Capítulo 10

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Já era quase duas horas da tarde quando me encontrei com Cassie no saguão do prédio dos dormitórios. A mochila nas minhas costas não estava tão pesada, visto que seriam apenas dois dias.

-Meu irmão não vai te dar sossego se levar o violão. – ela olhou para o instrumento que eu carregava.

-Tudo bem. – eu ri – Não consigo viajar sem ele.

-O Uber está esperando lá fora para nos levar à rodoviária. – ela apontou para o portão principal, onde era possível ver uma fileira de carros estacionados.

Já não chovia e caminhamos casualmente até o carro, conversando distraidamente ao longo de todo o caminho até a rodoviária. Quando nos sentamos nas poltronas do ônibus, já passava das três e não demorou para que dobrássemos a primeira esquina em direção a Nova Iorque.

-Já esteve lá? – ela perguntou.

-Vi a cidade pela janela do avião, depois todo o trajeto de táxi até Syracuse, mas nunca caminhei por lá. – respondi, me ajeitando na poltrona.

-Você foi de táxi até Syracuse? Deve ter deixado um dos rins com o motorista. – ela riu, admirada.

-Não posso dizer que foi barato, mas estava inseguro quanto aos ônibus. – dei de ombros. Na hora parecia a melhor opção.

-O que achou do que viu? – ela perguntou de repente.

-Parecia um formigueiro olhando de cima. – me lembrei da visão magnífica dos arranha-céus vistos do avião e a sensação voltou como uma onda.

-Sim, é bem agitada. – ela disse – Demorei para me acostumar com a calmaria de Syracuse.

-Calmaria? – ergui as sobrancelhas – Se acha Syracuse calma, ficaria louca se fosse para Bakewell.

-Então você é um menino da fazenda? – ela perguntou, sorrindo.

-Na verdade, é uma cidade pequena às margens do rio Wye. – esclareci – Não é como se criássemos gado ou coisa assim.

-Entendo... – ela ponderou – Deve ser muito bonita.

-Se quiser conhecer, posso te levar. – observei enquanto ela me olhava, embora não pudesse dizer com certeza o que ela estava pensando – Você me convidou para conhecer sua casa, então te convido para conhecer a minha. Não tem muito o que se ver na cidade em si, mas fica perto de pontos turísticos bem legais.

-Adoraria. – Ela sorriu, fazendo as maçãs de seu rosto saltarem, um tanto avermelhadas. Era aquele mesmo sorriso que tinha os mais estranhos efeitos sobre mim. Mesmo que meu coração errasse um pouco o compasso, não era como se eu conseguisse desviar o olhar.

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Em determinado momento da viagem, quando o sol já estava baixo no horizonte e já tínhamos devorado todo o suprimento de salgadinhos e doces que ela trouxera das máquinas do refeitório, Cassie apoiou a cabeça no meu ombro e caiu num sono. Quando a luz natural era fraca e encarar a letra da música no papel me deixou com dor de cabeça, coloquei os fones de ouvido e fechei os olhos, deixando que meus pensamentos fluíssem no ritmo de Bryan Adams. Como um filme, os acontecimentos das últimas semanas dançaram na minha mente e as perguntas ainda sem resposta pareciam me provocar. Mesmo que Kevin tenha ajudado a acalmar um pouco meus nervos em relação à minha posição no Clube de Mídia, e eu não me sentisse mais tão ansioso com o trabalho em si, outras questões ainda pairavam no ar.

Por exemplo, o fato de Sr. Zane ser meu padrinho. Por que ele não havia mencionado nada a respeito? Tia Augustine dissera que ele havia ajudado muito desde que meus pais morreram, mas que tipo de ajuda? E como eu nunca soube da existência dele até agora? Além disso, ela disse que havia ainda mais coisas das quais eu não sabia. Nem ela mesma sabia. Suspirei, passando a mão no rosto. Preciso aprender a relaxar.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora