Capítulo 1: A grande tempestade

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Intempérie:

1. Qualquer extremo das condições climáticas(Vento forte, temporal,)

2. Acontecimento infeliz; desgraça, catástrofe. infortúnio 

Oxford Languagens


Sentado em um parapeito já a muito tempo abandonado, eu aprecio as nuvens carregadas que vem em minha direção, e me recordo de uma vez ter ouvido alguém falar a seguinte frase "Deus esta na chuva", a pessoa em questão que fala isso é uma personagem de um filme, não me recordo o nome do filme e nem da personagem, mas essa cena me marcou.

"Deus esta na chuva...." oque isso quer dizer exatamente? A chuva é divina? Ou é só uma frase milagrosa dos cristãos? Bom, de qualquer maneira é impossível saber agora, a internet acabou faz anos e não lembro o nome do filme.

Mas enfim, estou comentando isso porque as chuvas de hoje em dia  são assustadoras. Tempestades de raios que duram por horas, e chuvas que duram meses, o fato é que depois da grande tempestade de 2020 as coisas não foram mais as mesmas, me recordo desse acontecimento com bastante detalhes...

"Era dia 26 de fevereiro de 2020, eu estava saindo da faculdade quando uma tempestade frenética começou, eu pedi meu Uber como de costume e me despedi dos meus colegas e professores, sai da unidade por volta das 21h e o motorista já estava me esperando, entrei no carro dei boa noite e coloquei meus fones de ouvido, e então seguimos viagem. Eu estava escutando White Rabbit quando entravamos na avenida em direção a ponte para irmos ate o outro bairro, meu olhos começaram a ficar pesados e fiquei sonolento, adormeci por um momento.  Nos meus sonhos a musica havia se intensificado e eu comecei a ter um pesadelo, não conseguia me mexer e nem falar, foi então, que quando dobramos a rua ao lado da ponte, um raio cortou o céu e atingiu a fiação. Um estrondo ecoou para todo lado, acordei no susto olhando para ao redor e quando olhei para o banco do motorista não havia ninguém, nos tínhamos batido em um poste, sai do carro desorientado e sem enxergar nada, um apagão tomou conta da cidade após o raio. Tentei gritar por ajuda mais sem sucesso, a tempestade era mais alta que minha voz, entrei de novo para dentro do carro e tirei o casaco e os sapatos molhados, eu estava me secando quando escuto um zumbido vindo céu, olho pela janela e não vejo nada de imediato, só quando um raio corta o céu de ante dos meus olhos é que eu consigo ver. Um avião esta despencando sem o piloto em direção aos prédios da cidade, ele acerta três prédios comerciais de uma vez e a silhueta da cidade queima diante dos meus olhos. " Pelo menos a chuva vai apagar o fogo" eu pensei em voz alta, tentei ligar para a policia mas estava sem sinal, decidi ficar no carro ate o amanhecer e foi isso oque eu fiz."


Ainda hoje eu não entendo essa chuva, com os anos ela foi ficando mais intensa, as vezes é quase impossível dormir. Faz 15 anos desde a grande tempestade, desde aquele ano eu venho vagando por esse viveiro natural que chamamos de terra, as coisas mudaram muito desde 2020, algumas cidades foram tomadas por plantas e algumas coisas pararam de funcionar, mas isso não me impede de viver de forma "normal", eu posso fazer oque quiser agora, posso comer oque quiser e ir onde quiser.

As nuvens estão passando por cima mim de agora, as gotas de chuva começaram a cair, eu preciso voltar para minha casa.

 Saio do parapeito em direção a entrada do apartamento que eu havia invadido mais cedo em busca de abrigo, desço a escadaria do prédio e passo pelo saguão em direção ao lado de fora, coloco a mochila na costa e subo em minha bicicleta, pedalo com extrema rapidez desviando dos carros abandonados e da vegetação, a chuva esta começando a ficar mais grossa a cada momento em que acelero. Finalmente chego no campo onde meu chalé esta, o cheiro da grama que entra pelo nariz é acolhedor, estaciono a bicicleta no muro e ando em direção a porta. Dou uma ultima olhada pelo campo e enfim entro na casa, amanha será um novo dia.  


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Na manhã seguinte me levanto cedo, o sol ainda não nasceu, mas o barulho dos pássaros já começou lá fora, o chalé em si não é grande coisa, quatros paredes e um teto é tudo oque eu preciso, afinal de contas só sou eu e meu gato. Ando em direção a lareira do lado da poltrona onde meu gato Bob estava dormindo, jogo gasolina na madeira e risco fosforo para acende-la, a luz se espalha pela casa e consigo ver as coisas com mais clareza, vou ate a cozinha e coloco a agua do café no fogo, pergunto para Bob se ele esta com fome e de resposta recebo uma espreguiçada manhosa, boto ração no pote dele  e continuo preparando meu café.

Depois do café ficar pronto, vou ate o lado de fora da casa e me sento em uma cadeira de balanço, a brisa fresca percorre meu corpo, o sol começa aparecer no horizonte, e junto dele outra coisa aparece, uma silhueta parece caminhar em minha direção, meu sangue gela e meu coração dispara, me levanto da cadeira com rapidez e jogo a xicara no chão, dou alguns passos para frente e então grito com vontade em busca de resposta:

- Olaaaá!?   


Solum: IntempérieOnde histórias criam vida. Descubra agora