23 - JULIA E BENJAMIN TEM SONHOS PARECIDOS.

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Algumas noites depois, Julia tem um pesadelo, e desta vez, dormia em algum lugar e de repente tudo começava a girar e, após uma sequência de giros, viu uma madeira fincada na sua barriga. Em seguida, viu uma luz intensa antes de fechar os olhos e dar o último suspiro. Logo viu caindo lentamente num buraco negro sem fim, enquanto percebia que uma luz a acompanhava. Ouviu bem longe uma voz suave e feminina chamá-la pelo nome de Ana Lívia. Olhando atentamente em direção ao buraco negro, viu um rosto que assemelhava ao de uma mulher tomada pela escuridão que dizia:


Marlianne: Ajuda-me Ana Lívia!


Julia do passado: Eu não sou Ana Lívia. Sou Julia. Quem é Ana Lívia?


Marlianne: É você. Vivíamos felizes com os nossos pais viajando pelos vilarejos. Essa estrela quer nos separar. Não permita que ele nos separe. Não gosto dele.


Julia do passado: Que Estrela? Por que querem nos separar?


E a luz foi aumentando ao aproximar-se de Ana Lívia e ela parou de cair e ouvia a uma música igual a que cantarolava. As consciências com experiência carnais e espirituais misturam-se, ocasionando uma confusão no sonho. No entanto, continuava ouvindo a voz de Marlianne:


Marlianne: Ajuda-me! Não quero ficar aqui sozinha. Aqui é frio e escuro. Ana Lívia fica aqui comigo, não quero ficar sozinha! Eu estou com medo.


Julia do passado: Marlianne! Eu não consigo me aproximar de você. Venha até aqui... Eu não quero ficar nessa escuridão. A luz chama-me para cima. Vem comigo?


Marlianne some na escuridão e Ana Lívia, a Julia do passado, novamente se volta para o anjo e segura a sua mão. A vista de Ana Lívia fica ofuscada com a intensidade da luz e de repente acorda.


Julia tem recorrentemente sonhos como esses, contudo não consegue compreender o motivo e nem o significado, por buscar explicações meramente humana. Na grande maioria dos sonhos, acordava cantarolando uma melodia que desconhecia a letra, mas lembrava que a cantava dançando em festejos, que ora entendia ser gregos, ora italiano. Sempre acordava e não compreendia bem o que falavam nos sonhos, e nem os nomes que ouvia.


Na verdade, a única coisa que ficava viva na lembrança de Julia era a melodia, que reproduzia por assobio ou cantarolando. Quando Julia cantarolava, Benjamin conseguia ouvir cristalinamente. No início, assustava-se pensando ser ataque dos espíritos que caminham nas trevas, conforme afirmava o seu pai, Jonas, após afirmar que o filho era um endemoniado.


Todavia, a amável Raquel, mãe de Benjamin, sempre o abraçava nessas horas e, com a voz bem suave, pedia que orasse com ela, ensinado que, caso conseguisse orar com suavidade e leveza, é sinal de que Deus estava com você e nenhum mal escraviza a sua mente. E segundo os ensinamentos da sua mãe, Benjamin fazia, principalmente quando via ou ouvia algo assustador. Para não ser recriminado pelo pai e nem ser considerado louco, Benjamin fechava os olhos e orava com serenidade. Terminada a oração, abria os olhos e a assombração havia saído.


Benjamin também tinha sonhos recorrentes com Julia, e via claramente o seu rosto, mas não conseguia encontrá-la em canto algum. Passou então a observar as mulheres que usavam saias cumpridas, e cantarolava a música para elas. No máximo que ouvia era: que música linda. Ele passou a observar as saias por, nos sonhos, Julia apresentar-se usando saia comprida, dançando e cantarolando a música numa clareira, a luz do luar e, admirando as estrelas.


No mesmo dia do sonho de Julia, Benjamin teve um sonho semelhante, pela sua ótica do ocorrido, onde inicialmente elevava-se e via duas mulheres entrando em certa carroça coberta antiga. Viu quando a carroça, em caravana composta por quatro carroças de comerciantes, começou a andar por uma estrada de terra na encosta da montanha e em direção ao vilarejo próximo. A carroça na qual estavam Ana Lívia e Marlianne era a última.


Ato seguinte, viu que ao bater em determinada pedra na estrada, a roda da carroça quebrou e os cavalos, assustaram acelerando o passo e contribuindo que a carroça perdesse o equilíbrio e capotar em direção ao penhasco. Rapidamente aproximou-se dos pais de Ana Lívia, que guiavam a carroça e com um toque, empurrou os para fora da carroça, ficando na estrada. Os pais de Ana Lívia eram bons e conceituados comerciantes, conhecidos como Vilton e Samya. Enquanto isso, olhou para trás e viu quando Marlianne foi jogada para fora da carroça, que descia girando pelo penhasco, quebrar o pescoço ao chocar-se com uma pedra.


Viu ainda quando a carroça ia se desmontando na queda e Ana Lívia parada embaixo de uma árvore frondosa com parte da carroça fincada na sua barriga, pelo qual saia muito sangue. Ele olhou nos olhos de Ana Lívia, que o viu, deu um leve sorriso e fechou os olhos ao desencarnar. Ele estendeu a mão e algum tempo depois a alma de Ana Lívia retornou e o acompanhou e ambos subiram ao céu espiritual.


Na manhã do sábado, Julia assim que chegou na lojinha, contou o sonho para a mãe, mas como não conseguiram ter uma compreensão clara do que significava, considerava tratar-se apenas de pesadelo e abraçava a sua filha dizendo que deveria esquecer.


Julia ajudava a mãe na lojinha, para contribuir nas rendas da família, visto que Juliana abandonou os trabalhos de clarividência, da adivinhação por meio das cartas (cartomancia), da bola de cristal ou ainda pela leitura da mão esquerda (quiromancia). Além disso, parou a venda de banhos de ervas em garrafas para que a pessoa fizesse a purificação do corpo e da alma e dos amuletos para confeccionado com pequenos galhos de árvores e com retalhos costurados em forma de pequenas bolsas com folhas secas e caroços de frutos, que deveria ser usado para espantar mau-olhado, inveja, espíritos malignos dentre outros.


Abandonou após conhecer a verdade sobre esses rituais, sem poder algum, e ver que se tratava de doutrina tortuosas ensinada pela legião de almas guias com o fim de aprisioná-los em falsas expectativas. Todos os apetrechos da bruxaria, feitiçaria e magia foram levados para o centro de magias e Juliano continuou a venda disso.


Estando a mãe adoentada e não restabelecida a saúde, ficava maior parte atendendo sozinha na lojinha e contava com a ajuda do Jordan, irmão que tinha uma lábia e tino para o negócio.

A ENCANTADORA BRUXINHA ENCANTADAOnde histórias criam vida. Descubra agora