Capítulo 9 - Aquele Com o Momento

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- Ni- ni- ninguém - limpo a garganta e tento soar mais convincente - Tô sozinha.

- Aham - ele fica em silêncio e eu começo a relaxar - Mas abre aí, quero falar com você - mordo o lábio inferior e solto um suspiro.

Todos ficamos em pé, levo a mão a cabeça. Preciso de uma ideia. E rápido.Olho para Cameron, que pergunta com os olhos esbugalhados "o que nós vamos fazer?!". Minhas mãos estão suando, olho em volta do quarto, eles poderiam ir para de baixo da cama ou...

- Eu tenho que me vestir, eu... eu tô pelada - todos olham pra mim com uma cara engraçada. Eu tinha que falar alguma coisa que justificasse a minha demora, não é?

Eu aponto exasperada em direção ao banheiro, mas os meninos não se mexem.

- Nem a pau - sussurra Cameron, solto um grito contido.

- O que tá acontecendo aí?- pergunta Saulo.

-Anda - sussurro, enquanto empurro eles até lá - Fiquem aí! E pelo amor de Deus, não façam barulho - olho em volta do quarto à procura de algo que possa levantar qualquer tipo de suspeita de que três adolescentes estão trancados no meu banheiro - O que você quer? - é a primeira coisa que falo antes de Saulo forçar seu corpo para dentro do quarto.

- Por que não está dormindo? - indaga ele, investigando o quarto de uma forma nada discreta.

- Tava sem sono - coloco meus cabelos atrás da orelha e cruzo os braços. Ele arqueia as sobrancelhas e começa a andar pelo quarto.

- Ah, é mesmo? - ele se encosta na escrivaninha - E o que você fica fazendo acordada às 3:00 da manhã, ainda por cima pelada? - meu rosto fica quente e começo a buscar alguma explicação plausível. Ouço barulho de risada abafada vindo do banheiro. Ai meu Deus. Saulo franze o cenho, já virando o rosto na direção do barulho.

Agora qualquer esperança que eu tinha de ser liberada desse maldito castigo foi por água a baixo.

Cameron sempre arranja um jeito de ferrar com tudo. Eu tô aqui me esforçando tanto para proteger eles (e a mim mesma) enquanto ele decide levar tudo na brincadeira.

- A gente tava conversando - Saulo olha em volta procurando de onde veio à voz. Fico confusa por alguns segundos e então lembro: Thereza. Ela ainda tá na ligação! Solto o ar que nem sabia que estava prendendo e pego o notebook na cama.

- É, é isso mesmo a gente tava super conversando sobre... sobre - minha voz está mais aguda que o normal, mas Saulo não parecesse perceber.

- Dragões - olho pro monitor e ergo uma sobrancelha. Thereza apenas balança a cabeça energeticamente.

- Dragões? - Saulo se senta na beirada da cama e olha pro notebook e depois pra mim - E por que você tava fazendo isso pelada? –PUTA MERDA.

- Nossa Saulo, esquece isso - começo a guiar ele até a porta do quarto e ele parece se divertir com meu constrangimento - Eu não tava totalmente sem roupa seu babaca, eu tava com um top, coisa de menina...

- Tudo bem, irmãzinha, o que funcionar pra você.

- Cai fora - fecho a porta na cara dele e juro que consigo ouvir um risinho.

- Vai dormir, Anne - a voz dele soa um pouco mais distante, então sei que ele deve está indo para o seu quarto.

- Essa foi por pouco.

- Eu te devo uma Thereza, mas agora tenho que ir, a gente se fala amanhã – falo apressadamente e fecho o notebook, indo em direção ao banheiro.

Erick está sentado no vaso com a cabeça apoiada nas mãos, Cameron está apoiado na parede e Henry está encarando o espelho.

- Seu irmão é um lerdo - diz Erick ao passar por mim.

- Ainda bem – falo direcionando minha cara fechada para Cameron.

- Qual é Aninha, não deu pra segurar, aquela conversa tava muito engraçada.

- Você é um babaca, Cameron - ele não parece nem um pouco ofendido. Dou as costas para ele e sigo os outros.

- Acho que é melhor a gente ir – sugere Erick, já passando o seu corpo pela janela - Té mais, Anne.

- Olha, querida, se eu tiver que entrar e sair desse jeito toda vez que eu vier aqui - Henry comprime os lábios enquanto senta sem jeito na janela - Vamos ficar sem nos ver por um bom tempo.

Me aproximo da Janela e sinto o ar gélido da madrugada que vem de fora.

- Você tá com raiva mesmo? - sussurra Cameron, enquanto se aproxima por trás e coloca os braços por cima dos meus ombros.

- Você ia ferrar com tudo, seria mais um problema que eu teria que lidar – fito os meninos que já estão lá em baixo.

- Mas não deu em nada, ele nem percebeu - consigo ver ele avaliando minhas reações, mexo no meu cabelo, tentando formar uma cortina entre seu rosto e o meu.

- Mas poderia...

- Mas não deu - afasto os seus braços de mim e ele se posiciona ao meu lado - Por que você sempre faz isso? - encaro ele, que já estava me olhando.

- Isso o quê? - ele se aproxima um pouco mais, assim como Rey fez no Lee Cafe, entretanto, meu corpo reage de uma forma totalmente diferente e ainda mais assustadora.

- Anne... – é como se eu nunca o tivesse ouvido pronunciar meu nome antes, soa diferente e parece diferente. Isso tudo é diferente. Por um momento tenho certeza que sua língua faz uma brincadeira secreta com todas aquelas quatro letrinhas. Minha respiração fica suspensa no ar.

- Cameron! - ele morde a parte interna da bochecha e fecha os olhos, dando alguns passos incertos para longe de mim. Lá embaixo, Henry está acenando para nós - Vambora.

- Tenho que ir - ele diz sem olhar para mim,já se precipitando pela janela.

Passo o resto da madrugada pensando nele. O que foi aquilo? Ele ficou tão... nervoso, quase inseguro. Quero falar com alguém sobre o que aconteceu .Quero falar com ele sobre o que aconteceu, mas ele iria rir e fazer pouco caso, me garantindo de que diz meu nome da mesma forma há 10 anos. Argh!.
O que teria acontecido se Henry não tivesse chamado ele? O que ele teria dito? O que teria feito? Por um momento eu cheguei a acreditar que ele se aproximaria ainda mais.

Meu celular vibra em cima da mesa de cabeceira e me estico para pegá-lo torcendo que seja uma mensagem de Cameron, mas é o nome de Henry que aparece na tela.

- Tenta se encontrar com a gente amanhã no posto de gasolina que fica ao lado do supermercado.


Ainda com meus olhos lutando para se adaptarem a luminosidade repentina da tela do celular, digito:

- Okay, o que vamos fazer?


-Amanhã eu te explico florzinha

- Agora tenho que dormir, não quero ficar com olheiras.

- Amanhã às 9:00. Esteja lá!

Saio do chat com Henry assim que o Online desaparece. Vou deslizando com o dedo pela minha lista de contatos e minha atenção fica pressa na foto de Cameron por um pouquinho mais de tempo que nas outras.
Ele está online. Abro o chat na expectativa de que um digitando... vá surgir a qualquer instante, mas nada acontece. Tento ignorar o que isso faz com meu estômago e com meu coração, ambos parecem um pouquinho mais apertados que antes, ainda que eu não queira admitir.

Se não comigo, com quem será que está conversando? Quem o mantém acordado até agora? Mordo o lábio inferior e bloqueio a tela. Tenho que fazer uma força enorme pra não mandar uma mensagem para ele. 

With a Little Help From My FriendsOnde histórias criam vida. Descubra agora