Capítulo 4: Antevisão

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A chuva esta se afastando de mim, tirei um tempo para descansar depois do que aconteceu nos esgotos, minhas pernas doem e eu estou com muito frio.

Gotas finas começam a cair do céu, mas os trovões insistentes continuam surgindo das nuvens, com esforço eu me levanto do chão e consigo me segurar no corrimão em que eu estava encostado, olho para minha esquerda e vejo  uma floresta escura se iluminar com um raio, a cena é bonita mas nem um pouco aconchegante.

Minha lanterna caiu no precipício abaixo de mim quando eu atravessei a porta, os trovões iluminam meu caminho. Subo as escadas devagar e logo chego a rua, eu não estava longe da cidade, com os braços cruzados eu começo a andar em direção a um viaduto, ventos gelados me açoitam e eu começo a tremer. Estou chegando perto de um hotel quando a chuva para de vez, o que resta agora são os ventos e relâmpagos.

O hotel estava com letreiro destruido, eu entro no lobby e ele esta empoeirado e com cheiro de mofo, as plantas não entraram aqui mas o lodo tomou conta das paredes do local. Vou até o balcão e olho na parede atrás dele, tinha um chaveiro com vários numeros de quartos e chaves, dou a volta e entro pela porta lateral do balcão, pego a chave de número 4, vou em direção ao corredor a direita do balcão, o corredor era sombrio como todo o resto da cidade. Esta muito escuro, ando devagar e então encontro meu quarto a esquerda no final do corredor, coloco a chave na fechadura e com um estalo a porta abre, o quarto estava limpo mas muito frio, fecho a porta e a tranco por instinto.

Vou no banheiro e tiro minhas roupas, pego uma toalha no armário perto da privada e me enxugo bem, penduro as roupas por cima do box do chuveiro na esperança de que elas sequem até de manhã. Vou até a cama, me deito  e me embrulho o máximo que consigo para poder fugir do frio, fico de lado e bem encolhido, pego no sono.

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"Me vejo em uma praça repleta de arvores, o calor percorre meu corpo e o cheiro de grama penetra meu nariz. Escuto crianças brincando ao fundo e carros passando na avenida, um avião passa por cima de mim e o barulho das turbinas ecoa, ate que um raio o atinge e sua asa estoura, e de repente tudo ficou em silencio, todos haviam desaparecido. O vento ficou mais forte e nuvens negras cobriram o céu transformando dia em noite, uma tormenta começou e a praça começou a alagar, comecei a me afogar em agonia e com o estrondo de um trovão eu acordei."

Completamente suado e perdido, olho ao redor e o quarto do hotel esta tomado por uma belíssima luz natural, me levanto devagar e vou ate o banheiro, minhas roupas estavam um pouco úmidas mas dava pra usar. Estou terminando de colocar minha camisa quando um raio faz eco pelo céu, eu vou até a janela do quarto e vejo que o tempo esta um pouco nublado, um raio acerta uma arvore a uns 5 metros do hotel.

No lado de fora do hotel eu tento me localizar para saber se o material de construção esta longe ou não, se eu não me engano a loja fica a 4 quarteirões daqui seguindo em direção a ponte. Começo a caminhar pelas ruas apressadamente, só quero chegar em casa pra poder descansar.

O céu esta fechado e os trovões estão agitando tudo, espero que a chuva não comece agora, estou chegando na porta da loja e logo avisto minha bicicleta escorada no muro, entro dentro da loja e vou ate os fundos em busca da minha mochila, ela não estava lá... Procuro ao redor por ela e não a encontro, meu instinto diz para descer no porão para procurar, mas estou receoso. Preciso do painel e das roupas que estão lá dentro, eu vou ate o final do corredor e desço as escadas, a mochila esta jogada nos pés dela como se algo a tivesse trazido ate aqui, é com bastante temor que eu olho ao redor forçando um pouco os olhos, o cachorro morto não estava mas lá no chão.

Pego minha mochila e subo as escadas apressadamente, quando estou perto do balcão da loja, eu coloco a mochila encima dele e tiro uma peça de roupa do bolso médio, uma camisa roxa escuro e uma calça moletom preta, infelizmente eu não trouxe sapato então vou ter que me contentar em ficar descalço, coloco a mochila na costa e saio da loja, subo na bicicleta e começo a pedalar rapidamente até em casa.

"Não entendo como a mochila poderia ter ido parar lá embaixo, eu quero acreditar que um animal a puxou por conta da comida dentro dela, mas não faz sentido ele puxar para de baixo da loja, ele puxaria para fora. E o cachorro morto? Para onde ele foi, as marcas de sangue estavam lá e o cheiro também, tenho medo de pensar nisso, só quero chegar em casa"

Enquanto eu viajava em meus pensamentos, avistei minha casa logo a frente, logo eu poderei descansar, tenho que arrumar a energia quando puder.

Solum: IntempérieOnde histórias criam vida. Descubra agora