capítulo 1

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Maya narrando 🥀

Estou no meu escritório, perdida entre papéis e pensamentos. A rotina é sempre a mesma: gráficos, relatórios, decisões. Mas hoje, algo no ar parece diferente. Talvez seja o silêncio pesado que paira entre os corredores da empresa. No meio do meu devaneio, o telefone toca, um som que quebra a monotonia e me traz de volta à realidade. Atendo e escuto a voz familiar da minha secretária, Stefany.

- Maya, o senhor John Sullivan quer te ver - ela diz com um tom cuidadoso, como se antecipasse o impacto daquelas palavras.

John Sullivan... Ele foi como um pai para mim. Conhece a minha história desde antes de eu mesma entender o meu lugar no mundo, e foi graças a ele que consegui meu espaço na empresa. Eu lhe devo tanto.

Com o coração acelerado, organizo rapidamente minha mesa, tentando dissipar a inquietação que se instalou. Saio da minha sala, caminho até o elevador e aperto o botão para o último andar. O tempo parece se esticar enquanto subo, e meus pensamentos se atropelam: o que será que ele quer comigo?

Assim que chego à sua porta, respiro fundo e bato. Uma voz calma e grave me responde:

- Pode entrar.

Empurro a porta devagar, e lá está ele, sentado atrás da imponente mesa de mogno, com o olhar sereno de quem já viveu e presenciou demais. John me acena para que eu me sente.

- Olá, senhor Sullivan. O senhor me chamou? - pergunto, embora minha mente já esteja à procura de pistas sobre o que está por vir.

- Não me chame de "senhor Sullivan", Maya. - Ele esboça um sorriso cansado. - Me chame de John, como sempre fez. Afinal, te conheço desde criança. Obrigado por vir. Tenho uma notícia... Estou me aposentando.

Sinto um frio na espinha, e o silêncio que segue a declaração parece preencher todo o escritório. Tento processar suas palavras, mas minha mente tropeça entre o choque e a dúvida.

- Aposentar? Mas, John, você mesmo disse que não confiava nos seus filhos para assumir a empresa. O que mudou? - As palavras saem rápidas, quase num sussurro, enquanto eu tento entender.

Ele suspira profundamente, olhando pela janela como se buscasse respostas no horizonte.

- Lúcia, minha querida Lúcia, me deu um ultimato. Ela está certa, já era hora. Eu deveria ter feito isso anos atrás, mas adiei por medo do que poderia acontecer com a empresa. - Ele se vira de volta para mim. - Agora é o momento.

Eu me levanto lentamente, sentindo a gravidade da situação. John era a rocha que sustentava não só a empresa, mas também boa parte da minha vida profissional. Dou a volta na mesa e o abraço forte, sentindo o peso das palavras que não consigo dizer.

- Vou sentir sua falta... aqui, no comando - digo com a voz embargada.

Ele sorri, um sorriso afetuoso, e me dá um tapinha leve nas costas.

- Minha querida, não vou desaparecer. Estarei por perto, e Lúcia nunca te deixaria de fora. Ela te adora. - Ele dá um beijo suave na minha testa, como fazia quando eu era criança. - Você sempre terá um lugar em nossa casa.

Eu sorrio, um sorriso meio triste, meio grato. É difícil imaginar a empresa sem ele.

- E quem vai assumir? - pergunto, tentando trazer de volta um pouco de normalidade.

John se recosta na cadeira, observando-me com um olhar astuto.

- Amanhã você saberá. Marquei uma reunião com todos os envolvidos. Sua secretária já te informou, certo?

- Sim, Stefany me passou. Estarei lá - confirmo, tentando manter a compostura.

Depois de mais alguns minutos de conversa, me despeço e volto para minha sala. O fim do expediente já se aproxima, e tudo parece envolto numa sensação de finalidade. Organizo minhas coisas com um peso no peito, como se algo dentro de mim também estivesse se encerrando.

Desço no elevador com Stefany, ambos em silêncio, cada uma imersa em seus próprios pensamentos. Ao sair do prédio, o vento frio da noite me acolhe, trazendo consigo o cheiro das folhas que dançam no ar.

No caminho para casa, o condomínio fechado onde vivo surge diante de mim. Cada canto daquele lugar traz memórias dos Sullivan. Eles sempre estiveram presentes, como se fôssemos uma grande família. Estaciono o carro na garagem e sigo o mesmo ritual de sempre: entro, subo as escadas, tomo banho, escolho um pijama confortável e desço para preparar algo para comer. Mas hoje, nada parece exatamente igual.

A lasanha que aqueço no micro-ondas é apenas um detalhe sem importância enquanto minha mente viaja entre o passado e o futuro incerto. Sento-me na sala do segundo andar, deixo a TV ligada com algum episódio qualquer na Netflix, mas meus pensamentos estão longe. Quando finalmente subo para o quarto, sinto o peso da responsabilidade que amanhã trará.

23:43. O relógio pisca na tela do meu celular enquanto me ajeito na cama. Fecho os olhos, tentando encontrar algum tipo de paz no turbilhão que me espera. Mas sei que, a partir de amanhã, nada mais será como antes.

 Mas sei que, a partir de amanhã, nada mais será como antes

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