Drapetomania

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Emma’s Pov

Drapetomania (n.): uma sobrecarregada urgência de correr para longe.

O vento gelado entrava por uma frecha muito pequena de vidro entreaberto e tocava a pele exposta do meu braço esquerdo que estava encostado no batente da janela. Às cinco horas da manhã, haviam poucos sinais de sol, ou nenhum, exceto pelo clima especialmente mais gelado e pela noite em sua hora mais profundamente escura que prediziam que em breve o sol apareceria.

Não mais do que uma hora havia se passado desde que eu havia dormido e acordado outra vez, despertada por um pesadelo angustiante. Dormir de novo foi tão ou mais angustiante quanto, então, eu havia decidido sentar no largo beiral da janela principal do quarto e esperar pela hora em que eu deveria, tecnicamente, acordar.

Inspirei o ar, com cheiro de plantas queimadas do outono, que vinha de fora e o deixei percorrer todo o meu pulmão até que me doesse o peito e o coloquei para fora, concentrando a minha mente no processo de respirar.

"Entra oxigênio", inspirei profundamente, mais uma vez. "Sai dióxido de carbono", deixei o ar sair devagar, prendendo-o em espaços curtos e depois, o liberei completamente do meu pulmão. "Mais uma vez, Emma", pensei, preparando-me para inspirar. "Ar entrando, diafragma contraindo, caixa torácica expandindo", eu pensava, conseguindo, com sucesso manter a mente concentrada no processo de respirar. "Ar saindo, diafragma relaxando, caixa torácica diminuindo", pensei e repeti tudo mais uma vez. "Ar entrando… o cheiro de Jenna é tão inebriante; o cheiro das mãos, o cheiro do pescoço, o cheiro do cabelo…", sorri para o pensamento e imediatamente assustei-me comigo mesma e pisquei com força, tentando empurrar o pensamento para longe da minha cabeça.

Mais uma vez, ela voltara para a minha mente, como uma onda gigante que chega sem aviso e arrasta tudo, envolve tudo, engole tudo.

— Por que já está acordada? — A voz de Sofia cortou o silêncio, vinda do lado mais escuro do quarto.

— Não consigo mais dormir… — minha voz saiu tão fraca quanto eu me sentia.

"Fraca, Emma. Você é fraca", o pensamento surgiuem minha cabeça e eu apertei os olhos e o lado da cabeça contra o batente da janela.

— Jenna? — Sofia perguntou, provavelmente, apenas para confirmar algo a respeito do que ela tinha certeza.

"Jenna… O que não tem a ver com Jenna na minha vida atualmente?", pensei ironicamente.

— É… — Falei, deixando escapar em meu tom de voz a mesma ironia do meu pensamento.

— Vem aqui comigo, Em. — Sofia falou com a voz preguiçosa e ouvi o barulho de sua mão batendo sobre o colchão.

Suspirei, sentindo-me repentinamente frágil e ao mesmo tempo percebendo que eu estava precisando de colo. Virei meu corpo em um giro, colocando os pés no chão e segui para a cama de Sofia que estava a quatro passos largos de distância.

Deitei de lado e de costas para a minha amiga que, prontamente, abraçou-me carinhosamente por trás.

— Por que você está assim, branca de neve? — Sofia perguntou e eu franzi o cenho como reação ao estranhamento pelo apelido repentino pelo qual a minha amiga havia me chamado.

— Branca de neve? — perguntei, sentindo-me curiosa com o motivo de ter sido chamada assim.

— Me deixe, são fofuras da madrugada, essas coisas não se perguntam. Você só escreve num diário e caso sua vida um dia se torne muito importante, esse momento vai para um filme e eu serei a pessoa que lhe deu um apelido fofo. — ela falou, com a mão repousada sobre a minha barriga.

Wonderfall • JemmaOnde histórias criam vida. Descubra agora