Solum: Intempérie

Capítulo 3: Até o pescoço

Plim... plim... plim... gotas de agua caem na minha minha testa.

Eu acordo e não consigo me mexer, abro os olhos e tento entender onde estou, minha cabeça dói e minha visão estão turva. Tento me levantar, sem sucesso, meus braços e pernas estão afundados em um barro muito liquido, faço um pouco mais de força e felizmente consigo desenterrar meu braços, me sento e começo a olhar ao redor. A lanterna que caiu comigo esta intacta no canto da parede, ela ilumina o lugar de forma bem breve.

Um esgoto "desativado" se estendia pelo meu campo de visão, as paredes estavam cobertas de musgo e o chão coberto de lodo. Desenterro minhas pernas e com muito esforço consigo ficar de pé, estou me sentindo um pouco tonto e então me sento na calçada do escoamento, olho para cima e vejo o buraco por onde eu cai "uma queda em tanto, incrível eu não ter quebrado nenhum osso "penso.

Fico sentado por um tempo e finalmente me levanto, vou em direção a lanterna no canto da parede e pego ela do chão, ela não é a prova d'água mas vai durar. Miro a lanterna pelas paredes a minha frente em busca de saída, e só o que eu encontro são canos enferrujados e grades cobertas por vinhas, procuro minha arma pelo chão e sem sucesso de encontra-la, acho que ela afundou na lama .

Eu dou mais uma olha para o buraco de onde vim, em busca de chances de voltar por ele, estava muito alto cerca de 10 metros do chão. Dou uma olhada pelo local que estava, e tenho em mente que o escoamento do esgoto seguia um corredor, aponto minha lanterna para o corredor esquerdo de onde eu cai e me assusto ao ver que a luz da lanterna não iluminava a área, fui andando devagar e o corredor ia aumentando a cada passo, ate que cheguei em uma encruzilhada de corredores, olhei para frente e para os lados, um maior que o outro. Sigo o corredor da direita e caminho por um longo período ate encontrar uma porta de manutenção, com exaustão corro em direção a porta e forço-a  para abri-la, ela cede e eu tropeço um pouco para trás.

Atrás da porta havia uma pequena área de serviço, a direita da porta estava uma mesa e cadeira de metal, e na parede encima delas estava um mapa do esgoto, um sentimento de desespero começa a tomar conta de mim e eu gelo, o mapa era da cidade toda e os canos passavam por varias áreas e vários andares de escoamento ate chegar no centro da cidade. Arranquei o mapa da parede, dobrei e coloquei de baixo do meu braço, e então olho mais um pouco a sala e noto uma escada parafusada na parede do lado esquerdo da porta, viro a lanterna para e cima ate  um alçapão que levava para fora. 

Subi as escadas com esperança e quando cheguei no topo fui surpreendido por um alçapão que estava trancado por fora, bati repetidamente meu antebraço no alçapão e ele nem se moveu, e então voltei para o chão. Coloco o mapa na mesa e tento buscar na memoria por onde esses canos estavam passando, o mapa tinha uma escrita na extrema direita dele dizendo o seguinte:

ANDAR 1: CENTRO DA CIDADE

Então logicamente eu estava no andar 1 e na área do centro da cidade, passo meu dedo pelo mapa ate encontrar encontrar a área que eu estou, olho os caminhos possíveis e vejo que a única saída é a do escoamento geral que vai em direção ao rio, o problema é que ela fica depois de um portão gigantesco que eu vi uma vez enquanto andava pela cidade, a parte boa é que de acordo com um mapa tem uma saída de emergência do lado desse portão.

Tiro meu casaco molhado e coberto de lama, e fico só com uma camisa de regata e minha calça jeans, pego e olho o mapa mais uma vez e memorizo " Esquerda, direita ate chegar em uma bifurcação em Y, ai eu dobro a direita de novo e sigo em linha reta por quase um KM" penso em voz alta.

Quando eu começo a andar para a esquerda eu piso em uma poça gelada de água, olho para baixo e estranho o fato dessa poça não esta lá antes, fico olhando por um tempo para os tijolos na parede e me preocupo com o fato de a agua esta subindo rápido, dou uma olhada nas paredes e teto e vejo que estava tudo úmido e com plantas aquáticas, e então minhas suspeitas estavam certas, a agua iria inundar esse lugar todo ate o final do dia por conta da chuva, levando em conta que ate o teto esta úmido, então a agua chega nos seus 10 metros.

Com essa maldita informação, eu aperto o passo em direção ao portão.

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Depois de andar por um longo tempo, minhas pernas começaram a ficar submersas ate o joelho com o nível da água aumentando, e eu não estava nem perto do portão ainda, eu acabo de chegar na bifurcação quando escuto um estrondo vindo de bem longe atrás de mim, algum cano deve ter estourado ou coisa pior, começo a "arrastar" minhas pernas por conta da água, e pego o caminho da direita da bifurcação, ate que sinto uma onda leve bater na parte de três das minhas coxas, o lugar estava começando  a encher mais rápido. 

Com o coração acelerado eu tirei minha calça e fiquei só de short, minha movimentação ficou mais rápida, eu larguei o mapa e comecei a andar só com a lanterna quando senti que a agua já estava na minha barriga, pensamentos intrusivos tomaram conta da minha mente, eu comecei a pensar que algo poderia ter vindo com essa agua, que uma cobra ou jacaré possa ter sido puxado pela correnteza, mas não, o esgoto tem grades que protegem contra isso.

Depois de andar por um um tempo, vejo na direita do corredor que eu estava seguindo pendurado na parede, um placa dizendo 'Escoamento em 300 metros' eu teria ficado alegre se a agua já não estivesse no meu peito subindo para o pescoço, essa placa me faz pensar " porque não tinham outras placas dessas no decorrer do túnel? Será que a agua levou elas?" é uma duvida que não vai ser respondida tão cedo, ou quem sabe nunca. Estou com agua ate o pescoço quando começo ver uma luz muito forte iluminando o túnel muito rápido, "São trovões "  digo para mim mesmo, estou começando a chegar perto do portão quando eu começo a flutuar na agua.

Começo a nadar com um braço só enquanto seguro a lanterna, vejo uma escada de ferro bem a frente e me agarro nela, me sento um pouco para um descanso, sinto a agua subir pela minha canela em direção a minha panturrilha, "Ainda não saí"  digo em voz alta.

Subo as escadas em direção a porta e ela estava trancada, olho para trás e a agua esta subindo muito rápido, começo a aplicar chutes e escoradas na porta com toda a minha força, machuco meu pé no processo, e então continuo usando o ombro ate que ela se sede e eu me choco com a grade externa que cerca uma escadaria que leva para rua lá encima.

Estou do lado de fora, ainda sentado no chão escorado na grade, vejo o céu se iluminar e um trovão resplandecer em cima de mim, é muito bom esta aqui fora.