De última hora, Paraná pediu para Rio Grande do Sul o acompanhar até sua casa, oferecendo também sua residência para o gaúcho passar o resto da noite. Nenhum dos dois estava muito bêbado – eles pararam de beber e também comeram um pouco na festa –, mas concordaram silenciosamente que seria mais seguro caminhar juntos no “estado em que estavam”.
Ambos sabiam que era uma desculpa de merda, mas nenhum de seus amigos alcoolizados daria muita atenção para isso.
Então, sem muito remorso e depois de se despedirem de forma geral, Paraná e Rio Grande do Sul deixaram a casa de Rio de Janeiro. Os dois fizeram uma caminhada silenciosa e tranquila pelas ruas meio movimentadas, apenas acompanhando um ao outro em um clima agradável e pacífico.
Rio Grande do Sul estava ao lado do menor, observando-o de canto.
Ele tinha uma expressão mais leve, como se os problemas que o atormentavam não existissem. Parecia genuinamente relaxado e isso fez o gaúcho perceber o quão estressado Paraná esteve nos últimos dias, diria até semanas.
— Paraná… — o loiro chamou.
— Diga, piá.
— Por que… — ele iria mesmo estragar o humor do paranaense para sanar sua curiosidade? Não queria ver o sorriso do outro sumir, mas precisava conversar sobre isso. Rio Grande do Sul respirou fundo. — Por que tu não me contou sobre a mudança no acordo? Eu teria aceitado e até ajudado com isso.
Paraná parou de andar e virou para encarar o mais alto. Surpreendentemente, seu sorriso ainda estava ali, porém mais tímido, como se quisesse se esconder, mas não conseguisse.
— Eu não sei só… Tipo, foi uma ideia impulsiva, vendo que o seu Estado não tinha tanta vantagem — o moreno riu baixinho e negou com a cabeça, seu olhar fixou-se na calçada suja abaixo de seus pés. — Foi em um momento que eu só queria me encher de coisas pra fazer. Daí acabou que eu resolvi tudo e antes que pudesse falar sobre a mudança e o atraso, você veio me confrontar.
Paraná levantou a cabeça e sorriu de uma forma que Rio Grande do Sul não conseguia descrever, apenas sentir.
Ele estava parado em meio a noite, com apenas a luz amarelada dos postes mostrando suas feições bem contornadas, Paraná era iluminado pela luz noturna. Os carros passando emitiam ruídos e produziam uma brisa sutil, que bagunçava os fios escuros do paranaense. Havia um brilho destacado nos olhos de Paraná, em conjunto com aquele sorriso que fez o coração do gaúcho queimar e doer ao mesmo tempo, contando segredos silenciosos e fazendo um pedido mudo. Uma confissão velada daquilo que os dois já sabiam.
A sensação de afogar-se com uma visão nunca foi tão real e talvez fosse o álcool deixando-o mais leve, mais atento, mais sincero. Porque tudo o que ele queria era pegar Paraná nos braços, cobri-lo com todo o seu ser e sussurrar tudo aquilo que guarda no peito há tempos, tudo aquilo que ele tem medo. Confessar que nunca foi por mal, murmurar baixinho seus desejos e receios. Explicar não era fácil, mas que queria mesmo assim.
Nenhum dos dois disse nada e Paraná olhou para o céu, enquanto Rio Grande do Sul sufocava em pensamentos, afogando-se na visão entorpecente do paranaense naquela noite, parecendo machucado e relaxado em partes iguais.
Foi então que Rio Grande do Sul desistiu.
Não aguentando, ele andou até Paraná e agarrou a mão dele, assustando-o. O loiro encarou o paranaense e apertou sua mão. Milhares de palavras passaram por seus olhos claros, mas nenhuma deixou sua boca. Depois de algum tempo, a única coisa que deixou seus lábios foi um trêmulo:
— Desculpa…
Paraná levantou uma sobrancelha, então riu baixinho, apertando a mão do gaúcho de volta. Ele gostava de Rio Grande do Sul assim, quando ambos estavam sozinhos. Os outros Estados não imaginavam, mas na verdade os dois eram bem confidentes, cheios de toques indiscretos, mesmo que a maioria fosse acompanhada logo em seguida por provocações de brincadeira. Sozinhos, ambos se soltavam mais, porque o que eles tinham não precisava de olhares alheios.
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Escassez
FanfictionDa escassez de uma peça, o pequeno detalhe que faltava para a completude, era isso que buscavam, inconscientemente. Orbitando ao redor do outro, clamando por atenção e pelo momento em que ficariam a sós. Ansiando o silêncio confortável, desejando t...