Capítulo 7 - Aquele Com Um Quase Beijo.

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       Caminhamos em direção à nossa mesa habitual, aquela que fica do lado da janela e de frente para os pôsters vintage. Sempre gostei do Lee cafe não só por causa dos pôsters, que eram bem legais e os quais eu amava encarar quando era mais nova, e não só porque eles tinham a melhor panqueca de toda Deadwood, mas o fato de eles não possuírem ar-condicionado era com certeza a cereja em cima do bolo. Veja, não é que eu seja uma pessoa contra ar-condicionados, mas eu não entendo porque usá-los em uma cidade que está em constante frio eterno. Lee entendia isso e deixava o velho e bom ventilador fazer seu trabalho.

- Foi o pior encontro do universo! - olho para Cam e ergo uma sobrancelha, ele reprime um sorriso, assim como eu - Ele chegou atrasado, vocês acreditam? - Henry se empertiga todo e continua a fofocar sobre seu encontro - Fiquei esperando por horas, sentado sozinho com a maior cara de trouxa, sabe pra quê?! - olho para Cam que está com o queixo apoiado nas mãos - Pra porra nenhuma, ele passou a noite i-n-t-e-i-r-a falando de um tal de Lucivando - ele cruza os braços e faz um bico - Eu tenho cara de quem quer saber quem é Lucivando ? - nego em silêncio, tentando não rir.

        Avisto Mel pela minha visão periférica.

- Mel! - levanto alguns centímetros da cadeira e aceno para ela. Os olhos dela fitam Cam por um instante e ela caminha relutante em nossa direção.

- Já sabem o que vão querer? - ela tira um bloquinho de papel do bolso do seu avental, percebo que ela ignora Cameron sutilmente.

- Número 3, mas sem os ovos, por favor - observo ela anotar meu pedido, de uma forma extremamente rápida.

- Vou querer só um yogurt, florzinha - Henry dá um sorrisinho, seus olhos alternando de Mel para Cam.

- E você? - ela consegue por hostilidade em uma pergunta tão curta mas Cam parece não notar.

-Número 2 - Cam oferece o cardápio à Mel, que o pega de uma forma um tanto quanto agressiva. Observamos ela marchar para longe de nós.

- Ela vai cuspir no seu suco - conclui Henry enquanto olha suas unhas.

- Cala a boca - Cam joga um pouquinho de sal nele.

- Não tenho culpa se você é um total cafajeste - diz Henry, limpando o sal de sua roupa. Cameron ri, mas não fala nada em sua defesa - Devia ter pelo menos ligado pra menina.

          Enquanto aguardamos a comida ficar pronta, falamos sobre a noite anterior, Henry menciona outros detalhes sobre seu encontro, Cam e eu contamos a história por trás do bandage da moranguinho que se encontra em meu rosto,rimos disso por alguns estantes, mas quando percebemos Henry quieto demais, nos calamos.

- Sinto falta do Oliver – ele confessa com simplicidade, evitando nos olhar.

          Oliver é o ex-namorado de Henry. Namoram por um pouco mais de um ano.Terminaram na véspera do ano novo e mesmo querendo saber o que havia acontecido, não queria ser indelicada e Henry não parecia muito afim de falar naquela hora.

- O que aconteceu? – lanço a perguntar hesitante.

- Nada de mais, sabe - ele suspira - Já não tava dando certo, quando um casal briga mais do que faz amor, quer dizer que tem alguma coisa errada - ele apoia a cabeça em uma mão e me dirigi um sorriso fraco - Ele tava me traindo a algum tempo.

- Sinto muito - Cam e eu falamos em uníssono.

- Ele não era pra você, quer dizer, você é O Henry, e ele simplesmente decidiu que iria te trair? Realmente patético – elaboro e eu dou um leve pigarro incentivando Cameron a continuar.

- A gente devia jogar ovos na casa dele, depredar o carro, coisas desse tipo.

     Semicerro os olhos para péssima sugestão.

- Tudo bem - Henry dá de ombros - Vida que segue.

- Um número 3 sem ovos – anuncia uma garçonete que não é Mel enquanto coloca os pedidos em cima da mesa - Um yorgut e um número 2. Mais alguma coisa?

- Não - digo um pouco mais contente do que estava antes, o cheiro de Bacon inundando todo o ar em nossa volta.

- Vai ficar só encarando ou vai comer? - pergunta Henry, apontando com uma colher para Cam.

- Sabe - ele cheira o suco e depois afasta o prato cheio de torradas e ovos para longe de si - Acho melhor não.

- Duvido muito que ela tenha feito alguma coisa com a sua comida – palpito depois que ele pega um pouco de bacon do meu prato.

- Isso porque você sempre acredita que as pessoas são melhores do quê eles realmente são – Explica Cam.

-Isso não... - sou interrompida pelos risinhos de Henry e volto minha atenção para ele.

- Se você olhar para trás irá ver o senhor Rey e seus amiguinhos - fico tensa, e me encolho involuntariamente na cadeira.

- Ele tá olhando pra cá? - não consigo evitar deixar escapar um tom de urgência em minha voz.

- Tá sim - Henry continua a tomar calmamente o seu yorgut.

- Acha que eu devo falar com ele? - pergunto, esperando que a resposta seja "não".

        Henry diz sim ao mesmo tempo em que Cameron diz não. Arregalo os olhos para os dois, alarmada e em completo desespero, já sentindo toda minha dignidade escorrer pelo estofado vermelho.

- Cameron, ela enfiou a mão na calça do garoto! - escondo meu rosto com as mãos - Pelo menos um "Oi" ou talvez um "desculpe pelo assédio"

- Ela não fez isso - Cam olha pra mim em busca de uma confirmação.

- É, eu não fiz isso. Quer dizer, se eu fiz eu não lembro.

- Esse é o lema oficial dos alcoólatras, querida.

- Você não vai querer mais o bacon? - pergunta Cam já pegando os dois últimos.

      Ignoro Cameron e me arrisco a olha disfarçadamente para trás.

      Meu rosto todo pega fogo, pois Rey já estava olhando, me afundo mais ainda na cadeira.

- Você tem 7 segundos para se recompor, porque acho que ele está vindo pra cá - olho para Henry que se ajeita na cadeira como se estivesse prestes a ver a melhor comédia do ano.- 1..2..3..4..5

- Oi - ouço a voz de Rey vindo do meu lado direito, mas não consigo olhar.

- Opa, foram só 5 - Rey olha para Henry, confuso, esse responde com um gesto de mão - Nevermind.

         Rey limpa a garganta - Anne, posso falar com você lá fora?

- Comigo? - nunca cheguei tão perto de surtar - Ah! Claro! Por que não? Vamos! - sigo Rey até o lado de fora. Ficamos nos encarando por alguns segundos até que decido quebrar o gelo.

- Rey, eu sei que você deve tá querendo falar sobre aquela noite e sério, eu sinto muito, eu realmente não sei o que estava pensando – dirijo um olhar sincero para ele, que sorri, encarando o chão.

- Tudo bem - ele chuta uma pedrinha para longe, respira fundo e se aproxima de mim - Não é como se eu nunca tivesse pensado em você desse jeito - ele pega uma mexa do meu cabelo que está solta e a coloca atrás de minha orelha, e quando ele começa a se inclinar em minha direção, recuo involuntariamente. - Algum problema? Eu pensei que você também tava afim.

- Olha Rey, eu - o que é que eu to fazendo? Eu sempre quis isso, essa é minha chance! Mas não consigo falar, minhas mãos começam a suar e meus olhos disparam, olhando para todos os lados, menos para ele - Eu... Rey.. - recuo mais uma vez e bato a cabeça na pilastra - Droga!

- Você tá bem? - ele faz menção em dar um passo em minha direção, mas para no meio do ato deixando os braços penderem ao lado do corpo - Quer saber? Tanto faz, eu já entendi, desculpa. Então é isso, espero que suas férias sejam.. boas? - ele coça a nuca, me olha esperando que eu diga algo (e eu queria dizer várias coisas)mas quando percebe que sou incapaz de elaborar qualquer outra sentença, se vira e sai, me deixando sozinha no estacionamento do Lee Cafe.

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