Capítulo 3

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Estava sentado na cama, observando Liam trocar a camiseta pela vigésima vez nos últimos dez minutos. Nas três primeiras vezes disse a ele que estava bom, mas percebi que ele não queria realmente saber a minha opinião.

-Acho que vou com essa. – ele ergueu a primeira camiseta que havia vestido naquela noite e eu soltei um riso desesperado.

-Liam, vocês conversaram o dia inteiro hoje depois que resolveram matar o segundo período, então não é como se não se conhecessem um pouco. Por que está tão nervoso? – perguntei, esticando as costas sobre os lençóis perfeitamente esticados da minha cama – Vai ser literalmente uma continuação do seu dia.

-Exatamente! – ele se virou para mim tão rápido que tive um leve sobressalto – Eu não quero que seja uma continuação do resto do dia. É um encontro, não uma conversa no jardim.

Faz sentido – pensei. Com um grunhido, me mexi para alcançar as camisas que mantinha em cabides na lateral da cômoda.

-Aqui, tenta essa. – entreguei a ele uma delas, de cor vermelho escuro que combinaria com o estilo de Liam e daria a ele o ar mais sofisticado que ele procurava – se usar com o jeans preto não vai ficar tão formal.

Ele examinou a camisa com um ar satisfeito. Embora eu me exercitasse todas as manhãs e tivesse um físico decente, ele era consideravelmente maior do que eu, mas apenas o suficiente para que a peça ficasse justa no corpo dele, destacando certos aspectos dos quais ele parecia se orgulhar.

-Valeu, mano.

-Não esquece de dar um jeito nesse ninho de ratos em cima da sua cabeça. – sorri para o olhar ultrajado que ele me dirigiu.

Cerca de vinte minutos, e quase um pote inteiro de gel depois – realmente o cabelo dele era de uma rebeldia impressionante – eu trancava a porta do dormitório, enquanto Liam arrumava o casaco preto longo que eu o havia emprestado.

-Revoltante o fato de eu precisar de quase uma hora pra ficar decente, e você parecer um ator de Hollywood sem o mínimo de esforço. – ele me observou colocar a jaqueta de couro pesada por cima da camisa preta – Parece a versão ruiva do Tony Stark.

-Queria ter a conta bancária dele. – respondi, distraído – Você só está nervoso com o primeiro encontro de vocês. Mas eu acho que você está ótimo e aposto que ela também vai achar.

-E você não está nervoso pra ver a Cassie? – a pergunta me pegou desprevenido e eu franzi as sobrancelhas.

-Não. – menti – Eu só estou indo para que ela não precise ficar de vela sozinha.

-Vocês formam um belo par de candelabros. – ele sorriu.

Percebi que desde que a conheci, vinha me esforçando para não passar muito tempo pensando nela, e não sabia explicar exatamente por que ela aparecia nos meus pensamentos tão frequentemente. Certo, ela era realmente muito bonita, mas – como eu disse – não é como se eu não tivesse visto outras garotas bonitas na vida. Mas não era sobre a aparência dela. Sentia algo estranho em sua presença que realmente não sabia explicar e isso trazia um sentimento de frustração um tanto amargo.

Me sentia como uma criança de dez anos tendo seu primeiro affair quando passamos pelo saguão do prédio dos dormitórios, cruzando com poucos alunos pelo caminho até a entrada. Ainda era fim de tarde e os últimos raios de sol deixavam a paisagem toda com aquele lindo brilho dourado. As garotas ainda não haviam chegado, e a espera deixou Liam ainda mais nervoso. Encostei o ombro na parede ao lado da porta, enquanto o frio me obrigou a enterrar as mãos nos bolsos da calça. Enquanto minha mente percorria meus devaneios sobre o encontro de Liam e Debrah – e o fato de que provavelmente teria que conversar com Cassie a noite toda – deixei que meus olhos dançassem ao redor. Nos jardins, centenas de alunos se espalhavam pela grama, provocando um tumulto parecido com o que vira quando cheguei ao campus. Gritos e risadas podiam ser ouvidos mesmo à distância, mas, em vez disso, outro som me chamou a atenção. Costumava visitar o trabalho da minha tia no fórum de justiça quando era criança e conhecia o som de saltos batendo contra o mármore, enquanto advogadas, juízas, escrivãs e delegadas corriam de um lado para o outro em seus sapatos caros. Mas apenas quando ouvi a voz da reitora é que virei a cabeça para encará-la, me impressionando com o quão jovem ela parecia olhando de perto.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora