… — Paraná deu-lhe um sorriso pequeno e um breve aceno de mão. — Tô cansado sim, mas logo melhora. Como foi seu final de semana? — o paranaense mudou de assunto.

— Foi tranquilo, passei na casa da Espírito Santo depois da festa e tu? — ela tirou a mão do ombro do paranaense e passou os dedos pelos cabelos do mesmo. — Vi que o Sul foi pra tua casa — os olhos azulados da catarinense brilharam com curiosidade e malícia.

Podia não parecer por fora, com o jeitinho deslumbrante de Santa Catarina, mas ela realmente era uma baita de uma fofoqueira. Se juntasse ela e Rio de Janeiro por algum tempo, certamente os dois descobririam todos os podres dos Estados em poucas horas.

Mas Paraná sabia que não adiantava tentar esconder nada da amiga quando ela estava determinada a descobrir. 

— Sim, eu levei ele pra casa, já que ele tava sem carro e tudo mais… — o paranaense respondeu e coçou a nuca, desviando o olhar para o chão, mais especificamente para a caminha de Nana abaixo de sua mesa. De vez em quando ele trazia ela e até mesmo Brasil gostava, de alguma forma ela animava os Estados. Outros também traziam seu pet, ocasionalmente, mas era sua capivara que fazia o maior sucesso.

— E como foi? — a loira perguntou. Se Santa Catarina estivesse sentada agora, estaria com o queixo apoiado nas duas mãos, balançando as pernas enquanto esperava ouvir as novidades. Mas como estava de pé, ela só levantou as sobrancelhas uma vez.

Paraná não respondeu nada além de um sorrisinho envergonhado e bochechas coradas.

Hmmmm — a catarinense proferiu, com um toque conhecedor, o que só fez o paranaense ficar ainda mais vermelho.

— Pare, não foi nada demais!

Hmmm então aconteceu alguma coisa — ela gesticulou com a mão, como se jogasse algo.

— B-bem… Foi só um selinho, muito rápido — tinha sido bem mais do que isso no decorrer da noite, mas nada tão extremo. Foram coisas simples, mas que marcaram de uma maneira extremamente positiva. Se por acaso Mato Grosso do Sul soubesse disso, falaria “baitola!” daquele jeito dele.

Aii! Tu jura?! — Santa Catarina sorriu e fez alguns gestos de mão animados, ela parecia uma coelhinha elétrica, dando alguns pulinhos.

— S-sim… — o moreno admitiu, passando a mão pelo pescoço, pelo ombro e a deixando cair em seu colo. O coração de repente acelerou ao lembrar em mais detalhes do ocorrido. Por mais que o desfecho daquela manhã não tenha sido muito bom, Paraná estava feliz com esse pequeno – mas importante – detalhe. Significou muito para si todas as coisas que aconteceram, por mais banais que pudessem parecer para os outros. Depois de tudo o que ele não teve e passou, migalhas pareciam um pão inteiro.

E não apenas foi bom, fez o paranaense se sentir ansioso, pensando demais em como deveria conversar sobre Miguel, sobre todas as coisas com Rio Grande do Sul. Ele temia ser rejeitado, de novo; que o loiro só quisesse algo mais casual e não sério. Para outros poderia ser simples a solução: conversar. Sim, ele sabia disso, mas quem disse que era tão fácil assim ter coragem de enfrentar isso? Ele tinha uma carga ruim consigo, advinha de acontecimentos passados nem tão distantes. Ele queria muito poder meter a cara tapa e ter uma conversa decente, todavia era difícil.

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