entre dragões, capivaras e tartarugas

3.1K 237 740
                                    

- Dae manin, como cê tá? Aproveitou bastante o carioca? - de manhã, Paraná falava ao telefone enquanto preparava um pão bem reforçado para si e para o gaúcho adormecido em seu quarto.

- Vai se foder, Paraná - a voz cansada de São Paulo soou na linha e o paranaense riu, quebrando dois ovos na frigideira e colocando um pouco de queijo ralado junto.

- Bom dia pra você também, xuxuzinho - o moreno brincou e mexeu um pouco do ovo, depois colocou um pouco mais de queijo e fechou a frigideira com uma tampa de vidro.

- Hm... Dia, manin, me ligou por quê? - o paulista perguntou roucamente, após um bocejo.

Paraná vagou pela cozinha, abrindo um armário e tirando um saco de pães. Pegou dois pães-franceses e voltou para perto do fogão.

- Falar sobre a conversa de ontem, mas se você tiver ocupado, tudo bem, não tem problema - explicou o sulista, ao mesmo tempo em que cortava os pães ao meio.

- Não! Não, eu tô livre só... Uuh... - Paraná ouviu alguns murmúrios e um gemido que provavelmente saiu da boca de Rio de Janeiro. Logo em seguida, o som de uma porta fechando foi escutado. - Pronto, pode ir falando.

O paranaense riu baixinho e provocou:

- Tem certeza que não quer ficar na cama?

A ligação ficou em silêncio por alguns segundos.

- Mais um comentário desses e eu desligo, sulista de merda - São Paulo ameaçou e Paraná negou com a cabeça.

- Haha, tudo bem, relaxa... - sorriu e colocou duas metades de um pão na frigideira junto do omelete, fechou a tampa e mexeu o utensílio algumas vezes. - Ontem eu, tipo, tive uma pequena recaída? Meio que veio tudo quando eu ia me arrumar e não achei aquelas roupas que gostava. Lembrei que ele levou elas e daí juntou com o fato de que eu lembrei do incidente com o Sul esses dias...

Ele explicou e foi buscar dois pratos, voltando para o local de trabalho novamente em seguida. Na chamada, o paulistano fez um som de confusão.

- Por que você lembraria disso? - perguntou e logo veio o som de um isqueiro.

- Ele me pediu desculpas essa semana por ter surtado com o prazo - respondeu e tirou o omelete da frigideira, colocando no prato e depois unindo as metades. Estava feito um ótimo pão com ovo.

Paraná começou a repetir o processo para fazer o segundo pão.

- Ele se desculpou? - São Paulo pareceu tão surpreso quanto sua voz apática era capaz de indicar.

- Também fiquei surpreso, mas... Sabe, estou com esperanças de novo - murmurou e seu sorriso era perceptível pelo tom de voz. O paranaense deixou o omelete cozinhar um pouco, enquanto arrumava as coisas na mesinha.

Duas xícaras, pão de forma, colheres, açúcar, geleia, facas e a garrafa térmica de café que passara antes de fazer os pães. Ele olhou para a mesa posta de forma simples e sorriu. Um grande sorriso genuíno, porque seu peito estava quentinho. Óbvio, ele sabia que estava se emocionando, mas ele se deixaria iludir um pouquinho naquela manhã.

- Olha, cuidado se vai se meter nessa merda de novo, sabe o que rolou da última vez - São Paulo avisou, com aquele mesmo tom de bronca que só ele conseguia atingir.

- Eu sei, eu sei! Só que... Ele voltou comigo depois da festa e tá aqui em casa, a gente...

- Porra, vocês transaram?! - o paulistano cortou a fala do paranaense. E o berro do sudestino foi tão alto que Paraná precisou afastar o celular do ouvido, fora que ele foi capaz de ouvir Rio de Janeiro perguntando "quem transou?" ao fundo.

Escassez Onde histórias criam vida. Descubra agora