Vigésimo sexto encanto: A data

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Irma nunca foi muito de ligar para datas comerciais como essa ou ela tenta sempre achar que não, mas novamente estava sozinha no dia dos namorados. 

Não exatamente sozinha...

Ela e Trindade estavam se relacionando durante quase dois meses e sempre é intenso. Ele fala como esperou por Irma e ela fala como é ótimo ficarem juntos. Além do sexo maravilhoso, ela se sentia em paz com o peão. Ele era um bom ouvinte e quando falava algo, era exatamente o que ela precisava, mesmo que algo que ela não gostaria de ouvir. Ele também tinha as melhores histórias com sua inteligência sincera e prática. Não raramente só ficavam em silêncio aproveitando a companhia um do outro.

Nunca deram um nome para a relação deles. Isso dava alguma ansiedade em Irma, mas o que eles tinham era tão bom que dispensava rótulos. Porém hoje, ela sentiu falta de alguma definição. A ruiva se sentiu até um pouco boba quando aproveitou uma ida para Miranda e comprou uma case nova para ele. O sentimento negativo passou quando ela retornou e ele já estava esperando com seu lindo sorriso.

A sensação ruim voltou porque o dia todo ele estava sumido... Será que a movimentação de alguns peões para data o assustou? Irma não sabia. Ele sempre tão disponível para falar o quanto a adorava e logo hoje, nada?

Ela passou o dia calada e se esquivando das indiretas da mãe. " Aquele peão fez algum agrado?"  era o que ela falava todo o tempo. Irma começa a pensar que talvez ele não a via como namorada e só alguém para encontro intensos, mas não tão sérios. Ela foi se deitar com a frustração do vazio de resposta e presença dele. Não era nada tão importante assim, só uma data, mas ela no fundo já havia idealizado um dia ou pelo menos uma noite de carinho, quem sabe umas palavras mais significativas? Nem para transar, ele apareceu.

"Trindade, que me aguarde! Princesa para cá, princesa lá e hoje some. Eu pensando que as coisas mudariam" Irma pensa com raiva.

"E vão..."

A voz de Trindade em sua mente deu um susto enorme e ao mesmo tempo, ela cogita se é só a saudade que ela estava sentindo.

"Sou eu mesmo, não fica assustada. É para não acordar sua mãe...e a princesa está com saudade?"

"Você não pode entrar na minha cabeça. Pera, você sempre faz isso?"

" Não, eu juro. Vem aqui na nossa árvore vem"

"Trindade,estou de camisola e está escuro. Você some o dia todo, entra na minha cabeça e agora que eu saia de noite no escuro?"

"Não está escuro, princesa. Eu entendo que está com raiva. Eu ... posso explicar "

Irma não acredita nela mesma quando realmente desce com todo cuidado usando suas roupas de dormir. Ela pensa que realmente o mundo dela realmente foi sacudido por Trindade e ela não se importa nem um pouco.

Um pouco além da casa tinha um caminho marcado com alguns lampiões e estava até um pouco frio. Era uma loucura e tudo fez sentido quando chegou no lugar marcado. Trindade estava com os cabelos soltos como ela gostava e usando seu poncho vermelho. Ele estava perigosamente lindo.

Tinha uma cama improvisada com mantas de lã e uma refeição com alguns queijos e outras delícias. Ela deveria ser durona,mas assim que chegou, ele a guiou para um beijo e ela já estava entregue. Eles ficaram assim por um bom tempo. A forma como se encaixavam eram perfeita. Ele a vira para falar para ao pé do ouvido dela.

-Oh saudade... A princesa está linda...

-Linda? Eu nem fiz maquiagem e nem é a camisola que tinha planejado.

- Então essa lindeza pensou em planos com esse pobre diabo?

A mão dele já estava subindo pela coxa dela e chegando nos seus lábios íntimos. Irma se sente uma adolescente porque ela estava ruborizada e excitada com somente beijos, a voz dele e o cheiro dele. Ela só poderia falar a verdade.

-Sim... Acho que tinha esquecido de mim...

-Não tem chance de acontecer isso. Eu esqueço meu nome, mas não esqueço de você. Só não sabia se...

Irma nota que ele teve as mesmas inseguranças que ela e isso o deixava adorável.

- Tira...tira o poncho...Me deixa lhe ver...

Irma se deita no ninho criado por ele enquanto ele ri sem graça. Trindade ainda brinca dançando de leve ao tirar o poncho e a blusa. Ele era muito delicioso de se ver, mas ela prefere tocar, então o puxa para si até ele cair em cima dela. Os dois caem na risada e tudo estava perfeito, porém a questão deles ainda estava na mente dela enquanto tira os cabelos dos olhos dele.

- Algo está perturbando a princesa e não gosto disso.

-Você não leu a minha mente? - ela provoca

-Não, só li mais cedo para lhe chamar sem vossa mãe chamar a polícia...Me conta..

Ela estava receosa, mas os olhos brilhantes dele deram confiança.

- O que somos?

- Você é a princesa e eu sou seu  criado.

- Trindade, eu já falei que não gosto dessa comparação e vamos combinar que na última vez, eu lhe servi muito bem...todas as vezes. - Ele ruborizou com a lembrança - Não é isso, o que somos... juntos?

Trindade parece indefeso como nunca ela havia visto.

-Irma, a pergunta é o que você deseja que eu seja. Para mim, a princesa é tudo...

- Namora comigo?

-Você e eu?

-Não, eu, você e o Tiberio. Nós dois, Trindade.

A pegada intensa junto com o beijo deram a resposta e como se amaram logo depois foi a confirmação da primeira resposta. Ela estava mole de tanta paixão e serviu vinho para os dois. Ficar sem beijar era um tarefa complicada.

- A princesa é minha namorada e eu, namorado dela. Olha, eu nunca fui tão feliz. Espero ser um bom parceiro porque nunca namorei...

- Você é meu peão Encantado e me faz tão feliz... Inclusive, vinho? Não sabia que gostava.

- Nem eu, namorada. Eu consegui um adiantamento para montar tudo isso e na tv lá do patrão passou que vocês da cidade gostam de tomar para namorar né?

Irma não se cansava da ternura dele e se sente a mulher mais sortuda daquele lugar.

-Você....olha..

-Eu olho...olho você.

Os dois se amaram novamente até infelizmente terem que voltar antes do amanhecer por completo. O primeiro dia dos namorados dela foi algo mágico e nem nos maiores sonhos dela, ela pensaria algo assim.

- Você ainda vai arrepender, Irma...

Ela escuta a mãe falar baixinho quando tentava voltar para cama sem alarde.

-Nunca, mamãe, nunca.

Depois de um dia de trabalho com algum esforço pela noite em claro, mas a melhor que ele já teve. Trindade volta ao alojamento para tomar um banho e encontra em sua cama uma case de viola preta. A mais linda que ele já viu e ao abrir, o veludo tinha uma marcação que encheu o peito do peão de esperança de ser feliz.

"Não deveria, mas te amo. Da sua princesa"

Trindade pensa em deixar para uma nova viola agora abençoada para ficar naquele pequeno lugar de amor. Não queria invadir a mente dela, mas era maior que ele.

" Também te amo, princesa"

Ele só sente o coração dela pular em sua mente. Os dois se encontraram e não pretendem se desencontrar.

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