Conselhos de mãe

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That's alright, let it out, and talk to me.

- Talk To Me, Cavetown

Dahyun fechou apressadamente a aba do Google que tinha aberto em seu laptop quando ouviu batidas na porta de seu quarto. Ela guardou o pequeno computador na gaveta e abriu o livro de física, esperando a pessoa que bateu se identificar.

— Dahyunie, posso entrar? - Dahyun suspirou aliviada por ser sua mãe e apenas exclamou um "sim", sorrindo a ver Jina entrar no quarto com uma pequena bandeja. — Fiz um lanche pra você. E você deveria descansar, está estudando desde que chegou.

— Eu sei, mas a cabeça já tá melhor, e eu tenho que recuperar minha nota de física. - Dahyun virou-se para a mãe. — Você sabe que eu preciso.

Jina assentiu e colocou a bandeja em cima da cama da Kim, em uma almofada. A mulher se sentou na beira da cama, passando os olhos pelo quarto da filha. Percebeu algumas arrumações novas, com novos pôsteres e um novo quadro aparentemente recém-pintado no cavalete perto do guarda-roupa.

— Voltou a pintar? - Jina encarava a pintura com um sorriso.

Era a pintura de um campo verde com um céu azul e nuvens volumosas, e mais ao fundo, haviam duas pessoas de mãos dadas aparentemente correndo. Não dava para distinguir o gênero, e com certeza aquilo tinha algum significado, que Dahyun demoraria muito a lhe dizer.

— Ah sim, fazia tanto tempo que eu não pintava. - Dahyun se levantou e foi até a cama, se sentando na outra beira e pegando um dos sanduíches que sua mãe havia feito. — Mãe.

— Sim?

— Eu posso te fazer uma pergunta?

— Sempre. - A mulher olhou para a filha com um sorriso acolhedor.

— Bom... O que você acha das pessoas que gostam de pessoas do mesmo gênero? - Jina se surpreendeu com a pergunta e demorou a responder, deixando Dahyun um pouco ansiosa.

— Eu não tenho nada contra. Afinal, não escolhemos quem amamos. - A mulher olhou para a filha, que a olhava surpresa. — Por que a pergunta?

— É que... - Dahyun não sabia como dizer. Tinha a fala na ponta da língua mas não sabia como expressar. — Eu acho que sou uma dessas pessoas... Eu não tenho certeza ainda, mas acho que sou... Por muitos fatores...

Não sabia de onde havia saído aquela coragem para falar para sua mãe de uma vez por todas o que ela era. O que ela sentia. E mesmo sabendo da natureza calma de sua genitora, ela tinha medo de ser rejeitada, como claramente ela seria se tivesse contado a seu pai ou seus avós.

O silêncio cresceu no quarto. Os olhos de Dahyun ganhavam lágrimas, ela ficava a cada segundo de silêncio mais nervosa. Mas a ação seguinte de sua mãe a fez desmoronar. Jina se levantou calmamente da cama e foi até onde Dahyun estava, a puxando para um abraço apertado. Aquilo foi o suficiente para Dahyun desabar em lágrimas e soluços, com sua genitora tentando tranquilizá-la com a mão em seu cabelo.

— Dahyunie, eu sempre vou te amar acima de qualquer coisa. - Jina segurou o rosto de sua filha e limpou suas lágrimas com um sorriso no rosto. — Você é minha filha, meu tesouro. Você pode ser o que quiser, e nunca vai deixar de ser minha filha. E eu nunca vou deixar de te amar.

Aquilo era o que a Kim precisava ouvir. Era o seu santo remédio naquele momento de tensão, tudo o que ela queria era o apoio de ao menos um familiar, e ela tinha aquele apoio bem ali. Sua mãe. Sua melhor amiga, e a pessoa com quem ela podia contar em qualquer situação. Ela amava a relação que tinha com Jina, e amava ainda mais agora que sabia que ela a aceitava sendo quem ela era. Esse amor de mãe e filha não é forte assim com todos, e Dahyun agradecia por ter essa boa relação com sua mãe.

— Mas por que você acha que é? Quais são os fatores? - Jina soltou lentamente sua filha do abraço e segurou suas mãos, lhe passando segurança para lhe contar o que quisesse.

— Eu acho que tô gostando de uma garota. - A mulher sorriu e arrumou o cabelo da filha. — E acho que você já sabe quem é.

— Sei sim. E ela é perfeita pra você, com certeza.

— Mas eu não sei se eu realmente gosto dela ou não. Eu fico confusa sempre que tento afirmar isso pra mim mesma. Eu nunca senti isso antes, e de acordo com livros de romance, isso é amor. Mas eu não sei se é verdade, se é algo da minha cabeça ou ilusão. Eu... Eu não sei...

— Posso dar minha opinião? - Jina perguntou, suspirando ao ver sua filha assentir. — Eu acho que você gosta dela. Você puxou a mim nisso, essa confusão de sentimentos. Quando me apaixonei pela primeira vez, eu senti a mesma coisa, e descobri que estava apaixonada depois que o garoto que eu gostava se declarou pra mim. Você pode estar confusa agora, mas em algum momento a certeza vai bater na sua porta, basta ter paciência.

— Sério? - Dahyun estava pasma. Nunca desconfiaria que aquela confusão era genética. — Então, eu realmente gosto dela?

— Acredito que sim. Mas tudo tem seu tempo, minha filha. Em algum momento, você vai estar tão segura desse sentimento que nada mais vai te abalar. Nem mesmo os sermões horríveis do pastor da nossa igreja.

Adorava os conselhos de sua mãe, porque eram sempre os melhores que tinha. A Kim sorriu e assentiu à última fala da mulher, voltando a comer o lanche que ela havia preparado. E quando Jina se levantou para sair do quarto, Dahyun se pronunciou.

— Mãe.

— Sim? - A mulher se virou novamente para a filha.

— Só... Não conta pro papai, tá bom? - Jina sorriu, entendendo exatamente o motivo do pedido da Kim mais nova.

— Tudo bem, esse segredo será só nosso.

Little Miss Perfect - DahmoOnde histórias criam vida. Descubra agora