Noite: a festa

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A cabeça de Irma começou a doer imaginando o que aconteceu depois depois que ela saiu da boate. É algo tolo, mas não sai dela mesmo com o lindo sorriso dele quando a viu. Trindade se aproxima e o cheiro de chuva dele tira um pouco do peso das indagações dela.

-Princesa está linda demais... Será difícil tocar hoje...

Realmente ela tentou caprichar e estava feliz que não era para Zé Leôncio. Ela queria se sentir poderosa para o convidado músico e ao que parece deu certo. O vestido vermelho de seda foi uma compra no impulso quando foi acertar algo do buffet da festa. A imaginação dela voou longe ao pensar nas mãos habilidosas dele descendo a peça para fora do corpo dela.

-No final da noite, a gente vai se beijar...pelo menos.

-Mas mas isso não está no combinado...

Irma não sabe se foi o nervosismo na sua voz ou no conteúdo da frase, mas Xeréu logo fechou o semblante.

-Eu vou me apresentar? Falta música de verdade nessa festa.

Ele tenta mudar de assunto, mas ela ainda sente tensão na voz dele. Irma apresenta o violeiro para sua família e todos ficam curiosos de onde a reclusa tia conseguiu um amigo músico.

-Eu fui em um bar e fiquei encantada com a viola dele. Começamos a conversar depois do show.

A tia já não tão mais reclusa se orgulha de não ter mentido. A verdade era exatamente essa, mas tirando a parte da procura por um par, o tipo de bar e como ela está totalmente seduzida por ele e não apenas musicalmente, mas sua pequena vitória pessoal é quebrada pelo interesse evidente da aniversariante no rapaz. Quem não gostou nada disso foi também o ex dela.

Irma precisava impedir de Zé Leôncio sair de lá, então ela percebe se onde conhecia o sotaque de Trindade. Ele era da mesma região que seu ex cunhado e provavelmente conhece bem as músicas de lá. Ela pensa em algo que poderia não só manter o pai de Jove ali, mas unir os pais do rapaz. A ruiva então acompanha o músico até o pequeno palco montado no jardim. Enquanto ele se preparava, ela colocava seu plano em prática.

-Você é do Pantanal?

-Não exatamente, sou de lugar nenhum, mas sim, fui criado por lá. Inclusive seu grande amor é muito conhecido. Não sei se viria se soubesse quem era.

-Você falou que seu destino era me encontrar, viria de qualquer jeito. Eu preciso que você toque duas músicas em especial. As outras, você pode fazer o que desejar...

-Eu desejo ir embora, posso?

Irma não entende a mudança de humor de Trindade. Não parece o mesmo rapaz do sorriso das fotos de ontem, muito menos o que chegou. O papo com seus familiares foi tranquilo, então era algo com ela.

- É realmente só isso que deseja?- Trindade só termina de afinar sua viola- bom, cavalo preto porque Zé ama essa música e perto do final, você toca a música do casal.. Merceditas?

-Sim, conheço as duas, pode deixar - quando Irma se vira para ir, ela escuta a voz dele baixinho falando algo que vai aquecer seu ventre a noite toda.

-Não, você sabe a única coisa que desejo.

Irma se arma de toda força de vontade para não cair nos violeiro e tentar manter em sua mente que ele fala o que a pessoa precisa ouvir. Ouvir da boca que agora cantava a música favorita de seu cunhado que ela era seu único desejo era tentador demais.

Ela até tentou dar atenção para os convidados, mas sempre estava observando a performance de Trindade. Zé estava feliz como nunca e Madeleine parecia acompanhar o sentimento. Quando tocou a música dos dois, era claro como a noite iria terminar, mas para surpresa da antiga Irma, isso não causava nenhum desconforto ou tristeza nela. Quando acabou, o novamente casal agradeceu ao músico e discretamente o fazendeiro informou que iria dobrar o cachê do rapaz.

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