XIX

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"Morte"

Preparem os lenços de papel.

Muitas pessoas dizem que tem medo de altura.
Mas eu não acredito nisso. Não existe medo de altura, existe medo de cair"
--- Emily pensadora ---

Estou com meu coração na mão, nunca imaginei...que um dia estaria em pé, num prédio desse tamanho.
Anna e eu passamos pelo velho teatro, com uma certa facilidade.

Mas quando ela pegou a corda, de dentro da bolsa, aí eu soube que a coisa iria ficar feia...Ou melhor, alta.

- Falta pouco, Emily.- Anna murmura, que bom saber. Não falo absolutamente nada, apenas sigo seus passos. - Vem aqui.- Sussurra para mim.- Abaixe-se.- Vou andando em direção a ela, com muito cuidado.

- O que...foi?- Pergunto com os dentes batendo, minha visão está ficando turva, o rosto de Anna parece um borrão.
Ela aponta para uma coisa abaixo de nós.

- Terminators.- Diz, olhando para mim. Desvio meu olhar do seu, e tento olhar para baixo.
Vejo...talvez uns seis Terminators rondando uma área só.

- O que tem alí.- Pergunto, apontando para os Terminators que parecem guardar uma parede vazia.

- Nossa liberdade.- Anna fala, sorrindo. Olho de novo, para os Terminators, mas desta vez...é diferente, vejo que há um aparelho eletrônico na parede atrás deles.

- Como vamos...passar?- Pergunto confusa. Anna pega a corda, que estava dentro da bolsa, e amarra firmemente em...alguma coisa de metal.

- Vamos descer...e eu te digo.- Ela agarra a corda e coméça a descer do prédio. "Ela...não é normal." Penso.
A garota sobe e desce, como se estivesse numa gangorra.
Tento a todo custo, acompanhar seus passos, sem sentir tontura, ou falta de ar.

- Você...consegue.- Ouço o sussurro de Anna, abaixo de mim. Decido não responder, continuo meu caminho, determinada a chegar no destino certo.

Depois de minutos, ou talvez até horas, finalmente consigo tocar o chão, solto um longo suspiro de alívio.

- Tudo bem?- Anna pergunta, tocando meu ombro. Assinto, tentando recuperar o fôlego.
- Agora...eu vou te dizer o que vai acontecer, agora...

- Muito pelo contrário.- Escutamos uma voz masculina atrás de nós. Congelo, e pelo visto Anna também.
Viro-me, preparada para morrer.
O Terminator atrás de nós, é um dos maiores que já vi. Ele olha para mim e para Anna, sério. - Eu vou dizer o que vai acontecer, se vocês não me disserem o que estão fazendo aqui.- Ele aponta uma arma para minha cabeça.- Eu mato vocês.

Anna está tão nervosa, que posso até ver seus dentes baterem, e não é ela que está com uma arma gigantesca apontada para cabeça.

- Nós...- Começo, tentando achar uma desculpa apropriada. O terminator olha para mim.- Nós...estamos procurando...abrigo.

- É, é isso.- Anna gagueja. Fecho os olhos, sei que vamos morrer agora, se tem uma coisa que comprova uma mentira, é quando uma pessoa que não sabia o que dizer, fala: "É, isso"

- E vocês...vem parar exatamente aqui?- Pergunta debochadamente. De repente ele agarra a bolsa de Anna e puxa com brutalidade. "Claro Emily, ele é um Terminator" - Vamos ver o que vocês tem...- Ele fala, abrindo a bolsa e jogando todo o conteúdo no chão.- Olha!- Ele fala, fingindo surpresa.- Uma corda, um mapa, frutas...

- E isso.- Anna fala, apontando uma arma para ele. Ele sorri.

- Sabe o que me intriga? Não vi vocês duas no monitor. Só quando estavam descendo na parede da fabrica. Por que?- Ele pergunta calmamente. Anna se mantêm firme. - Garota, abaixa essa arma. Você não vai atirar mesmo.- Ele começa a se aproximar de Anna.
E num movimento rápido puxa a arma das mãos dela, apontando-a para sua cabeça.
"Eu não vou ficar parada aqui".
Pego minha arma com cuidado, se o Terminator me pegar, estou perdida. - Que desperdício.- Ele carrega a arma, pronto para atirar cabeça de Anna.
Sem fazer qualquer tipo de cerimônia, carrego rapidamente minha arma, e atiro na cabeça do terminator, que cai nos pés de Anna.
Ela fica estática, em estado de choque.

- O que, você fez?- Ela pergunta, olhando para mim. Seu rosto está manchado com o sangue do Terminator. - Você ficou maluca?

- Eu...te salvei!- Digo, com uma certa raiva. Anna se abaixa, pegando sua arma, e algum tipo de cartão co uma fonte luz, do cinto do Terminator.

- Você acabou de atrair a atenção dos outros.- Ela vem em minha direção.- Vamos para o escuro, atiramos nos que aparecerem.- Corremos para mais fundo, do pequeno beco em que descemos.
Abaixo-me, atrás de uma caçamba de lixo, e Anna se esconde atrás de uma parede.
Escuto passos pesados, e vozes grossas.
Eles estão agitados, e cada vez mais perto.
Anna olha para mim, e faz um sinal positivo com a cabeça.
Chegou a hora.

Tudo parece em câmera lenta, Anna e eu começamos a atirar nos Terminators, que começam a cair no chão, outros revidam com tiros, que estrondam nossas orelhas, arrombam as paredes, e furam a caçamba de lixo.
O bom sinal, é que não sinto dor, só espero que isso acabe de uma vez.
Aos poucos, (para minha surpresa!) os Terminators vão morrendo, e nós estamos cada vez mais perto de nossa liberdade.
Minha arma deve ter mais duas balas, a arma de Anna, parece estar sem munição.

Resta apenas um Terminator, e ele está por minha conta.
Pego uma pedra e jogo na lateral do muro, o Terminator atira sem exitar.
E num movimento rápido, levanto-me, atingindo seu peito com um único tiro, o mesmo cai no chão.
Minha respiração está pesada, a adrenalina corre em minhas veias.
"Se meu bebê fosse normal, estaria vivo, neste momento?"
É melhor nem pensar nisso.

- Conseguimos!- Anna fala, sem acreditar, ela sai de trás da parede e me abraça, tambem não acredito. - Vamos, não podemos perder tempo.- Ela sai, pegando algumas fontes de luz, que lembram um cartão, dos Terminators.
Sigo seus passos rápidos.

Rapidamente, chegamos em frente a um aparelho eletrônico, que lembra uma televisão.
Ela começa a passar os cartões, em frente a grande tela.
Então escuto uma movimentação, atrás de nós.

Foi tudo tão rápido, foi um impulso, vendo aquele Terminator ensanguentado, apontando uma arma para Anna, não tive outra opção a não ser entrar na sua frente.

O tiro foi a única coisa que pude ouvir, quando a bala me atingiu. O impacto foi tão forte, que fui lançada contra a parede.
Minha visão ficou turva, mas puder ver e ouvir, Anna atirando no Terminator, com minha arma.
Sinto um gosto de sangue invadir minha boca.

- Emily...Emily.- Ouço a voz de Anna, ela está chorando.

- T-Tudo bem...- Falo, tentando não engasgar com meu próprio sangue.- Vai...você merece ir, procure...o Jason...

- Não, não...nós vamos achá-lo. Você está me ouvindo? Se você morrer, eu juro por Deus que eu te mato.- Ela diz, sorrio.

- Diz...que, eu...eu, tentei.- As lágrimas invadem meus olhos. Queria poder ver...o rosto do meu bebê, poder tocar nele...mas, sei que isso, não será possível, estou quase escorregando para os braços da morte, eu sinto isso. - Jason...diga...a ele...

- Eu vou te salvar, Emily! A nós duas.- Anna fala, levantando-se.
Não sinto mais meu corpo, só sinto tristeza e alegria ao mesmo tempo.
Não me arrependo de nada do que fiz.
Eu só queria abraçá-lo mais uma vez.
Agora percebo que ganhei O conhecimento.
O conhecimento de que ele me ama.
O conhecimento de que fui burra em querer deixá-lo.
O conhecimento de que...o amo, e isso era o que eu mais temia, o amor, o romance, são coisas frágeis, que podem acabar tão inexplicavelmente quanto começam.
O pouco tempo que passei com Jason, me fez perceber que ele fez tudo para me proteger, e eu o desprezei.
E isso...é a única coisa da qual me arrependo.

Vejo uma grande luz, amarelada, sei que ela vai me levar para algum lugar, um lugar distante daqui.

O Beijo de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora