Não é sequestro

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- Oh! Muzan-sama, você sequestrou um caçador.- Douma fala afetado, surpresa falsa estampada naquela b̶e̶l̶a cara.

- O que? NÃO!- Você se agita, rápido em desmentir aquilo, Tanjiro já lhe odeia o suficiente, você não precisa de ninguém colocando mais merda no ventilador.

- Oh! Então ele é um lanche!

Aquele merdinha tá tentado ferrar com você, só pode. Pelo canto do olho você nota Tanjiro voltar a lhe fuzilar, já erguendo a espada novamente, agora mais desconfiado. E lá foi seu progresso pelo ralo.

Antes que o idiota pudesse dizer algo mais, você o agarra e puxa, o prendendo entre seus braços e trampando sua bocona. Não foi sua melhor ideia, Douma é bem maior, e você desaparece atrás dele, o impedindo de continuar a lançar sua carinha de cachorro pidão para Tanjiro. Um pouco mais irritado, você puxa o loiro novamente, o forçando a se abaixar, ele cede rápido, caindo de joelhos, seus olhos coloridos o fitando de lado com real curiosidade, você nem ousa a adentrar o ninho de vespa que deve ser a mente daquele ali agora.

- Tanjiro-kun, não o ouça, não foi um sequestro, sim você veio contra sua vontade, sim eu agarrei você, sim você está preso em um lugar desconhecido...- Sua voz perde força, de alguma forma cada palavra apenas o condena mais, tudo aquilo não foi sinônimo de sequestro? Não! Não. Não se deixe influenciar, é tudo por uma nobre causa, a continuidade de um ser perfeito, ler-se, você. Assim, os fins justificam os meios. Não foi sequestro!- Quero dizer, você poderá sair em breve e definitivamente, ninguém estará comendo ninguém!

- Hm. Hã. Rum.- Douma tenta falar algo, mas você é mais rápido, apertando sua mão sobre seus lábios, muito disposto a faze-lo engasgar com seus dedos se fosse necessário.

Vamos lá multi-cérebros! Pensem.

- Seu nariz!- Você exclama, vendo o menino o olhar confuso e ainda desconfiado.- Quero dizer, use seu nariz, você tem um bom olfato não tem?

Leva um minuto de silêncio, antes que o menino diga:

- Como você sabe disso?

Você pode afirmar ser outra pessoa em um corpo que nem sempre foi seu, mas dizer que aquele mundo era o fruto da mente de um escritor, era ir um pouco longe. Você não quer seu terapeuta tendo uma crise existencial.

- Eu apenas sei, sim.- Tanjiro não aceita nada bem sua resposta, o vinco entre suas sobrancelhas apenas cresce.- Olha, apenas faça isso, eu não sou quem você tá buscando.

- Você é Muzan.- O menino atira de volta, não pronto para recuar.

Mordendo os lábios, você engole a negativa, seus olhos deslizando para a cabeça loira a qual você se agarra, pensado suas escolhas. Como seria para suas luas descobrir que você não é o Muzan que eles pensam? Haveria rebelião? Talvez, mas você ainda tinha todas as habilidades do boss, você não perderia.

Ok, era isso. Você estará arriscando. O que mais poderia acontecer? Ah, não! Você é idiota? Porque você fez isso novamente? Risca! Risca! Autor, por favor, risca!

O̶ ̶q̶u̶e̶ ̶m̶a̶i̶s̶ ̶p̶o̶d̶e̶r̶i̶a̶ ̶a̶c̶o̶n̶t̶e̶c̶e̶r̶?

Dilemas superados, você suspira e derrama.

- Sim e não. Olha, eu não matei sua família, na verdade, eu não matei ninguém! Juro, juradinho. Mas sim, eu sou Muzan, mas apenas em corpo, a alma... - Você para um segundo, seus pensamentos passando a mil, antes de decidir deixar esse debate filosófico para mais tarde. - Acho que é isso. A alma é outra. Não é exatamente justo que eu assuma a culpa por algo que não fiz, além disso, não posso deixá-lo ferir esse corpo, pois é meu agora e eu realmente não curto essas paradas. Tanjiro-kun, você me entende?

Você trabalha o nível de sua cara de cachorro pidão, pensando em todas as deliciosas iguarias perdidas e no quão nojento deve ser viver de carne crua, isso faz seus olhos ficarem marejados, é uma dor.

- Isso...- Tanjiro está confuso, você não o culpa, é muita informação pra processar, de qualquer forma, você pensa que deve empurrar mais um pouco.

- Aquele que você caça não existe mais, você não pode me responsabilizar por seus pecados. Você sabe que estou sendo sincero, sinta meu cheiro, não deve ser o mesmo daquele dia, não totalmente.- Você realmente espera que não seja, seria uma droga se fosse, assim o menino nunca confiaria em você.

Tanjiro está hesitando, é esperado, você deveria lhe dar um tempo para processar aquilo. Deveria é a chave, você simplesmente não vai, isso lhe mataria de ansiedade.

- Então?

- Posso dizer que você não está mentindo, mas não posso simplesmente deixá-lo ir.- Aparentemente o menino havia se decidido, você quase podia ver o discurso do protagonista aparecendo.- Não posso deixar de lado o que você é, que você está associado a demônios como ele.- O menino olha brevemente para o loiro estranhamente quieto.- Ainda que você afirme não ter matado ninguém, o cheiro de sangue se prende a você, a ele. Se eu ignora-los e vocês matarem mais alguém, seria minha culpa, não posso permitir isso.

- Então, você pode ficar.- Você diz, foi uma mal escolha de palavras, o menino ainda está desconfiado e essa sentença soa para ele mais como uma ameaça.

- Estou preso aqui?

- Não! Não pense assim, quero dizer que você pode ficar, pode garantir que o que digo é verdade.

Há mais uma daquelas pausas dramáticas, antes que o menino guarde sua espada, o clique da lâmina alivia a pressão em seu peito, isso o faz abrir um grande sorriso, mas sua animação se esvai rapidamente quando sente algo húmido e quente deslizam por sua palma. Eca. Seus olhos disparam para Douma, ele acaba de lamber sua mão? Pelo olhar que o outro demônio o envia e a sensação que se repete, não resta dúvidas.

O que lhe lembra...

- Né, Tanjiro-kun, você já pensou em tentar trabalhar com terapia? Diga que sim, sim? Eu tenho muitos clientes garantidos para você, por pelo menos algumas décadas.

Ah, pobre Tanjiro, você só espera que o menino consiga sair bem dessa loucura. É o que você deseja, antes que algo o distrai novamente.

A fisgada é breve, não chega a ser um corte profundo, está lá e no segundo seguinte se foi. Mas ainda sim, você reage, apenas para enfatizar.

- Ai! Pare com isso.- Você grita, afastando a mão da boca pecaminosa de Douma, o merdinha ousou lhe morder.

Rindo, Douma se vira pra você, seus olhos arco-íris brilhando. Você precisa parar de esquecer as coisas, não era hora de relaxar ainda, Douma ouviu tudo aquilo, você só podia supor o que viria agora.

- Muzan-sama é tão divertido.- Douma cantarola, muito atento a cada contração sua.- Ou você tem outro nome? Imagine como todos reagiram a essa incrivel notícia.- Que estatuto, ele finge o inocente, mas é mais como uma ameaça velada. - Estou ansioso para conhece-lo melhor. Você vai deixar, não vai?!

E lá se foi sua ilusória paz. Foi bom enquanto durou. Brasileiro não tem um minuto de paz, afinal.

Tomada #01 (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora