Era manhã quando barulho da porta abrindo me acordou novamente, nem me dei conta de quando adormeci abraçada ao Ben. Tia Irina entrou no quarto acompanhada de minha irmã Max, que prontamente veio me cumprimentar com um abraço e perguntar como eu estava.
— Bom dia Bels, como está se sentindo hoje?
— Eu me sinto... O melhor possível dadas as circunstâncias em que me encontro, Max.
Por mais que estivesse me verificando, seus olhos estavam colados em Ben ao meu lado, e ela encarava nossas mãos unidas parecendo irritada. Desconfortável, separei minhas mãos e Ben não pareceu se chatear, deu um beijo suave nos nós dos meus dedos e se levantou do leito para cumprimentar minha tia.
— Bom dia Irina, conseguiu descansar?
Tia Irina abriu seu lindo sorriso de mil watts e ficou na ponta dos pés para cumprimentar Ben com um abraço.— Meu filho, eu dormi bem sim, não gaste seu tempo se preocupando comigo! Mas você parece que não dormiu nada né? Tia Irina segurou suas bochechas barbudas e inclinou de um lado para o outro, analisando.
— Eu estou bem, Irina. Consegui dormir bastante no avião.
— Olha eu vou relevar porque senti muita saudades suas.
— Tia Irina não esconde sua predileção por Ben. Melhor você ir se acostumando porque ela é tendenciosa.
Max resmungou para mim em uma altura que todos no quarto puderam ouvir.
Tia Irina gargalhou com uma risada doce e aguda e então veio para mim, me beijou no rosto e deu um abraço gentil.
— Não ligue para as birras de Max! Ela também tem seu preferido.
E então Ben e tia Irina trocaram um olhar conhecedor e suspeito.
— Você pode sair agora, Ben, vou ajudar Mabel a se trocar para que possamos ir embora desse lugar. Eu sei o quanto ela detesta hospitais.♧♧♧
Retornei ao quarto com a ajuda de Max, trajando roupas normais. Parecia definitivo sair daquele hospital direto para um mundo enorme e desconhecido, não apenas desmemoriada, mas com 10 meses da minha vida que eu não iria recuperar nunca mais.
— Não se preocupe tanto Mabel, eu, Max e seus amigos faremos nosso melhor para ajudar você a se adaptar novamente. É um milagre que não iremos desperdiçar. Você é o nosso milagre.
Tia Irina me deu um beijo na têmpora e me levou até a cadeira de rodas. Depois retornou ao banheiro. Recolheu todos os objetos pessoais e os guardou na bolsa onde ela trouxe roupas para mim. Uma leve batida na porta e a cabeça de Ben surgiu perguntando se podia entrar. Virei meu rosto para olhá-lo e agora, sob a luz do dia, eu podia ver seus traços faciais com clareza.
Por mais cansado que seu rosto aparenta estar, ele me olhava como se visse seus sonhos se realizando. Seus olhos que ontem se pareciam turmalinas negras. Agora reluziam um azul esverdeado, tão brilhante quanto a turmalina Paraíba. Claros e límpidos, transbordando de esperança. Não pude deixar de achar graça em como esses nomes de pedras vieram à minha mente quando encontrei seus olhos. Sorri para ele e seu sorriso contido fez meu coração martelava no peito.
— Pode sim, tia Irina está terminando de pegar minhas coisas.
Eu queria conversar com ele, conhecê-lo, saber qual era nosso relacionamento e me recordar dele, mas Max interrompeu a minha pequena chance com um pigarreio.
— Olha, para alguém que odeia hospitais você parece estar se arrastando aí para sair.
Ela entrou na frente de Ben toda sorridente. O rosto dela transmitia calma e leveza, mas eu suspeitava que ela estava um pouco enciumada com minha interação com Ben.

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F.L.A.M.E
Genç KurguCinco amigos fazem parte de uma banda que se torna mundialmente famosa após uma Terrível tragédia. Franco Levon Asher Mabel Eloy