CAPÍTULO 04

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      A primeira coisa que Onyx pensou em fazer assim que os grilhões saíram dos seus pulsos foi avançar até o punhal perto dos seus pés e atacar o vampiro, mas ele sabia muito bem que o cara seria bem mais rápido que isso, e embora ainda estivesse mantendo a fachada de ser amigável, uma hora ou outra aquela máscara ia cair, e só nesse momento Onyx precisaria agir, caso quisesse poupar forças e ganhar mais algum tempinho.

     Onyx esfregou os próprios pulsos, apesar do metal frio não tê-los machucado. Ele ainda se pegou surpreso com o calor que emanava do morto-vivo, apesar de ele ter certeza de que o coração dele não batia mais.

     — De onde vem esse calor? — Perguntou enquanto levantava do chão e dava batidinhas na sua roupa imunda, o que levantou uma nuvem de poeira. O vampiro se ergueu também e deu um passo para trás, fazendo o rapaz acompanhar cada movimento seu, ainda com a guarda completamente erguida.

     — É outra habilidade minha. — Atticus deu de ombros e abriu a mão esquerda. Onyx percebeu que os dedos pretos dele eram absurdamente longos e terminavam vem unhas curtas, além de tem algumas pequenas cicatrizes pela pele. O rapaz observou enquanto o ar acima da palma da mão aberta do vampiro começou a ficar agitado, do mesmo jeito acontece sobre asfalto em um dia absurdamente quente. Era como se uma onda de vapor estivesse saindo da palma do vampiro e agitando as moléculas de ar, e um segundo depois, uma bola de fogo surgiu a poucos centímetros acima da mão do cara.

     — Pirocinese. — Onyx cruzou os brancos e fingiu indiferença, tentando não parecer impressionado. As asas de Atticus se abriram levemente com a confirmação, como se ele estivesse dando de ombros, só que sem usar os ombros.

     — Vamos. Você ficou apagado por algumas horas. Deve estar com sede. — O vampiro virou e começou a andar em direção a saída daquela câmara vazia, quase acertando o rapaz com as asas pretas no processo. O olhar de Onyx recaiu sobre a adaga aos seus pés, então ele a pegou rapidamente, embora soubesse de alguma forma que era justamente isso que Atticus queria que ele fizesse. Ele colocou a adaga de volta na bainha presa na parte interna da sua calça imunda e começou a seguir o vampiro, percebendo que andar com apenas uns dos pés calçados o deixava manco, e sem muitas esperanças de encontrar o outro sapato, Onyx se livrou rapidamente do que estava usando.

     Após saírem do quarto cavernoso e virarem à esquerda, outra câmara se abriu diante de Onyx. Essa era bem mais espaçosa e com vestígios de ação humana — ou vampirística — por todos os lados. Havia uma cama gigantesca e que parecia ter sido tirada do século XIX em um dos cantos, e fora ela, baús e prateleiras estavam espalhados pelo resto da caverna. O olhar de Onyx recaiu sobre a entrada estreita na parede pedregosa logo à sua frente, a uns quinze metros de distância. Uma luz forte atravessava a entrada, então só podia ser dia e aquela era a saída.

    — Toma. — O vampiro absurdamente lindo até para os padrões dos mortos-vivos surgiu no seu campo de visão segurando um copo d'água e o estendeu para ele.

     O rapaz pegou o copo grande e analisou o conteúdo, constatando que se tivesse alguma coisa alí dentro, deveria ser incolor e líquido como água para não alterar sua aparência. A sua garganta estava arranhando tanto que ele resolveu não pensar muito, antes de levar o copo até os lábios e tomar todo o conteúdo dele em longos goles, quase chorando de alívio quando a água molhou sua garganta seca. O líquido não tinha gosto algum à não ser aquele levemente terroso que a água da região sempre tinha por ter sido tirada de leitos ou poços barrosos, embora todos já estivessem acostumados com isso.

    Onyx aproveitou o momento enquanto terminava de tomar a água para analisar o vampiro com mais calma. Ele deveria ser bastante velho para ter poderes como aqueles, além de que o rapaz jamais havia ouvido falar em algum vampiro que tivesse asas. O corpo gigantesco e musculoso dele deveria ter sido exatamente daquele jeito quando ele era humano, porque apesar da transformação deixar a pele lisa e retirar cicatrizes que não fossem absurdamente profundas, depois dela o vampiro não iria conseguir ganhar massa muscular ou qualquer coisa do tipo. Era como se tanto seus músculos e aparência ficassem estagnados justamente naquele momento.

CAÇADOR DE VAMPIROSOnde histórias criam vida. Descubra agora