Vigésimo sétimo canto: santo Antônio

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A hora do café foi um meio de diminuir as tensões entre Irma e Filó e depois virou um momento entre amigas que as duas gostavam de papear ou até mesmo ficar em silêncio olhando a natureza do Pantanal na varanda, mas hoje a companheira de Zé estava mais calada e encarando mais a carioca.

-Filó, tudo bem com você?

-Olha, eu conheço uma tão fácil! Eu posso ajudar. Uma vizinha casou no ano seguinte.

-Do que você está falando, mulher!?

-De simpatia. Amanhã é dia de Santo Antônio. Sim, eu sei que é muito em cima da hora, mas tem umas simples. Logo você terá alguém.

-Filó!!!! Eu não quero ninguém! Quanta bobagem isso de simpatia. Não acredito nessas coisas.

-Desculpa, mas um pouco de calor é bom. Depois que desistiu do meu Zé, você continuou tão sozinha.

Irma pensa que era estranho falar tão naturalmente sobre isso com ela, mas eram frutos da intimidade criada entre elas.

-E você parece o Trindade falando de feitiço...de pacto.

-Ara, simpatia como colocar o Santo de castigo.

-Viu? Igual! Aliás ele anda sumido. A última vez que a gente se falou, eu estava tão imersa no meu problema que fui bem rude.

-Saudades dele, Irma?

-Sim... Não é o que você está pensando! Ele é um bom amigo, apesar da mania brega de me chamar de princesa.

A confidente de Irma começa a olhar para além da ruiva e abre um sorriso zombeteiro.

-Parece que teu príncipe,digo amigo está chegando em um cavalo literalmente branco...

Irma se vira e Trindade está chegando a cavalo com sua Viola nas costas. Ela tenta não notar o quanto ele está bonito, mas é impossível. O violeiro sempre esteve nos sonhos mais secretos dela, no entanto ela sabia ser cedo para ocupar seu coração depois de tanta desilusão. Além do papo dele ser rendido demais para ser real.

-Ele estava fora?

-Sim, parece que está tocando em algumas festas na vizinhança. Ele disse para Zé que quer juntar dinheiro para se mandar daqui. Amanhã vai no santo Antônio da pousada nova aqui perto. Do jeito que anda galante... Bom, pelo menos você vai deixar de ser chamada de princesa.

As palavras da amiga ficaram na mente da carioca pelo resto da tarde e ao fim dela, ela resolve ir até o alojamento pedir um cavalo e para a sorte dela, Trindade estava sozinho e fazia algo misterioso na pequena cozinha deles. A entrada dela deu um leve susto no peão.

-Nossa, dona Irma. Assim eu quase morro e o cramulhão tem o pagamento dele.

-Odeio essas brincadeiras sua.

-Oxi, mas é verdade e o que a dona deseja?

-Um cavalo... - Irma nota o que ele estava fazendo - um momento, você estava enfiando uma imagem em um copo d'água?

-Santo Antônio,dona. Não é água não, é cachaça mesmo para ser mais forte

-Trindade, eu sei que você é uma pessoa um tanto..exótica, mas por que faria isso?

-Amanhã é dia do santo.

-Eu estou sabendo...

-É uma simpatia para ter um amor. Eu vou colocar de castigo até ter a minha graça.

Irma sentiu um aperto no coração que não queria sentir. Ela não entendia o motivo de sentir aquilo. Ela sabia no fundo, mas ainda era relutante em aceitar que a possibilidade de Trindade com alguém era algo que não gostaria de ver.

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