O celular de Paraná começou a tocar, uma música de um toque específico que o paranaense tinha definido para seu chefe, vulgo Brasil. Ele ouviu muito esse som na última semana, pois o homem o obrigou a ficar em casa, mas também fez questão de manter o paranaense informado sobre tudo o que aconteceu no trabalho. Por exemplo, algo que ficou sabendo era que Catarina obrigou Rio Grande do Sul a fazer um churrasco na semana seguinte.
E algo que aconteceria hoje – e que Brasil já falava sobre fazia semanas – era o evento envolvendo os Estados e países que o chefe estava organizando. Provavelmente Brasil estava ligando para avisar sobre isso, então Paraná ficou tentado a não atender, mas o fez de qualquer forma.
Assim que colocou o celular no ouvido, a voz de Brasil soou divertida:
— Tá arrumado?
— Ahn… Eu deveria? — o paranaense perguntou, enquanto pegava a cuia que estava no balcão e tomava um gole de seu chimarrão. Ele tomou algumas vezes durante a semana, havia comprado depois que Rio Grande do Sul veio ao apartamento, o que já estava nos planos para as compras, diga-se de passagem. O gaúcho só deu azar de ter acabado naquele dia.
— Sim! Paraná, eu te disse que hoje era o evento, não disse? — Brasil questionou.
— Sim, mas não era mais tarde? Não começa às seis? — Paraná verificou as horas, ainda estava muito cedo para sequer pensar em se ajeitar. Nem duas da tarde era.
— Claro, mas como eu sou o organizador preciso estar mais cedo — explicou o óbvio, mas que não explicou nada na verdade. O paranaense franziu o cenho e caminhou pela casa. Ele usava seus chinelos de capivara, enquanto a capivara real – vulgo Nana – o seguia. O barulhinho de suas patinhas contra o chão indicando sua presença.
— Mas… Brasil, o que isso tem a ver com eu estar arrumado? O evento começa daqui a quatro horas — o sulista se encostou próximo ao rack da televisão e Nana sentou entre seus chinelos. Ela virou o olhar em direção ao balcão da cozinha, de onde Tuga saia de trás.
A tartaruga veio caminhando sem pressa, uma pata de cada vez.
— Então… Olha pela janela rapidão.
Paraná levantou uma sobrancelha. Ele se abaixou e coçou a cabeça de Nana, sussurrando um “licença, filha”. Foi, então, até a janela. Do lado de fora, estacionado na frente de seu prédio, estava o carro de Brasil. O paranaense abriu a boca e piscou, vendo uma das janelas abrirem e seu chefe se inclinar para poder acenar em sua direção.
— Oi!!! Surpresinha! Você vai comigo, legal né? — Brasil acenou com mais entusiasmo, sorrindo largamente para o paranaense na janela. Paraná retribuiu o aceno, só que com menos energia.
— Você poderia ter me avisado… — ele ouviu as patinhas de Nana novamente e, quando olhou para trás, viu que a capivara andava no mesmo ritmo de Tuga, que chegara no rack e agora vinha em sua direção.
Teve que se controlar para não soltar um som consideravelmente constrangedor de pura fofura.
— Tô avisando agora — Brasil disse e Paraná revirou os olhos, rindo baixinho do jeito do chefe. Ele sempre foi assim, seguindo o próprio fluxo e arrastando todos para isso. Brasil fazia suas próprias regras, em qualquer particularidade da vida e talvez fosse por isso que ele fosse tão cativante. Ninguém conseguia resistir aos charmes do brasileiro e isso era um fato.
— Eu tô de pijama ainda — tentou usar de desculpa, mas quando ouviu a risada de Brasil, soube que não iria funcionar.
— Tô vendo, muito fofo inclusive! — era um pijama de tartaruga, Minas Gerais disse que queria um de capivara, mas não achou, então pegou um que parecia um kigurumi de tartaruga. Paraná adorou o pijama, mas jamais o usaria na presença de outras pessoas, a não ser o mineiro.
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Escassez
FanfictionDa escassez de uma peça, o pequeno detalhe que faltava para a completude, era isso que buscavam, inconscientemente. Orbitando ao redor do outro, clamando por atenção e pelo momento em que ficariam a sós. Ansiando o silêncio confortável, desejando t...