ternura

2.7K 208 591
                                    

Foi uma semana anormal para o gaúcho. Todos os dias ele foi para o escritório e não viu a figura familiar de Paraná. Era estranho ver aquela cadeira vazia, sem o moreno de sorriso sarcástico lhe encarando assim que chegava. A sensação de vazio preenchia seu peito toda vez que ele pensava em ir até a mesa do paranaense.

Rio Grande do Sul percebeu que passava mais tempo com Paraná do que imaginava. Notou a falta que sentia de simplesmente poder começar uma conversa aleatória com uma frase que sabia que deixaria o menor atiçado. Parecia errado não ter alguém para discutir de forma totalmente não madura e ainda sim dizer que era imaturo da parte do outro. Doía não poder ver vislumbres daquele sorriso com covinhas que o paranaense, de vez em quando, mostrava.

Realmente, era a típica situação de ter que perder para ver o que realmente sentia, notar a importância de algo, ou melhor, alguém.

E se o gaúcho já se sentia um merda perdendo Paraná por uma semana, sequer conseguia imaginar como seria se não conseguisse se desculpar com ele. Ele seria eternamente ignorado? As coisas ficariam estranhas por um tempo até que tudo voltasse mais ou menos a algo “normal” entre os dois? Rio Grande do Sul não sabia dizer e não queria gastar um único pensamento com isso. 

Assustador, definitivamente seria assustador ter uma das coisas que ele mais estimava tiradas de si por seus próprios erros. Porque ele foi incompetente em dizer a verdade, porque já estava acostumado a distorcer o que realmente sentia para não se machucar de novo. Pelo fato de que suas inseguranças foram mais fortes do que imaginava. Pelo fato de que era pavio curto, além do normal em alguns casos.

Ele queria mesmo continuar se batendo por não conseguir conter seus impulsos e sua boca. Porém não era saudável, se toda vez que ficasse com raiva ele se batesse, não seria bom. O método atual de constantemente trabalhar também não era saudável, mas Rio Grande do Sul estava começando a entender como equilibrar as coisas. O melhor começo para sua mudança, ou o caminho para ser menos pior, era compreender e pedir desculpas.

Então, durante toda semana ele ficou imaginando a conversa que poderiam ter, como iria pedir desculpas e como iria falar aquilo que estava preso em seu peito. Seria honesto, com certeza, dessa vez. Se tivesse muita coragem, até mesmo contaria sobre seus antigos relacionamentos para Paraná. E ele estava confiante de que seria capaz de fazer tudo aquilo que tinha planejado mentalmente.

Mas quando chegou a hora de encarar o paranaense no evento, não conseguiu sequer se aproximar. Assim que botou os olhos nele, suas pernas vacilaram e o estômago deu voltas. Ele estava ótimo com a camisa social vinho, ainda mais com os botões de cima abertos. Foi como um clique e a imagem do menor sem camisa veio-lhe à mente, todos os seus músculos e aquela maldita tatuagem.

A sensação de pânico tomou conta tão intensamente quanto um desejo queimando em todo seu corpo. Junto disso veio, também, uma avassaladora saudade.

E como Rio Grande do Sul só sabia lidar de uma forma instintiva com sentimentos muito intensos, ele fugiu. Fugiu durante um bom tempo, mesmo que Paraná parecesse o perseguir. O único momento em que ele manteve os olhos no paranaense foi quando Japão se aproximou do menor.

Eles se abraçaram, o gaúcho viu isso e teve que desviar o olhar quase mortal que lançou nas costas do japonês. Conhecia Japão o suficiente para saber que ele não era a pessoa mais física do mundo, mas com Paraná parecia haver uma exceção. Sempre que os dois se encontravam ficavam de toques aqui e ali.

Depois desse ocorrido, Rio Grande do Sul teve que colocar a cabeça no lugar. Após alguns bons minutos pensando e correndo um pouquinho mais de Paraná, o gaúcho finalmente tomou coragem e foi procurar o paranaense. O carma foi bem eficiente em fazê-lo rodar todos os cantos do salão até achar Paraná em uma espécie de sala mais isolada.

Escassez Onde histórias criam vida. Descubra agora