Caminhamos em direção à nossa mesa habitual, aquela que fica do lado da janela e de frente para os pôsters vintage. Sempre gostei do Lee cafe não só por causa dos pôsters, que eram bem legais e os quais eu amava encarar quando era mais nova, e não só porque eles tinham a melhor panqueca de toda Deadwood, mas o fato de eles não possuírem ar-condicionado era com certeza a cereja em cima do bolo. Veja, não é que eu seja uma pessoa contra ar-condicionados, mas eu não entendo porque usá-los em uma cidade que está em constante frio eterno. Lee entendia isso e deixava o velho e bom ventilador fazer seu trabalho.
- Foi o pior encontro do universo! - olho para Cam e ergo uma sobrancelha, ele reprime um sorriso, assim como eu - Ele chegou atrasado, vocês acreditam? - Henry se empertiga todo e continua a fofocar sobre seu encontro - Fiquei esperando por horas, sentado sozinho com a maior cara de trouxa, sabe pra quê?! - olho para Cam que está com o queixo apoiado nas mãos - Pra porra nenhuma, ele passou a noite i-n-t-e-i-r-a falando de um tal de Lucivando - ele cruza os braços e faz um bico - Eu tenho cara de quem quer saber quem é Lucivando ? - nego em silêncio, tentando não rir.Avisto Mel pela minha visão periférica.
- Mel! - levanto alguns centímetros da cadeira e aceno para ela. Os olhos dela fitam Cam por um instante e ela caminha relutante em nossa direção.
- Já sabem o que vão querer? - ela tira um bloquinho de papel do bolso do seu avental, percebo que ela ignora Cameron sutilmente.
- Número 3, mas sem os ovos, por favor - observo ela anotar meu pedido, de uma forma extremamente rápida.
- Vou querer só um yogurt, florzinha - Henry dá um sorrisinho, seus olhos alternando de Mel para Cam.
- E você? - ela consegue por hostilidade em uma pergunta tão curta mas Cam parece não notar.
-Número 2 - Cam oferece o cardápio à Mel, que o pega de uma forma um tanto quanto agressiva. Observamos ela marchar para longe de nós.
- Ela vai cuspir no seu suco - conclui Henry enquanto olha suas unhas.
- Cala a boca - Cam joga um pouquinho de sal nele.
- Não tenho culpa se você é um total cafajeste - diz Henry, limpando o sal de sua roupa. Cameron ri, mas não fala nada em sua defesa - Devia ter pelo menos ligado pra menina.
Enquanto aguardamos a comida ficar pronta, falamos sobre a noite anterior, Henry menciona outros detalhes sobre seu encontro, Cam e eu contamos a história por trás do bandage da moranguinho que se encontra em meu rosto,rimos disso por alguns estantes, mas quando percebemos Henry quieto demais, nos calamos.
- Sinto falta do Oliver – ele confessa com simplicidade, evitando nos olhar.Oliver é o ex-namorado de Henry. Namoram por um pouco mais de um ano.Terminaram na véspera do ano novo e mesmo querendo saber o que havia acontecido, não queria ser indelicada e Henry não parecia muito afim de falar naquela hora.
- O que aconteceu? – lanço a perguntar hesitante.
- Nada de mais, sabe - ele suspira - Já não tava dando certo, quando um casal briga mais do que faz amor, quer dizer que tem alguma coisa errada - ele apoia a cabeça em uma mão e me dirigi um sorriso fraco - Ele tava me traindo a algum tempo.
- Sinto muito - Cam e eu falamos em uníssono.- Ele não era pra você, quer dizer, você é O Henry, e ele simplesmente decidiu que iria te trair? Realmente patético – elaboro e eu dou um leve pigarro incentivando Cameron a continuar.
- A gente devia jogar ovos na casa dele, depredar o carro, coisas desse tipo.
Semicerro os olhos para péssima sugestão.
- Tudo bem - Henry dá de ombros - Vida que segue.
- Um número 3 sem ovos – anuncia uma garçonete que não é Mel enquanto coloca os pedidos em cima da mesa - Um yorgut e um número 2. Mais alguma coisa?
- Não - digo um pouco mais contente do que estava antes, o cheiro de Bacon inundando todo o ar em nossa volta.
- Vai ficar só encarando ou vai comer? - pergunta Henry, apontando com uma colher para Cam.
- Sabe - ele cheira o suco e depois afasta o prato cheio de torradas e ovos para longe de si - Acho melhor não.
- Duvido muito que ela tenha feito alguma coisa com a sua comida – palpito depois que ele pega um pouco de bacon do meu prato.
- Isso porque você sempre acredita que as pessoas são melhores do quê eles realmente são – Explica Cam.
-Isso não... - sou interrompida pelos risinhos de Henry e volto minha atenção para ele.
- Se você olhar para trás irá ver o senhor Rey e seus amiguinhos - fico tensa, e me encolho involuntariamente na cadeira.
- Ele tá olhando pra cá? - não consigo evitar deixar escapar um tom de urgência em minha voz.
- Tá sim - Henry continua a tomar calmamente o seu yorgut.
- Acha que eu devo falar com ele? - pergunto, esperando que a resposta seja "não".
Henry diz sim ao mesmo tempo em que Cameron diz não. Arregalo os olhos para os dois, alarmada e em completo desespero, já sentindo toda minha dignidade escorrer pelo estofado vermelho.
- Cameron, ela enfiou a mão na calça do garoto! - escondo meu rosto com as mãos - Pelo menos um "Oi" ou talvez um "desculpe pelo assédio"
- Ela não fez isso - Cam olha pra mim em busca de uma confirmação.
- É, eu não fiz isso. Quer dizer, se eu fiz eu não lembro.
- Esse é o lema oficial dos alcoólatras, querida.
- Você não vai querer mais o bacon? - pergunta Cam já pegando os dois últimos.Ignoro Cameron e me arrisco a olha disfarçadamente para trás.
Meu rosto todo pega fogo, pois Rey já estava olhando, me afundo mais ainda na cadeira.
- Você tem 7 segundos para se recompor, porque acho que ele está vindo pra cá - olho para Henry que se ajeita na cadeira como se estivesse prestes a ver a melhor comédia do ano.- 1..2..3..4..5
- Oi - ouço a voz de Rey vindo do meu lado direito, mas não consigo olhar.
- Opa, foram só 5 - Rey olha para Henry, confuso, esse responde com um gesto de mão - Nevermind.Rey limpa a garganta - Anne, posso falar com você lá fora?
- Comigo? - nunca cheguei tão perto de surtar - Ah! Claro! Por que não? Vamos! - sigo Rey até o lado de fora. Ficamos nos encarando por alguns segundos até que decido quebrar o gelo.
- Rey, eu sei que você deve tá querendo falar sobre aquela noite e sério, eu sinto muito, eu realmente não sei o que estava pensando – dirijo um olhar sincero para ele, que sorri, encarando o chão.
- Tudo bem - ele chuta uma pedrinha para longe, respira fundo e se aproxima de mim - Não é como se eu nunca tivesse pensado em você desse jeito - ele pega uma mexa do meu cabelo que está solta e a coloca atrás de minha orelha, e quando ele começa a se inclinar em minha direção, recuo involuntariamente. - Algum problema? Eu pensei que você também tava afim.
- Olha Rey, eu - o que é que eu to fazendo? Eu sempre quis isso, essa é minha chance! Mas não consigo falar, minhas mãos começam a suar e meus olhos disparam, olhando para todos os lados, menos para ele - Eu... Rey.. - recuo mais uma vez e bato a cabeça na pilastra - Droga!
- Você tá bem? - ele faz menção em dar um passo em minha direção, mas para no meio do ato deixando os braços penderem ao lado do corpo - Quer saber? Tanto faz, eu já entendi, desculpa. Então é isso, espero que suas férias sejam.. boas? - ele coça a nuca, me olha esperando que eu diga algo (e eu queria dizer várias coisas)mas quando percebe que sou incapaz de elaborar qualquer outra sentença, se vira e sai, me deixando sozinha no estacionamento do Lee Cafe.
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With a Little Help From My Friends
RomanceAnne é uma garota de 17 anos que mora em uma cidade pacata e, por proteção excessiva (ou seria insegurança?), passou grande parte da adolescência dentro de seu quarto, enquanto os outros estavam por aí, se descobrindo. Ela sabe que não deveria ser a...