XVIII

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"o plano"

Uma semana depois...

Anna estava certa. É como se ela pudesse...ver o futuro, e para o meu azar, ela viu o meu.

A cada dia que se passa, me sinto mais fraca, apesar de comer muito.
Todos os dias baldes e mais baldes de sangue, são jogados fora.
Já posso sentir a respiração da morte em minha orelha.

Para completar, sonho e ouço a voz do Jason, quase todos os dias, o estranho é que...eu sinto o que ele sente, e posso...assistir sua vida em tempo real. Anna me disse que o bebê nos ligou, e os sonhos que tenho, é o bebê entrando na minha cabeça, pedindo a presença do Jason. Eu nem sei o que pensar.

Queria tanto minha mãe, queria me despedir, ou...sofrer mais um pouco.

- Emily!- diz Anna, entrando pela porta da sala com uma sacola cheia de "compras"
Ela não gosta que diga "roubo"- Tudo bem com você?- Ela pergunta isso dez vezes, por dia.

- Estou...indo.- digo, para não dizer que estou quase uma morta-viva. Ela coloca a sacola no chão e põe a mão em meu pescoço.

- Você está quente. Vomitou quantas vezes, hoje?- Faço um três, com os dedos.- Ótimo! Melhor que cinco.- Ela pega a sacola do chão, e vai até a cozinha.- Eu vou fazer...sopa.- Assinto.
Minha minha garganta está queimando, não posso falar muito.

Levanto-me do sofá, com dificuldade, minha barriga está muito dolorida.

- O que você está fazendo?- Ela vem até mim e tenta me levar de volta para o sofá.

- Anna, pare!- Digo alto.- Estou grávida, não com...uma doença terminal.- Na verdade a gravidez, é terminal. Ela abaixa a cabeça e sorri.

- Desculpe-me.- Sussurra.- É que...você é minha primeira e unica amiga por aqui, não quero te perder.- Sofro por ela, talvez porque...agora eu seja ela, também não tenho ninguém.

- Tudo bem...-Tento falar, mas uma dor me impede de continuar, minha barriga começa a doer, parecem que milhares de agulhas estão invadindo meu útero, me ajoelho sem aguentar.
Anna me deita no chão e levanta minha blusa, de repente ela põe uma mão sobre a boca.

- Meu Deus!- Grita, levantando-se. Olho para minha barriga nua, e vejo que veias grossas, sobem da minha barriga, até abaixo de meus seios.
Eu já vi isso antes; no rosto do Jason.

Agora está tudo claro para mim. Eu vou morrer.

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Anna e eu, estamos jantando em silêncio, tento não expressar dor, mas é quase impossível, as pontadas ficaram mais fortes.

- Eu não posso te ver assim, Emily.- Anna fala, largando a colher em cima da mesa. Olho para ela, sem entender.

- Do...que você...está falando?- Pergunto rouca. Anna levanta-se da mesa.

- Você precisa do Jason.- Ela só pode estar maluca.

- Mas...ele está em...Big City- Falo, com dificuldade.

- Eu sei!- Ela diz, com os olhos arregalados.- Nós temos que fugir daqui.- Agora sim, ela ficou doida.

- Todos que...tentaram morreram. Você sabe.- digo. Ela assente.

- Mas eles tinham uma coisa, que nós não temos.- Essa frase, não seria ao contrário?- Anna levanta a manga de seu casaco, me mostrando seu braço deformado, minha boca cai aberta, a brutalidade das marcas, embrulham meu estômago. - A surra que o Vincent me deu, me tirou muitas coisas...inclusive meu chip.- Uma luz se forma em minha cabeça.

- Podemos...fugir.- Falo sem acreditar. - Mas e...os Terminators...que guardam os...muros?

- Matamos, alguns.- Ela dá de ombros. Olho para ela, espantada- Temos que fazer isso, se for preciso. E para nossa sorte...- Ela sai da cozinha, e vai para algum lugar, fora do meu campo de visão.
Para onde essa louca foi?

Depois de alguns minutos, ela volta com uma bolsa preta, nas mãos.

- O que... é isso?- Pergunto, franzindo a testa. Ela então abre a bolsa, e retira duas armas de fogo, de dentro. Levanto-me depressa, sem me importar com a dor na barriga.

- Você...ficou louca?- pergunto apontando para as armas.- Onde conseguiu...isso?- Começo a tossir. Que droga de garganta!

- Emily, eu sempre sonhei em sair daqui. Mas nunca achei um motivo que valesse a pena, e aqui está você. Eu tinha esperanças de estar errada, quanto a você e seu bebê sobrenatural, mas não estou. Então vamos arriscar.
Afinal...o que prefere, morrer aqui? Ou tentar buscar uma chance de viver?- Ela tem razão, estou muito desmotivada, aceitando tudo de todos.
Já chega!

- Quando começamos?- pergunto motivada a seguir com esse plano suicida. Eu preciso pensar em mim, pois agora algo cresse dentro de mim, algo que é bom, apesar do que faz comigo, preciso protegê-lo.
Anna sorri e retira da bolsa uma espécie de mapa, estendendo-o sobre a mesa.
Não sei muito sobre mapas, mas Anna deve saber, pelo jeito que olha para o grande papel, que mostra cada canto de Hell's City.

- Não podemos perder tempo, a cada dia você se torna mais fraca, temos que ir... Hoje, pela madrugada. - Ela pega uma caneta, e marca um ponto do mapa. - Primeiro; Vamos passar pelo velho teatro municipal.- Ela liga um ponto ao outro.- Depois temos que subir no telhado de uma antiga fabrica de roupas. Está vendo isso aqui?- pergunta a pontando para uma espécie de escola, perto da barreira que separa as cidades. Assinto.- Existem muitos Terminators aqui, então talvez...- Ela olha para as armas. - Emily...não será fácil. Nó duas podemos...bom, você sabe.- Tenho que ser corajosa, não posso fraquejar agora.

- Tudo bem.- Digo firmemente.- Eu posso arriscar...minha vida, como você...disse; se é pra morrer...tenho que morrer... tentando, e não ficar... parada aqui, fadada... ao esquecimento.- Anna sorri novamente.

- É assim que se fala, garota.-Fala, recolhendo os objetos de cima da mesa e guardando-os novamente dentro da bolsa.- Vamos nos organizar. As três da madrugada, nosso futuro estará em jogo.- dito isso, ela sai da cozinha e some do meu campo de visão.

Lá vou eu, de novo!
Eu vim parar aqui, pelos meus pais desistiram de mim, não tentaram entender meu lado, e muito menos me deram chance de me explicar.

Eu não vou passar a vida, presa a pessoas que não me dão o devido valor, não reconhecem meus sacrifícios. Vou sofrer muito, mas pelo menos tenho a pequena chance de sofrer a perda dos meus pais, ao lado do meu bebê.

Hoje, será o dia mais decisivo de todos.
Será, matar ou ser morta.
Viver...ou morrer.

E então? Será que a Emily vai conseguir?
Vamos aguardar o próximo capítulo: "Morte"

Até o próximo.
Valeu pessoal!

O Beijo de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora