"Todos pensam que os funcionários desapareceram a dez anos atrás" A caligrafia levemente borrada de imprensa que aparentava ser feita a mão preenchia a parte superior do desgastado papel. Um espaço em branco era deixado, até que pouco abaixo, ao meio da folha, a mesma caligrafia que utilizava a cor vermelha na sua composição base formava a seguinte frase: "Ainda estamos aqui". Um espaço em branco abaixo das letras foi deixado, e consequentemente ao final da carta a última frase, escrita aparentemente com desespero e utilizando-se a mesma caligrafia. "Encontre a flor" Era o que dizia, e abaixo das letras um rabisco avermelhado que destacava a frase composta completamente por letras maiúsculas. Ao final da folha, um desenho bem infantil e nada detalhado, era uma flor de papoula, desenhada em um estilo clássico que todos sabem fazer, um circulo com pétalas, sendo-as do mesmo tom de vermelho das letras. Ao lado da arte, respingos dessa mesma tinta, como minúsculos pontinhos que seguem aumentando gradativamente até a margem onde acaba o papel.
Esta carta da empresa chegou a minha casa dentro de um envelope enigmático e misterioso com o selo da "Play Time Co" Gravado em si com cores vibrantes ao canto superior direito. Ver aquela carta, aquela flor, tudo isso me forçou a recordar daquele lugar, forçou com que lembranças obscuras surgissem em minha mente como uma névoa escura que se espalhava crescentemente, lembrei-me de tudo o que foi feito lá dentro daquele macabro e brutal lugar, de todos os acidentes que aconteceram e foram acobertados por magnatas sedentos por dinheiro, as vidas de pessoas inocentes que nem puderam exercer o direito de viver que lhes foi concedido, sendo aprisionadas por psicopatas que não hesitaram em utilizarem de pobres vidas para seus objetivos e experimentos doentios. Mesmo que tenha completado dez longos anos desde que eu me rebelei e libertei-me daquele lugar, esse atormentado passado voltou como um trem descarrilhado que se lançou por cima de mim com uma força descomunal inimaginável. inclinei minha cabeça lentamente para ao lado direito e inspirei fundo, tentando restabelecer o controle das minhas emoções, expirei por alguns longos segundos enquanto me acalmava e me livrava deste tormento. Quem poderia ter me enviado isto? Quem teria permanecido enclausurado dentro desta fábrica por dez anos? E por que assim que essa pessoa teve acesso ao exterior, resolveu trocar sua liberdade de fugir imediatamente pelo ato de enviar uma carta para mim? Acomodei -me no macio sofá do meu apartamento ainda segurando o papel e fitando cada palavra com os olhos na falha tentativa de achar respostas para minhas perguntas nele. Eu devo ajudar quem quer que tenha enviado isso? Essa não só seria, mas foi a dúvida que persistiu em ocupar um espaço na minha mente durante a noite toda.
"Eu poderia ajudar, e se pessoas realmente estiverem lá? Trancafiadas e necessitando de socorro?" Eu ponderava essa questão, sentado a beira da minha cama com os dedos das mãos entrelaçados servindo de apoio para o meu queixo, minhas pernas encostavam ao chão enquanto meus cotovelos tocavam os joelhos. A luz de um simples abajur de base oval que se afinava conforme se estendia para cima, onde havia o encaixe de uma lâmpada cercada por um tecido fino sustentado por arames moldando-o em forma cilíndrica. Eu não conseguiria mais dormir, meu sono foi perdido no momento em que vi o envelope, os pensamentos perturbadores que surgiram com isso eram meu maior incômodo, não deixariam minha mente em paz até que eu fosse atrás de respostas, e é isso que eu fiz.
A Play Time Co erguia-se imponente em meio a uma paisagem sombria e desolada. Sua estrutura, enraizada na terra como uma manifestação macabra, emitia uma aura de decadência e abandono. O prédio, uma massa imponente de concreto e aço corroídos, revelava a passagem cruel do tempo através de rachaduras profundas que se estendiam como veias envelhecidas por suas paredes.
O teto, outrora branco e imaculado, agora era uma tapeçaria de manchas escuras e teias de aranha enredadas. As janelas, encarando o mundo externo com uma expressão vazia, exibiam vidros quebrados e esqueletos de cortinas desbotadas, oscilando ao vento como fantasmas resignados.
A entrada principal da Play Time Co era uma boca escancarada que convidava os visitantes a adentrar em suas entranhas corrompidas. As portas de madeira, cobertas por uma camada de mofo e desgaste, gemiam agonizantemente a cada toque, como se implorassem para não serem abertas e liberar o pesadelo aprisionado no interior.
As palavras "Play Time Co" que outrora estiveram orgulhosamente gravadas acima da entrada agora pareciam desbotadas, quase apagadas pela passagem dos anos e pela atmosfera opressora que envolvia o lugar. O nome da empresa, uma lembrança distante de um tempo em que a diversão e a inocência se confundiam, havia se tornado um testemunho silencioso de tragédias ocultas.
A área externa da fábrica era um cenário pós-apocalíptico, onde grama seca e murcha lutava para sobreviver entre rachaduras no solo. A vegetação era espectral, retorcida e contaminada pela aura maligna que permeava o lugar. Árvores retorcidas, seus galhos parecendo garras esqueléticas, estendiam-se para o céu em uma macabra dança de desespero e tormento.
O ar pairava pesado com um cheiro acre de decadência e desespero, como se a própria atmosfera estivesse impregnada com o peso de segredos sombrios. O silêncio que envolvia a Play Time CO era tão opressor que parecia sufocar qualquer som que ousasse perturbar a tranquilidade macabra do local.
A luz do sol, filtrada por nuvens escuras e ameaçadoras, lançava uma iluminação sombria e melancólica sobre o cenário, transformando tudo em tons de cinza e sombras que dançavam ao sabor do vento. O ambiente parecia suspenso em um limbo entre o real e o sobrenatural, onde a normalidade e a sanidade se desintegravam gradualmente.
Parado diante da grande porta, senti o peso opressor nas minhas costas, carregando uma mochila repleta de itens essenciais para enfrentar o desconhecido. O fardo em meu ombro continha os instrumentos necessários para encarar as adversidades iminentes: uma lanterna, meu celular, uma carteira com documentos, um kit de primeiros socorros meticulosamente preparado, garrafas de água, barrinhas de cereais que seriam minha sustentação e outros pequenos alimentos.
Enquanto o vento sussurrava em meus ouvidos, exaltando o mistério e a ameaça que permeavam o ar, eu sentia a euforia se misturar com o medo. A grande porta de madeira desgastada estava à minha frente, destrancada e rangendo sinistramente sob a ação do vento. Aproximei-me lentamente, com cada passo ecoando no silêncio sufocante que pairava ao redor. O rangido da porta, em sua sinfonia arrepiante, parecia um aviso mudo, um presságio do que aguardava do outro lado. Com cautela e expectativa, empurrei a porta, revelando um vazio escuro que se estendia à minha frente. A escuridão abraçava a atmosfera com uma voracidade faminta, parecendo devorar a luz que se aventurava a penetrar em seu reino. Adentrei aquele limiar sinistro, o coração acelerando em meu peito, enquanto a sensação de um portal sombrio se fechava atrás de mim. Cada passo adiante era um mergulho mais profundo na boca do desconhecido, naquele abismo desolado que desafiava a sanidade, e agora eu não poderia voltar, não depois de relembrar do torturante passado enraizado na minha mente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Poppy PlayTime
FanfictionApós receber uma carta de uma antiga empresa onde trabalhava, James decide voltar e procurar por quem enviou, mesmo sabendo das atrocidades que aconteciam no local, ele não esperava que aquelas criaturas bestiais que um dia já foram carismáticas, es...