Não fazia ideia de quanto tempo havíamos ficado presos no trânsito entre o aeroporto e a cidade de Syracuse, mas quando finalmente o taxi virou a última esquina e eu pude ver o enorme e majestoso prédio do campus se erguendo de seu trono de grama verde esmeralda, um misto de felicidade, tensão e alívio envolveu meu coração. A última coisa que Anish havia me dito, com seu divertido e carregado sotaque árabe, antes de nos separarmos no saguão do aeroporto soou em minha memória: a América é para os que têm coração forte, e mente esperta para usar essa força. Posso ver os desejos em seus olhos, jovem Ethan Atwood. Deseje-os da maneira certa e eles virão até você, acredite.
De certa forma, podia quase compreender o que ele dizia, embora achasse engraçado o modo como ele parecia substituir a palavra "sonhos" por "desejos". Talvez algum equívoco de um falante não-nativo do inglês, ou algo do gênero. Além disso, ainda não tinha certeza do que significava desejar da maneira certa. Expulsei os pensamentos, tentando me concentrar em contar o dinheiro do motorista, que já começava a me olhar estranho pelo retrovisor. Malditos números.
Depois de alguns minutos constrangedores, me rendi às minhas limitações e entreguei uma quantidade aleatória de dólares ao motorista para que ele contasse, completamente consciente do risco de ser enganado em um país estrangeiro. A figura magricela, de cabelos tão louros que mal se conseguia ver e olhar carrancudo resmungou no banco da frente, separando as cédulas com uma agilidade que eu só podia invejar.
-Você não é um grande gênio da matemática, posso dizer. – ele rosnou, me devolvendo uma quantidade considerável de notas. Dei de ombros, sentindo o sangue se acumular no topo das minhas bochechas.
O ar fresco fora do taxi aliviou instantaneamente o calor no meu rosto. O clima de verão já começava a dar espaço à brisa fresca do início do outono, que varria as poucas folhas que caíam das árvores ao redor do campus. O sol já percorria a segunda metade de seu caminho diário em direção ao horizonte, e a paisagem começava a ter os primeiros tons de dourado. Mal podia acreditar que poucas horas atrás estávamos presos no pior trânsito que já vira, com buzinas e gritos furiosos de motoristas impacientes inundando as ruas da cidade de Nova Iorque. Tudo nessa cidade parecia tão calmo.
No fim, a calmaria não passava de uma ilusão. Antes mesmo de passar pelos portões, centenas de estudantes se embaralhavam ao longo de todo o campus. Conversas animadas, gritos empolgados e até mesmo algumas brigas aqui e ali, tornavam o lugar um tanto quanto caótico. Puxei minhas anotações do bolso lateral da mochila e verifiquei novamente as informações – dormitório número 9, ala masculina.
-Vou levar a noite inteira procurando nesse castelo imenso – pensei alto, correndo o mindinho pelo grosso e bagunçado tufo ruivo que eu chamava de sobrancelha.
-Perdido? – uma voz amigável chamou minha atenção e eu virei para encará-la. Uma moça alta e esguia, com grandes olhos negros e amendoados me olhava sorridente.
-Ah, sim. – sorri de volta, enquanto ela se aproximava – Acabei de chegar e ainda não conheço nada.
-Intercambista britânico, hein? – ela apoiou uma das mãos em sua cintura, que o top de algodão azul não se intimidava em deixar completamente à mostra.
-Traído pelo sotaque, eu suponho. – eu ri, desviando o olhar do rosto sorridente da bela morena.
-E pelas charmosas boas maneiras, sim. – ela riu abertamente, pegando o papel da minha mão e examinando – Ah, claro, os dormitórios. Ficam naquele prédio, é bem fácil de achar. – ela ergueu o braço, apontando para uma construção mais simples, à esquerda do castelo de tijolos vermelhos à nossa frente.
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Três Desejos
RomanceQuando Ethan Atwood decide deixar sua pequena e pacata cidade natal no interior da Inglaterra para viver seu sonho de estudar música em uma renomada universidade dos Estados Unidos, descobre que grande parte da sua história esteve em segredo durante...