Capítulo 8 - Aquele Que Eles Estão No Quarto.

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- Qual é o seu problema? - pergunta Erick, exasperado.

Já passam das 2:00 da manhã, Erick e Cam estão sentados no chão, enquanto eu e Henry estamos esparramados na cama. Eles chegaram por volta das 23:00 horas e o assunto em pauta é o meu breve momento com Rey.

- Anne, eu pensei que você quisesse isso - diz Thereza, via Skype.

- Eu sei, eu quero... Eu queria - encaro o teto do meu quarto - Eu congelei, não sabia o que fazer!

- Era só ter beijado ele – Erick exemplifica o movimento com as mãos.

- E se ele não gostasse do beijo?! - mordo meu lábio inferior, ficando ansiosa com algo que provavelmente nunca mais vai acontecer entre nós dois.

- Para de pensar tanto - Henry deita de lado, olhando pra mim - Você consegue complicar as coisas mais simples.

- Vocês acham que ele vai tentar de novo? - suspiro – Sabe, tentar me beijar.

- Você praticamente deu um fora nele - Erick olha pra mim como se eu fosse mentalmente instável.

- Eu não dei! Eu só não sabia o que fazer - abafo um grito no travesseiro.

- Tá, chega desse assunto, não vai mudar o que aconteceu - Thereza boceja e, involuntariamente, eu também.

- Você deve tá morrendo de sono, Theza - diz Henry, enquanto faz cachinhos em seu próprio cabelo - Vocês chegaram que horas do acampamento?

- Odeio acampamentos - diz Cam, que tem estado muito silencioso desde que chegou - É sempre muito úmido.

- Quando na vida você já acampou? -Henry olha semicerrado para Cam.

- Quando eu morava com a minha mãe. Ela tinha esse estilo de vida meio hippie, era obrigado a ir com ela - Cam revira os olhos - Ainda bem que minha tia não é ligada nessas coisas.

- Quando você vai com alguém que você gosta é diferente - garante Erick, ouço Thereza fazer "ownn"

- Ainda assim seria úmido.

- Mas pelo menos teria alguém pra sofrer com você.

- Deviríamos ir acampar nessas férias - sugere Henry - Todos nós - ele dirige um olhar significativo para mim.

- Sem chance - Cam dá uma risada em forma de deboche.

- É uma ótima ideia! - Henry se senta na cama, animado - Precisamos de boas memórias para sobreviver à faculdade!

- Provavelmente só nos veremos nos feriados de ação de graças – Erick pontua.

- Nenhuma memória boa surge em acampamentos.

- Sinceramente, acho que você mudaria de opinião sobre acampamentos se decidisse acampar com a gente - Henry faz um bico e continua - Viajaríamos sozinhos - olho para Cam e observo sua mente maliciosa trabalhar, mas de repente um sorriso toma conta do seu rosto, um sorriso nada malicioso.

- O que foi? – decido perguntar.

- ele coça a nuca - Lembra da aula em campo que fizemos até Whitewood - Thereza solta um grunhido imediatamente - Lembrei dá nossa conversa.

- Odeio essas historias que eu não estou envolvido – Henry fingi estar emburrado - Que aula em campo? Que conversa?

- Henry, você deveria agradecer por ainda morar em Nova York naquela época - Erick fala, com uma expressão séria - Foi uma tragédia. Eu sempre achei que minha vida era uma merda, mas naquele dia, naquele dia eu tive certeza.

- O que aconteceu?

- Tínhamos entre 8 ou 9 anos - Cam pigarreia, tomando a tarefa de contar a história sobre aquele fatídico dia para si - Iríamos fazer uma viagem até Whitewood. E eu não sei vocês, mas eu estava muito animado.

- Eu tava animado pra porra, eu nunca tinha deixado essa cidade.

- Eu cheguei muito cedo no colégio naquele dia. Pra falar a verdade, eu mal consegui dormir – Cameron continua - Porém, quando estávamos fazendo uma fila que nos levaria até os ônibus, portanto para bem, mais para bem longe de Deadwood - Cam faz uma pausa dramática.

- E aí, O que aconteceu?

- O ônibus quebra – revelo.

- Shhhhhhh - Cameron ergue o dedo - Um dos Ônibus quebra. – infatiza - E esse foi o sinal que recebemos, antes da merda começar de verdade. Algumas crianças começaram a chorar e os professores pegaram os seus carros e nos dividiram em grupos. Acabamos indo no banco de trás do carro do nosso professor de matemática, foi nesse dia que nos conhecemos –Recordo vagamente de que não éramos só nós no carro. Thereza e Erick iam sentados no colo de outros adultos que eu nunca tinha visto, o que deixava um espaço muito pequeno para ser dividido entre mim e Cam - Henry, qual é a coisa que você mais ama em Deadwood?

- Que aqui é muito frio?

- Exatamente, mas nesse dia tão especial, foi o único dia que Deadwood estava insuportavelmente quente - Henry ri - É sério, e pra piorar, o ar-condicionado do carro não funcionava e o vento que entrava pela janela era quente!- descreve em um tom exasperado - Naquele dia, Erick, Theza,Anne e eu, compartilhamos pedidos silenciosos de socorro. Passamos longas horas naquele carro, e adivinha? - diz ele, apoiando o queixo na mão - Depois que aquele maldito dirigiu horas e horas e horas e horas ele foi perceber que havia pegado o caminho errado!

- Foi a primeira vez que pensei em suicídio – declara Erick em um tom mórbido.

- De qualquer forma, tivemos que voltar todo o caminho para pegar a rota certa, eu só queria esticar os braços - ele ri, sarcasticamente - E quando finalmente estávamos no caminho certo... - Cameron esfrega os olhos, frustrado com a lembrança - A porra do carro enguiça!

- AI MEU DEUS. – exprime Henry em um sussurro solidário muito alto, que me faz olhar pra ele com uma cara feia - Desculpa - diz ele levando as mãos a boca.

- É um nível de estresse muito alto para crianças de 9 anos - afirma Thereza.

- E o que vocês fizeram?

- Descemos do carro e esperamos. Ajuda ou a morte.

- No final a única solução era esperar que o ônibus que não havia quebrado voltasse para nos buscar. Ficamos lá, sem nenhuma sombra, sem água e sem ajuda. Depois de alguns minutos começamos a surtar, eu decidi que iria chegar à Whitewoods a pé, então comecei a correr - diz Cam, olhando pro chão - eles conseguiram me pegar e não me soltaram até que eu estivesse dentro do ônibus.

- Eu chorei - diz Theza.

- É, eu também - lembro - Choramos pelo mesmo motivo.Vimos uma cobra.

- Eu fiquei sentado no asfalto com a minha blusa em cima da cabeça – em seguida Erick olha pra mim – E era um galho e não uma cobra.

- E depois? Não ficou muito tarde para vocês chegarem em Whitewoods?

- Sim, quando chegamos lá, olhamos para algumas pedras idênticas as que têm aqui, olhamos elas por uns 15 minutos, e então voltamos.

- E no caminho de volta pra casa, tivemos nossa primeira conversa - Cam agora está sorrindo e eu também, até mesmo Henry sorri - Prometemos que iríamos viajar juntos para qualquer local, ver coisas que não podemos ver aqui.

- Até fizemos planos de como seria - complementa Erick - O destino era Vegas, como chegar lá era o problema. Cameron queria roubar um fusca, eu queria usar nossos corpos para conseguir dinheiro para passagem, Thereza sugeriu embarcamos em um avião sem sermos notados, Anne falou que poderíamos chegar a pé, passando somente alguns dias em locais estratégicos.

- Como é que eu nunca ouvi essa historia antes? É genial! - ouço passos pesados no corredor e logo em seguida batidas na porta do meu quarto, congelamos imediatamente.

- Anne, é o Saulo. Abre a porta - prendo a respiração e olho para os outros, que estão igualmente em pânico - Quem ta aí com você?

With a Little Help From My FriendsOnde histórias criam vida. Descubra agora