Sétimo encanto: a gaiola

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"Livre como não é a muito tempo"

E isso era verdade. Não que ela deixou de amar Trindade, mas porque o sentimento deles não era uma prisão. No fundo ela sempre soube que ele era pássaro, mas Deus como ela gostaria que o tempo de migração terminasse.

Todas as visões que tem gerou uma compreensão nela que eles nunca poderiam estar juntos porque parte dele estava imerso no mistério para sempre e em algum lugar aonde ela não poderia estar e foi o que aconteceu: ele sumiu e ela que está enfrentando Zefas da vida enquanto ele se presta a atormentar Alcides. Nem um sonho com ela, nem uma pista. Nada que mostrasse que ele foi embora, mas ainda a ama. Por que então ela iria retribuir esse sentimento?

O dia passa entre vários lanches e planos para a escola. Ela estava faminta por mudança, mas a realidade chega quando ela sente o bebê mexer e por um impulso quase chama o nome dele. Ele não está e Irma terá que lidar com isso. 

Uma desculpa furada e desacreditada fez com ela subisse mais cedo para o quarto e fingisse ler a mesma página mil vezes. Todo mundo as juras de amor dele voltavam. "Ele me prometeu! Ele prometeu" era só o que ela conseguia pensar e não viu sua mãe chegando para descansar.

-Jove, me falou da conversa de vocês. Eu fico muito feliz que  você esteja pensando assim, minha filha. Foi uma paixão cigana, será uma ótima história para contar para sua amigas e nada mais.

"Maravilha, agora seu amor virou conversa furada" pensa Irma..Tudo aquilo virou papo de elevador: " Lembra de quando você ardeu de paixão, amiga?". Sim, ela lembrava a todo momento.

-E também pode ter sido bom para aquele peão....

A frase tira Irma de seus pensamentos. Dona Mariana sempre com uma observação não pedida nota o espanto da filha.

-Sim,Irma. Ele já pode estar longe com novos golpes e talvez alguma filha de fazendeiro se encante pelos olhos azuis dele e a fala suave. Eu tenho para mim que talvez seu filho, já tenha irmão.....

Irma sente o mundo cair na cabeça dela e seus olhos alagarem. O disfarce dela se quebrando enquanto ela levanta com o dedo levantado para a mãe:

-A senhora nunca mais fale isso!! Trindade vai me amar para sempre. Ele me prometeu isso!

- Irma, ele também prometeu estar com você e sumiu. Aparece para qualquer peão menos você! Não tem nem saudade sobrenatural. Não se iluda. Prepare seu coração para Zé Lucas ou pelo menos, minha filha, finja que sim.

Irma já não mais poderia ficar ali e resolve descer para comer novamente algo. Ultimamente a comida foi uma boa companhia. No caminho para para cozinha o toque da viola de Tibério a atraiu. Antes de subir, ela ouviu Muda pedir para ficar por ali hoje para consolar Zefa. A mãe de Antero tenta segurar a indiferença pela dor da moça.

-Tão lindo ouvir a viola assim solitária na casa....

Tibério levou um leve susto com a aproximação, mas logo dá um sorriso que lhe era usual.

-Acordei a senhora?

-Não, eu ia comer algo...Você já tocou essa com.....

-Trindade..sim, algumas vezes. Não fique com raiva de falar o nome dele não, dona Irma.

-Não tenho raiva, tenho nada.

-Se me permite: não é verdade. A senhora fica sempre na defensiva quando alguém fala dele. Só que você saiba que eu também sinto falta dele...

-Olha, eu não sinto. Ele foi uma boa companhia..bom, eu preciso comer algo....

Ela pegou qualquer fruta para fugir de mais conversas, mas demorou par ao sono chegar e era difícil esconder seu choro da sua companheira de quarto. Sua noite foi agitada com pesadelo onde ela revivia os últimos momentos com Trindade e imagens dele na rede  com algum jovem.

Cada sussurro dele chamando a jovem de princesa, o coração dela pulava e do nada crescia uma barriga nessa mulher. Irma não poderia ver o rosto dela, mas Trindade a encarava com acidez. Quando ela ia tentar fugir em prantos, mãos fortes e conhecidas agarram sua cintura e ao olhar para cima, estava ele....o seu amor com o rosto sereno que ela conhecia e com os cabelos longos soltos. O beijo dele afastou a cena macabra e fez com ela dormisse até a manhã.

Irma acordou bem e fingiu não ouvir a mãe "brincar" que ela sonhou com Zé Lucas. Dona Mariana estava focada na herança e Irma sabia disso. Ela também saia que mesmo com esses sonhos bons, no fim a realidade era outra, porém algo a perseguia e a curiosidade a guiou até o galpão. A sorte parecia estar dando uma chance a ela quando logo encontra Tibério.

-Opa. Bom dia 

-Tibério, você mentiria para mim?

-Nunca, Dona Irma....

Ela toma coragem enquanto olha para o lugar cheio de lembranças....

-Trindade......Ele me amava?

-Sim, mais do que qualquer um poderia amar. Isso a senhora pode ter certeza.

Antes que voltasse para dentro da casa, o peão a chama...

-E você, princesa? Amava o maninho?

-Amo mais do que qualquer um poderia amar....

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